Novidade no PSEI, Licenciatura Intercultural Indígena da Ufopa terá formato bilíngue


Com foco na interculturalidade, curso tem 50 vagas e recebe inscrições até 12 de dezembro. Estudantes indígenas apresentam trabalhos de pesquisa durante evento promovido pelo IFII em 2023
Lenne Santos
Dialogar com os saberes da academia e das comunidades indígenas está entre as habilidades esperadas dos futuros estudantes da Licenciatura Intercultural Indígena (LII), recém-criada pelo Instituto de Formação Interdisciplinar e Intercultural (IFII) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O curso ofertará 50 vagas, em formato bilíngue, no Processo Seletivo Especial Indígena 2025 (PSEI), que está com inscrições abertas até o próximo dia 12.
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Para o primeiro indígena nomeado como professor da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Maike Joel Vieira da Silva (IFII), a Licenciatura Intercultural Indígena é resultado de uma luta antiga dos povos originários da região e surgiu “como uma necessidade de reparação histórica”.
“Esse curso pode representar uma forma de conciliar e, de alguma forma, reconciliar os saberes tradicionais com os saberes acadêmicos, além promover justiça social”, afirmou Maike Joel Vieira da Silva, fazendo referência também ao que chamou de “enorme diversidade social da região Oeste do Pará”.
A reitora da Ufopa, Aldenize Xavier, reconhece a importância dessa licenciatura para a formação de professores na educação indígena.
“Nós criamos o curso para ser esse espaço de formação em licenciatura e para promover e capacitar atores da própria comunidade indígena para atuar nas escolas indígenas, que a gente sabe que têm uma característica bem diferente. A gente espera contribuir com essa formação de professores e, cada vez mais, deixar nos territórios profissionais mais qualificados para fazer a oferta da educação escolar indígena”, disse.
A reitora explicou ainda que o curso será implementado no modelo da Pedagogia da Alternância, ou seja, parte da oferta será na universidade e parte nos territórios. “Este será o primeiro curso regular da Universidade Federal do Oeste do Pará com esse formato, e a gente espera ampliar para muitos outros”.
O público prioritário da Licenciatura Intercultural Indígena são os indígenas que já concluíram o ensino médio e professores das escolas indígenas que ainda não possuem graduação na área. De acordo com o projeto pedagógico do curso (PPC), espera-se que o egresso seja o profissional apto a atuar profissionalmente com “sensibilidade cultural e política nas aldeias, comprometendo-se com os projetos de seu povo, visando a manutenção de sua cultura e tradições para o fortalecimento étnico entre outras habilidades previstas”.
Além das aptidões previstas na resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) nº 04, de 9 de maio de 2024, para os estudantes o curso também foi construído em consonância com a resolução nº 1, de 7 de janeiro de 2015, que institui diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores indígenas em cursos de educação superior e de ensino médio, entre outras legislações.
Nova etapa
De acordo com o professor Raimundo Waldomiro de Sousa, diretor do IFII, assim como a Constituição Federal de 1988 representou o novo paradigma no contexto dos direitos indígenas, a LII marca uma nova etapa na história do instituto e também da Ufopa. “Isso porque os indígenas têm um histórico de luta por conquistas e por manutenção de direitos e, com certeza, os 50 estudantes que vão ingressar nessa licenciatura darão uma contribuição muito grande para a educação escolar indígena em nossa região”, disse.
Raimundo Waldomiro de Sousa lembra que, além da professora Marília Leite, outros docentes também estiveram envolvidos no processo de criação da licenciatura: Euricléia do Rosário Galúcio, atual coordenadora do curso; Itamar Rodrigues Paulino; Luanna Cardoso Oliveira; Maike Joel Vieira da Silva; Marília Fernanda Pereira Leite; e Raimundo Abimael Ferreira dos Santos.
Ele fez questão de citar os participantes indígenas na elaboração do projeto: Pedro Cohco Wai Wai, vice-coordenador do Centro Acadêmico Indígena da Calha Norte (Caican); Robenice de Oliveira Castro, do Departamento de Educação do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA); e Genildo Amâncio Kaba, estudante e coordenador-geral do Coletivo dos Estudantes Indígenas Munduruku do Alto e Médio Tapajós (Ceimamt-Muraycoko).
A licenciatura contará com a infraestrutura dos laboratórios do IFII, entre eles o Laboratório de Aprendizagem Ativa, que serve de espaço para desenvolver atividades e técnicas de ensino, pesquisa e extensão. O espaço físico é utilizado também para as reuniões do IFII e dos cursos nele sediados. Além desse, o Laboratório de Cultura, Identidade e Memória na Amazônia (Cimalab), espaço de atividades de formação e desenvolvimento de habilidades e competências para o trato com a cultura amazônida.
“É mais um curso para a região que vai impactar principalmente a educação escolar indígena. Essas 50 vagas vão ser muito bem preenchidas porque ainda temos na educação escolar indígena professores que ainda não têm ensino superior”, disse a professora Luanna Cardoso Oliveira Arapiun, que integra o Núcleo Docente Estruturante (NDE).
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