Brasil cresce no PIB, mas sinais de desaceleração expõem fragilidades

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil surpreendeu positivamente ao crescer 1,4% no primeiro trimestre de 2025, elevando o país ao 5º lugar no ranking global de crescimento da Austin Rating. No entanto, outros indicadores vêm emitindo sinais de alerta: o índice PMI composto segue abaixo da linha de expansão e a produção industrial de abril registrou virtual estagnação. A leitura desses dados aparentemente contraditórios ajuda a entender uma dinâmica mais complexa — e estruturalmente frágil — da economia brasileira.

Para o economista Caio Augusto, esse descompasso revela que o crescimento recente da economia do Brasil está menos ancorado em bases duradouras e mais apoiado em fatores pontuais, como o desempenho recorde do agronegócio. “Quando temos uma safra excepcional, há um transbordamento de renda que circula pela economia de forma ampla, o que é positivo. Mas parte relevante disso vira consumo imediato e não se converte em investimento produtivo. Isso não gera sustentação de longo prazo”, explica.

No Brasil, PIB forte, mas sem alicerce duradouro

A expansão do PIB, nesse contexto, mascara uma economia que continua vulnerável à volatilidade. “O Brasil tem momentos de crescimento que parecem sólidos, mas que rapidamente se desfazem. Cresce dois, três anos — e depois mergulha em nova crise”, afirma Caio. O que falta, segundo ele, são mudanças estruturais, com estímulo ao investimento, produtividade e inserção global mais competitiva.

Essa fragilidade fica ainda mais evidente quando se observa que o PMI de serviços — indicador relevante em um país onde o setor representa cerca de 70% do PIB — subiu de 48,9 para 49,6 pontos, mas ainda permanece abaixo da marca de 50, o que sinaliza contração da atividade. “Esse dado mostra uma desaceleração gradual, embora a economia siga resiliente graças ao setor agropecuário. Mas isso tem prazo de validade”, alerta o economista.

Selic, juros reais e risco de freio na economia do Brasil

Com os juros reais em patamar elevado, o segundo semestre deve ser marcado por uma desaceleração mais clara, segundo Caio. “A safra recorde não se repete todo ano. E os efeitos do juro real de 8% ao ano vão começar a aparecer com mais intensidade. A economia vai perder tração”, projeta.

Na visão dele, esse cenário deve influenciar a decisão do Banco Central do Brasil. “A Selic deve subir mais 25 pontos-base, chegando a 15%, e permanecer nesse patamar até que sinais mais robustos de desaceleração justifiquem alguma flexibilização. O BC precisa sinalizar firmeza, mas também prudência.

Apesar das preocupações com a economia mundial, especialmente a desaceleração nos Estados Unidos e na China, Caio Augusto vê causas mais domésticas para a perda de fôlego da indústria. “A estrutura produtiva brasileira é pouco conectada ao comércio internacional. Somos uma economia relativamente fechada, então o impacto externo é limitado.”

O problema, aponta ele, é interno: “Com juros elevados, o investimento se torna inviável. A maior parte das empresas industriais não busca competitividade global, e prefere viver protegida por tarifas e subsídios. Há exceções, como WEG e Embraer, mas são casos isolados.

Essa falta de integração e de estímulo à produtividade compromete a capacidade de a indústria brasileira contribuir de forma robusta ao crescimento. “Sem investimento em capital fixo, inovação e abertura comercial, a economia seguirá dependente de choques positivos esporádicos — como o agro — para crescer.

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