“Não gostava da ideia”, diz Galípolo sobre aumento do IOF

O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, disse nesta 6ª feira (23.mai.2025), que “não gostava da ideia” de aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) como forma de política de ajuste fiscal, mas que não negociou o tema com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reuniões antes do anúncio de 5ª feira (22.mai.2025).

“Em debates anteriores, há um tempo atrás, em qualquer momento que se discutia o IOF como alternativa para persecução da meta, eu, pessoalmente, nunca tive muita simpatia pela ideia. Eu não gostava da ideia”, disse.

Ele declarou que a reunião de 3ª feira (20.mai) com Haddad foi para tratar sobre a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que amplia a autonomia do Banco Central. Afirmou que outros assuntos foram abordados no encontro, mas sem o detalhamento ou negociação das medidas fiscais.

Segundo Galípolo, Haddad antecipou para ele o congelamento de R$ 31 bilhões no Orçamento de 2025. O presidente do BC elogiou o ministro da Fazenda por ter voltado atrás na medida do IOF.

Galípolo participou por videoconferência de “11º Seminário Anual de Política Monetária”, promovido pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

IOF

A equipe econômica aumentou a cobrança do IOF, o que resultaria em arrecadação de R$ 20,5 bilhões em 2025. A medida foi derrubada depois de reação negativa de agentes financeiros. O ex-diretor do Banco Central Tony Volpon disse que a medida seria um “controle cambial”.

A principal alteração é que a alíquota para aplicação de investimentos de fundos nacionais no exterior volta a ser como era antes. Ou seja, não haverá cobrança na modalidade.

Haddad disse nesta 6ª feira (23.mai), em entrevista a jornalistas, que mudou de ideia depois de alertas de agentes do mercado financeiro.

REUNIÕES NA FAZENDA

Haddad disse também que Galípolo não pode responder por temas de responsabilidade do Ministério da Fazenda. Afirmou que conversa com Galípolo semanalmente, mas que a “minúcia” do decreto sobre o IOF não foi analisada de forma criteriosa pelo Banco Central.

“Troca de informações, houve […] Então, é só qualificar o nível da conversa que houve com ele para evitar que ele tenha que responder por uma coisa que é atribuição da Fazenda”, declarou Haddad.

O secretário-executivo Dario Durigan disse na 5ª feira (22.mai) que Haddad “tratou com o presidente do Banco Central sobre esse tema” das cobranças do tributo. Depois, no X (ex-Twitter), o ministro publicou que nenhuma das medidas fiscais anunciadas “foi negociada com o BC”.

POLÍTICA MONETÁRIA

O BC aumentou a taxa básica, a Selic, para 14,75% ao ano em maio, o maior patamar desde 2006. O motivo é a inflação e as expectativas futuras acima do intervalo permitido pela meta de 3%, que é de 1,5% a 4,5%. A taxa do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 5,53% no acumulado de 12 meses até abril.

A autoridade monetária afirmou que a desaceleração é “elemento necessário” para levar a inflação à meta. Nesta 6ª feira (23.mai), Galípolo declarou que as expectativas para a inflação estão desancoradas por “tempo mais longo” e que esse processo acentuou no fim de 2024.

Segundo ele, o componente doméstico tem um peso maior na dinâmica da desancoragem das expectativas. Afirmou que o crescimento econômico tem surpreendido os agentes financeiros e que a dinâmica doméstica explica a ação do BC em acelerar o aperto monetário.

O Copom (Comitê de Política Monetária) disse que o melhor desempenho do mercado de trabalho contribui para o aumento da renda e eleva o consumo.

O colegiado mencionou há “ganhos reais acima da produtividade”. A autoridade monetária disse ainda que a “inflexão” no mercado de trabalho é parte do mecanismo de política monetária.

O BC sinalizou que o desaquecimento do mercado de trabalho é um passo para uma futura queda da taxa Selic. As projeções dos agentes financeiros indicam que o juro base cairá só em 2026.

Os dados da massa de rendimento demonstram um enfraquecimento ainda incipiente, o que corrobora o discurso de Galípolo, de que a taxa Selic ficará alta por período “bastante prolongado”.

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