Entenda o que fez Ednaldo Rodrigues ser afastado da CBF

O baiano Ednaldo Rodrigues, 71 anos, foi afastado da presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). A decisão, tomada nesta quinta-feira (15.mai.2025) pelo desembargador Gabriel Zefiro, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), baseia-se na suspeita de falsificação da assinatura do vice-presidente Coronel Nunes em um documento que reforçava o poder de Ednaldo dentro da entidade. 

Com o afastamento, o comando interino da confederação fica com o vice-presidente Fernando Sarney. Ele será responsável por conduzir o processo para novas eleições. Sarney foi um dos dirigentes que recorreram à Justiça para pedir a saída de Ednaldo. Eis a íntegra do documento (PDF – 270 kB).

Ednaldo Rodrigues assumiu interinamente a presidência da CBF em 2021, depois do afastamento de Rogério Caboclo, denunciado por uma funcionária por assédio sexual e moral. Em março de 2022, Ednaldo foi eleito para o cargo e se tornou o 1º presidente negro e nordestino da história da entidade.

O processo eleitoral, no entanto, foi contestado. Em dezembro de 2023, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) apontou irregularidades no pleito e anulou a eleição. A decisão foi suspensa em janeiro de 2024 pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para evitar interferência do Judiciário em uma entidade privada, o que poderia levar a sanções da FIFA contra o Brasil.

Em fevereiro de 2025, o STF homologou um acordo entre a CBF, a Federação Mineira de Futebol e ex-dirigentes da entidade, reconhecendo a legalidade da eleição de 2022 e estendendo o atual mandato de Ednaldo até 2026. Em março, ele foi reeleito sem oposição para mais um mandato, que iria até 2030.

Um fato anterior, porém, foi resgatado. Para que o acordo homologado pelo STF tivesse validade, era necessário o aval de Coronel Nunes — vice-presidente mais idoso e, segundo o estatuto, quem deveria ter assumido interinamente a presidência em 2021 após o afastamento de Rogério Caboclo. A assinatura de Nunes era, portanto, fundamental para legitimar o acordo que formalizava a permanência de Ednaldo no cargo.

Ex-dirigentes questionaram a legitimidade da assinatura, já que Nunes, à época com 81 anos e com histórico de problemas de saúde, não teria condições cognitivas de assinar o documento. Suspeitaram de falsificação.

PERÍCIA NA ASSINATURA

Em 2025, o vereador Marcos Dias (Podemos-RJ), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara Municipal do Rio, solicitou uma perícia para avaliar se a assinatura era falsa. A análise foi conduzida pela perita grafotécnica Jacqueline Tirotti, que falou ao Poder360 e explicou os métodos utilizados e as conclusões do exame.

Segundo Tirotti, o método aplicado foi o grafocinético, que se baseia nos movimentos que originam o gesto gráfico, e não apenas em características isoladas da assinatura. O exame consistiu em comparar os grafismos questionados (presentes no acordo) com 7 padrões de assinatura de Coronel Nunes, produzidos entre 2015 e 2023. Esses documentos incluem procurações, contratos e registros da OAB.

A perita afirmou que as assinaturas analisadas nos documentos datados de janeiro de 2025 —um acordo e uma procuração— divergem do punho periciado de Nunes  “em características personalíssimas e imperceptíveis”. Por isso, concluiu pela impossibilidade de vinculação das assinaturas a ele.

Além disso, Jacqueline apontou a fragilidade do documento analisado, destacando a ausência de rubricas e fixação das folhas, o que, segundo ela, pode facilitar trocas de páginas e alterações de conteúdo.

A perita também esclareceu que não houve contato com a CBF nem com outras partes interessadas. A perícia, disse, foi solicitada por Marcos Dias, por meio de seu advogado. Jacqueline explicou que o documento produzido foi um parecer técnico, e não um laudo. O parecer, por ser solicitado por uma parte particular, não permite diligências ou requisição de documentos como no caso de perícias judiciais. Ainda assim, pode ter impacto legal:

“Há juízes que aceitam o parecer como prova; outros solicitam a produção de laudo judicial por perito nomeado pelo juiz”, afirmou.

Não entendo de futebol, não torço para nenhum clube e não acompanho o assunto. Por isso, ao receber a perícia, tratei como faço com todas que chegam ao escritório: com isenção, sem considerar quem são as partes envolvidas, focada exclusivamente na verdade dos fatos.”

TJRJ CONFIRMA FALSIFICAÇÃO

A decisão da 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concluiu que o acordo que sustentava a atual administração da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é nulo. Uma perícia confirmou o que Jacqueline atestou: a assinatura atribuída a Coronel Nunes no acordo não correspondia ao seu punho.

Além disso, segundo o TJRJ, o Coronel Nunes não tinha capacidade mental para manifestar sua vontade de forma livre e consciente por causa de um câncer cerebral diagnosticado desde 2018. Diante disso, o tribunal determinou o afastamento da diretoria da CBF e designou Fernando Sarney, vice-presidente mais antigo, como interventor responsável por convocar novas eleições dentro do prazo estatutário.

Marcos Dias celebrou o afastamento de Ednaldo assim que a notícia saiu. “A Justiça reconheceu que houve irregularidade grave e que a assinatura do Coronel Nunes não tem validade legal”, disse. “Essa decisão não é política, é jurídica, e confirma tudo o que levamos às autoridades. Agora, a CBF precisa ser devolvida à transparência e ao respeito. A era da blindagem e do abuso começou a cair.”

A CBF pode recorrer, mas, por ora, está obrigada a realizar novas eleições.

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