PlatôBR: Incerteza do tarifaço de Trump dificulta projeções no governo e no setor privado

O economista-chefe de uma das maiores instituições financeiras americanas chegou para uma reunião com clientes recentemente sem a tradicional apresentação em slides recheados de números e gráficos. Para desfazer o espanto, explicou: posso falar sobre os riscos e a direção que achamos mais provável, mas não tenho capacidade de estimar números.

A situação relatada ao PlatôBR por um dos presentes ao encontro ilustra bem a dificuldade de analistas, economistas e empresários em fazer projeções tamanha a incerteza que o presidente americano Donald Trump esparramou no planeta com sua política de sobretaxar todos os parceiros comerciais até então.

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“Na dúvida, ninguém mexe em nada e todos ficam com muita cautela”, avalia um integrante do governo brasileiro, ressaltando que a equipe econômica também enfrenta esse problema. “O grau de confiança nos cenários futuros traçados atualmente é muito menor do que era há um mês”, diz. “O problema é que não há cenário alternativo porque tudo muda numa velocidade alucinante”, complementa.

O passado recente costuma ser um ponto de partida para as projeções dos analistas. No entanto, em momentos de crise como a atual, esse histórico deixa de ser referência porque há uma ruptura. Com isso, argumenta o interlocutor oficial, poucos querem se arriscar a atualizar os números, e o melhor caminho é manter os cenários anteriores e esperar mais um pouco. “Olha o Focus”, argumenta. “Ele reflete exatamente isso”, completa, referindo-se à pesquisa semanal feita com analistas do mercado financeiro sobre os principais indicadores econômicos, como nível de atividade e de preços.

Há um mês, a estimativa para o IPCA, índice referência para inflação, em 2025, estava inalterada e teve uma pequena queda na pesquisa desta semana. A situação é praticamente a mesma com as projeções para o PIB. “Hoje, não dá para mensurar com certo grau de certeza o que acontecerá daqui a 6 meses”, afirma o interlocutor.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) se arriscou a rever a perspectiva econômica mundial na última terça-feira, 22. A redução de cerca de 1 ponto percentual na projeção de crescimento dos Estados Unidos, que ficou em 1,8% para 2025, foi vista com ressalvas. “Pelo tamanho do estrago que Trump está fazendo no mercado consumidor americano, que responde por 70% do PIB dos Estados Unidos, essa redução do FMI parece estar subestimada”, critica o diretor de um grande banco estrangeiro.

O argumento para sustentar a crítica vem dos efeitos secundários esperados na economia americana com o tarifaço, que misturam: i) queda no consumo da população, que terá a renda reduzida pelo aumento dos preços; ii) menor intenção de produzir das empresas, que vivem problemas com planejamento, fornecimento e consumo; iii) redução das contratações e aumento das demissões em alguns setores.

“Agora, medir isso não tem como. Nenhum modelo comporta tantas variáveis reagindo a um choque de forma confiável”, diz o diretor. “Por isso, é melhor realmente não fazer estimativas e trabalhar com a direção e os riscos que já começam a ser mapeados. Isso é mais honesto”, acrescentou. Para ele, há ainda um agravante que é o receio de retaliação, por parte do governo, dos grandes bancos e fundos americanos. “Se alguém chegar a uma estimativa de queda de 2% do PIB dos Estados Unidos vai ter coragem de divulgar e comprar com uma briga com Trump?”, questiona.

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