Plano de El Salvador para trocar presos é cínica, diz Venezuela

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, rejeitou a proposta do presidente de El Salvador, Nayib Bukele (Novas Ideias), para uma troca de prisioneiros entre os 2 países. Saab classificou a oferta como “cínica” e acusou El Salvador de deter ilegalmente 252 venezuelanos.

O procurador exigiu esclarecimentos sobre quais crimes os detidos são acusados, se compareceram perante um juiz, se têm acesso à defesa legal e se podem contatar familiares. Em comunicado, o órgão chamou Bukele de “neofascista” e afirmou que “o tratamento recebido por venezuelanos nos Estados Unidos e em El Salvador constitui grave violação do direito internacional humanitário e configura crime contra a humanidade”.

A reação responde à proposta feita por Bukele em seu perfil no X (ex-Twitter) no domingo (20.abr.2025) diretamente ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (PSUV). O presidente salvadorenho sugeriu devolver à Venezuela os 252 venezuelanos deportados dos EUA e detidos em El Salvador, em troca da libertação de igual número de pessoas que classificou como “presos políticos” na Venezuela.

Quero propor um acordo humanitário que inclua a repatriação de 100% dos 252 venezuelanos que foram deportados, em troca da libertação e entrega de um número idêntico (252) dos milhares de presos políticos que vocês mantêm”, declarou Bukele.

Entre os prisioneiros propostos para libertação na Venezuela, segundo a agência de notícias Reuters, estão o jornalista Roland Carreno, a advogada de direitos humanos Rocio San Miguel, Rafael Tudares (genro do candidato presidencial venezuelano Edmundo González) e Corina Parisca de Machado (mãe de María Corina Machado, opositora de Maduro).

Bukele também incluiu na proposta a troca de quase 50 detidos de outras nacionalidades, como cidadãos norte-americanos, alemães e franceses. O presidente salvadorenho indicou que o Ministério das Relações Exteriores de seu país enviará uma “correspondência formal” à Venezuela.

A oferta recebeu apoio do enviado especial dos EUA para resposta a reféns, Adam Boehler, que destacou que 10 norte-americanos estão entre os propostos para a troca.

Adam Boehler tweet

Em março de 2025, o governo do presidente norte-americano, Donald Trump (Partido Republicano), deportou cerca de 200 venezuelanos dos EUA para El Salvador, os acusando de serem integrantes da gangue Tren de Aragua. Os EUA pagam US$ 6 milhões a El Salvador para detê-los no Cecot (Centro de Confinamento de Terrorismo), uma prisão de segurança máxima.

O governo venezuelano nega ter prisioneiros políticos e afirma que as pessoas encarceradas foram condenadas por crimes. No entanto, organizações não-governamentais estimam que mais de 800 pessoas estão detidas por razões políticas na Venezuela.

As autoridades venezuelanas, familiares e advogados dos imigrantes também contestam que os deportados pelos EUA tenham vínculos com gangues. Veículos de imprensa norte-americanos que tiveram acesso a documentos do governo Trump também afirmam que a maioria do grupo não possui antecedentes criminais.

No sábado (20.abr.2025), a Suprema Corte dos EUA bloqueou temporariamente o governo Trump de deportar outro grupo de imigrantes venezuelanos acusados de ligações com gangues sob uma lei de tempos de guerra raramente utilizada. A corte emitiu uma suspensão depois de a ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis) solicitar intervenção em caráter de emergência.


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