Pesquisa da UFSC avalia a relação da prática de esportes com o controle do diabetes

Diante das complicações causadas pela diabetes, doença crônica na qual o organismo não produz ou não adere à insulina, a atividade física pode ser uma opção para manter o nível de glicemia. Em uma pesquisa da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), 38 voluntários que convivem com a diabetes tipo 2 estão participando da Aled (Aquatic and Land Exercise for Diabetes), cujo objetivo é mapear os efeitos da prática esportiva na faixa etária dos 45 aos 80 anos.

Na foto, mulher em piscina. Ela participa de pesquisa da UFSC.

Além da melhora na saúde, Simoni percebeu mudança no humor ao participar de pesquisa da UFSC – Foto: Germano Rorato/ND

Com duração de seis meses, os participantes passaram por uma triagem. A etapa seguinte foi o sorteio e a divisão em grupos, de acordo com a modalidade de treino, variando entre atividades na água, com hidroginástica, e na terra, com musculação e esteira.

Combinando treinamento aeróbico e de força muscular, a pesquisa da UFSC tem como diferencial a durabilidade, já que a maioria das pesquisas foram aplicadas com menos tempo de duração.

“Além do treinamento, os voluntários participam de avaliações sanguíneas, funcionais, cardiovasculares e de composição corporal”, diz o professor de educação física e líder do GPEC (Grupo de Pesquisa em Exercício Clínico), Rodrigo Sudatti Delevatti.

Para Getulio, prática de musculação e esteira deu injeção de ânimo e disposição para o dia a dia – Foto: Germano Rorato/ND

A estimativa é que o resultado do estudo seja divulgado no próximo ano, quando mais uma turma participará. Entretanto, os dados preliminares indicam evolução em alguns quesitos, com destaque para a turma que está treinando na água.

“Apontam melhora significativa na capacidade funcional, com aumento de força e resistência muscular, capacidade aeróbica e mobilidade funcional e flexibilidade”, avalia Delevatti.

Doença atinge 10,2% dos brasileiros

De acordo com dados da pesquisa Vigitel Brasil 2023 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), a patologia atinge 10,2% da população brasileira, o que reforça a importância do acompanhamento, como explica a gerente do projeto, Larissa dos Santos Leonel.

“Verifica os efeitos do treinamento na saúde. Bioquímicos, capacidade funcional, composição corporal e força”

Para quem está participando do estudo, como a terapeuta holística e empresária Simoni Estefânia Rochinski Vieira, 56, além do cuidado com a doença, foi possível observar uma melhora no humor e na mobilidade.

“Esse projeto é incrível, traz vida e faz com que tenhamos consciência do nosso corpo, dos cuidados com a saúde. Também temos a interação com outras pessoas, e na nossa idade, é tão gostoso estar compartilhando, conhecendo gente nova”, considera.

No caso do aposentado Getulio Della Justina, 68, que convive com a diabetes há 16 anos, os resultados iniciais foram sutis, mas logo começaram a surgir, incluindo a agilidade no pensamento.

“Parece que tomei uma injeção de ânimo, reacendeu a vontade e a disposição para todas as tarefas do dia a dia. Os controles de glicemia e pressão arterial melhoraram significativamente”

Pesquisa da UFSC tem acompanhamento multidisciplinar

Além do auxílio na prática esportiva, os participantes recebem apoio nutricional e endócrino. No caso da segunda especialidade, a equipe faz atendimentos pontuais no Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, avaliando critérios de inclusão ou demandas da pesquisa, como menciona a professora associada da UFSC e médica endocrinologista, Simone Van de Sande Lee.

“Há poucos estudos comparando diferentes modalidades de exercício, como esse que avaliará de forma comparativa os efeitos. Os resultados permitirão entender se existem diferenças e se determinados exercícios podem trazer mais benefícios”

Grupo de voluntários de pesquisa da UFSC participa de aulas de hidroginástica e faz exames regularmente para avaliar resultados – Foto: Germano Rorato/ND

A profissional pontua que a doença pode causar sintomas como sede excessiva e embaçamento visual.

“Especificamente para pessoas com diabetes, a atividade física é recomendada para auxiliar no controle da glicemia, para a diminuição do risco de doenças cardiovasculares e para a melhora da saúde”

O olhar atento às necessidades foi um diferencial para quem participa do estudo.

“Quando temos algum tipo de comorbidade ou qualquer coisa que seja diferente, às vezes, recebemos muito julgamento. Não fomos tratados com julgamento, e sim com cuidado. Me sinto acolhida”, explica Simoni.

Serão abertas as inscrições para mais uma turma de voluntários em 2025. Para participar, é preciso ter diabetes tipo 2 e ter entre 45 e 80 anos. O contato com o grupo pode ser feito pelo WhatsApp (48) 996542483 ou pelo e-mail [email protected].

Aplicativo auxilia no atendimento de pacientes com diabetes

No GESPI, laboratório vinculado às linhas de mestrado e doutorado profissional da UFSC, estão sendo desenvolvidas ferramentas que facilitam o atendimento e triagem.

Também em parceria com o Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, há um projeto de extensão e pesquisa focado na educação e mapeamento dos pacientes. Durante o tratamento ou após a alta, eles recebem folders e assistem vídeos para aprender sobre os cuidados necessários.

“Percebemos que muitos idosos agravam o quadro de saúde por complicação, desconhecimento do autocuidado. Aplicam errado a insulina e não sabem a importância de cuidar dos pés”, conta a professora de enfermagem da UFSC, Melissa Orlandi Honório Locks.

Outra solução é um instrumento que auxilia na visita domiciliar e na identificação precoce, com uma nota que contribui com a avaliação de risco para lesões nos pés.

“Durante a consulta, o enfermeiro vai fazendo perguntas e selecionando as alterações. Ao final, o próprio dispositivo calcula um score”

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