Ex-comandante da Aeronáutica confirma ameaça de prisão a Bolsonaro

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Júnior confirmou nesta 4ª feira (21.mai.2025) que o ex-comandante do Exército Freire Gomes disse ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022 que ele poderia ser preso se adotasse a GLO (Garantia de Lei e da Ordem).

“Eu acompanhei a repercussão do depoimento de Freire Gomes. Ele é uma pessoa polida e educada. Ele não falou com agressividade com o presidente da República. Ele não faria isso. Mas ele falou com muita calma: ‘Se fizer isso, vou ter que te prender”, declarou em depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal).

Baptista Júnior é uma das testemunhas convocadas a depor na ação por tentativa de golpe no Supremo. Ele foi indicado como testemunha da acusação, feita pela PGR (Procuradoria Geral da República), do ex-comandante da Marinha Almir Garnier, de Bolsonaro e do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira.

O brigadeiro negou que a versão do depoimento de Freire Gomes na 2ª feira (19.mai) tenha sido diferente da versão dada à PF (Polícia Federal). “Ele não deu voz de prisão ao presidente, não foi assim. Mas ele falou, por hipótese, que poderia prender o presidente”, disse.

O depoimento do brigadeiro é um dos mais importantes, porque foi usado como base para a denúncia oferecida pelo Ministério Público.

Baptista Júnior explicou que a ameaça de prisão se deu em uma reunião em novembro de 2022 em que se discutia um relatório sobre a transparência nas eleições, que estava sob responsabilidade de uma comissão técnica do Ministério da Defesa e tinha a participação do corpo técnico das Forças Armadas.

Nesses encontros, o brigadeiro afirmou que a possibilidade de uma GLO era discutida, a partir da “avaliação da conjuntura” da sociedade e com o objetivo de “evitar uma convulsão social”.

“As Forças Armadas trabalham com a avaliação da conjuntura. Nós estávamos vendo as pessoas completamente radicalizadas, então trabalhamos com a hipótese de GLO depois do dia 31 [de novembro]. Com os caminhoneiros e as mobilizações, o nosso medo era ser necessário uma GLO da maneira estabelecida pelo artigo 142, por iniciativa dos Poderes e de forma pontual para resolver o problema. Era com isso que os comandantes trabalhavam”, declarou em seu depoimento.

No entanto, o brigadeiro afirmou que em determinado momento durante as reuniões percebeu que “o objetivo dessas medidas de exceção era impedir a posse do candidato eleito”.

Segundo Baptista Júnior, o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira apresentou, em reunião em 14 de dezembro de 2022, um documento com outras medidas de exceção, como Estado de Sítio e Estado de Defesa. Ao STF, o brigadeiro afirmou que questionou se o objetivo era impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que, ao entender que sim, deixou o local.

“O ministro Paulo Sérgio disse ‘trouxe aqui um documento para vocês verem e para vocês analisarem’. Eu logicamente perguntei a ele se estava na mesa, em um plástico, um documento que previa a não assunção do presidente eleito”, disse.

O ex-comandante relatou que Paulo Sérgio ficou em silêncio e que, a partir disso, confirmou a intenção das medidas.

“Eu falei: ‘não admito sequer receber este documento, não ficarei aqui’. […] Eu tinha um ponto de corte. Eu tinha muito respeito pelos meus colegas. Mas eu tinha um ponto de corte que era no dia 1° de janeiro, o candidato eleito vai assumir. […] O general Freire Gomes também condenou a possibilidade de avaliarmos aquilo. O Garnier não falou nada e eu saí da sala não sei mais o que houve”, declarou.

APOIO DA MARINHA

Em relação ao apoio da Marinha, Baptista Júnior disse ao STF que sentia uma posição “passiva” do almirante Almir Garnier. Segundo a denúncia da PGR, os comandantes da Aeronáutica e do Exército declararam à PF durante as investigações que Garnier colocou as tropas da força à disposição de Bolsonaro durante a discussão das medidas.

Segundo Baptista Junior, Garnier, réu na ação penal por tentativa de golpe, “não estava na mesma sintonia e postura que eu e Freire Gomes”.

“Em uma dessas reuniões, eu tenho uma visão muito passiva do almirante. Lembro que [o ministro] Paulo Sérgio, Freire Gomes e eu debatíamos mais e tentávamos demover mais o presidente. E em determinado momento, Garnier disse que as tropas da Marinha estavam à disposição do presidente”, declarou.

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