Taxa de poupança cai em 2024, influenciada pelo deficit fiscal

A taxa de poupança do Brasil atingiu 14,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2024. Representa uma queda em relação aos 15% do ano anterior e continua o ciclo de retração observado desde 2022. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A taxa representa a parcela do PIB relacionada à renda de empresas, de famílias e do governo que não é gasta em consumo final. Seria uma espécie de “acúmulo” que não é efetivamente desembolsado, calculado com base em tudo que foi produzido na economia.

Leia abaixo a evolução do indicador:

Apesar de terem o mesmo nome, o indicador apresentado no infográfico acima não se relaciona com a caderneta de poupança, o investimento de renda fixa.

O atual cenário se dá por alguns fatores centrais:

  • deficits fiscais do governo – o poder público tem gastado mais do que arrecada. O fenômeno puxa a taxa de poupança para baixo, porque as despesas elevadas significam recursos direto para o consumo final;
  • famílias – observa-se o aumento dos gastos em relação à renda. Isso se explica pela economia aquecida em 2024 e nos anos anteriores.

“A poupança é gerada pelo deficit fiscal desses últimos anos e também uma poupança cada vez menor das famílias, que têm aumentado os seus gastos em relação à sua renda”, disse ao Poder360 o economista e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Ecio Costa.

Segundo ele, a maior explicação para a queda na taxa de poupança está relacionada às políticas fiscais do poder público.


Leia também:

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TAXA DE INVESTIMENTO

Outro indicador relevante divulgado pelo IBGE é a taxa de investimento, que subiu para 17% do PIB em 2024. O valor no ano anterior era de 16,4%.

O índice representa a parcela do Produto Interno Bruto direcionada para investimentos. Leia a trajetória no infográfico abaixo:

Segundo Ecio Costa, o fato de essa taxa ter subido e de poupança ter caído representa um problema em potencial: “Tem menos poupança para fazer investimentos”. O especialista avalia que o ideal é que os índices se aproximem.

Para ele, outro dado indicado pelos indicadores mostram que a economia aquecida em 2024 não veio necessariamente de uma forma eficiente. Muito do que foi observado se deu pelos programas de transferências de renda promovidos pelo governo, não por um movimento dinâmico. 

“Esse crescimento que vimos da economia nesses últimos anos vêm muito mais de estímulos fiscais do que necessariamente de retomada de investimentos na economia”, afirmou o economista.

No geral, a alta na economia é comemorada sem entrar em muitos detalhes sobre os indicadores oficiais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua equipe, liderada na economia pelo ministro Fernando Haddad, fizeram postagens em massa sobre o crescimento de 3,4% do PIB em 2024, que veio acima das expectativas iniciais do mercado. 

Como mostrou o Poder360, “welfare state” de quase R$ 400 bilhões por ano com programas sociais e transferências de renda impulsiona a economia, mas impõe desafios para o ajuste das contas públicas.


Leia as principais reportagens do Poder360 sobre o tema:

  • “Welfare state” do Brasil tem ações com ao menos R$ 397 bi por ano
  • 20 de 27 unidades da Federação têm programa de transferência de renda local
  • Há indício de impacto do Bolsa Família no trabalho, diz estudo
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