‘Antissemitismo torna as pessoas cegas e desumaniza os outros’, diz professor da Universidade de Tel Aviv durante evento em SP


Israelense Uriya Shavit, escritor e diretor do Instituto Irwin Cotler da Universidade de Tel Aviv, falou sobre o tema durante palestra na Unibes Cultural. Judeu ortodoxo reza no Muro das Lamentações, em Jerusalém
Reuters
“O antissemitismo torna as pessoas cegas, é uma teoria da conspiração e desumaniza os outros.” Foi o que ressaltou o israelense Uriya Shavit, escritor e diretor do Instituto Irwin Cotler da Universidade de Tel Aviv durante palestra nesta quinta-feira (13) na Unibes Cultural, em São Paulo.
O encontro com Uriya teve como tema “Antissemitismo e Desinformação: Combatendo o Ódio na Era Digital” e foi intermediado por Andréa Kogan, doutora em ciências da religião pela PUC-SP.
O professor citou a definição de antissemitismo da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto adotada a partir de 2016, além de sua relevância e impactos no mundo.
Também foram mencionados estudos de caso sobre a aplicação dessa definição no contexto educacional e institucional, além de estratégias para combater o discurso de ódio.
“O antissemitismo torna as pessoas cegas. É uma mentira, teoria da conspiração. A pergunta é: como lidar com o conflito quando você desumaniza o outro lado? Não há solução para o conflito porque o outro lado não é mais ser humano. Assim, o antissemitismo o torna cego e desumaniza os outros”, disse.
Professor Uriya Shavit, diretor do Instituto Irwin Cotler da Universidade de Tel Aviv, durante palestra nesta quinta-feira (13) na Unibes Cultural, em São Paulo
Paola Patriarca/g1
Uriya afirmou que o único objetivo do grupo terrorista Hamas é a destruição do Estado de Israel. E enfatizou como o estatuto de fundação do grupo é antissemita.
“Existe um aspecto sobre o 7 de outubro de 2023. Em termos estratégicos, o objetivo do Hamas do dia 1 é o mesmo e não mudou. O objetivo é ver a total eliminação e aniquilação do Estado de Israel. É um evento totalitário, e as pessoas perguntam por que não podem negociar. Mas se pensarmos o que o Hamas buscou, foi sempre a destruição do Estado de Israel”, destacou.
“Aqueles que acreditam nos direitos humanos, que os palestinos devem permanecer no teritório deles, deveriam querer a destruição do Hamas. As pessoas que são pró-Hamas, o interesse de verdade é que o Estado de Israel acabe. As noções antissemíticas estão embrenhadas nos discursos do Hamas. Um dos aspectos do Hamas, além da agenda totalitária, é o antissemita.”
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O professor destacou também um artigo escrito por alunos da Universidade Harvard em que os autores diziam ser a favor de boicotar Israel.
“Harvard é uma universidade de elite. E me incomodou um texto feito por alunos. Um editoral em que declaram que são a favor do boicote a Israel. O que mais me incomodou não foi o boicote. Foi como era autoindulgente. Eles escreveram em prol dos palestinos. O texto era superficial, sem aprofundamento histórico. Se esse é o nível de Harvard, o que vão se tornar os Estados Unidos?”
Ódio nas redes sociais
Durante a palestra, o professor analisou postagens nas redes sociais para explicar quais casos seriam de antissemitismo e quais não. Um deles era sobre um influenciador brasileiro que rasgou a bandeira de Israel durante o carnaval de Salvador e a jogou no lixo. A bandeira estava com um grupo de pessoas.
Durante análise, ele ressaltou: “As mídias sociais têm que ser mudadas radicalmente. Daqui a 40 anos as pessoas estarão chocadas por terem sido parte deste experimento”.
Palestra com o israelense Uriya Shavit, escritor e diretor do Instituto Irwin Cotler da Universidade de Tel Aviv,
Paola Patriarca/g1
Uriya também falou sobre a gravidade de disseminar informações falsas e discursos de ódio na era digital.
“Há alguns anos, as pessoas achavam que o homem não tinha ido até a Lua, que Elvis [Presley] não estava morto. Mas havia editores que, se eu escrevesse 50 anos atrás que eu tinha visto Elvis saindo de um shopping, ninguém publicaria. Hoje qualquer coisa é publicada, inclusive mentiras. E as pessoas não conseguem distinguir a verdade da mentira”, disse.
“Importante destacar que as pessoas começaram a viver em uma bolha. Se disserem que os judeus espalharam a Covid-19 e escutarem várias vezes isso, eles acharão que é verdade. Ódio é sempre perigoso e só é permitido porque as pessoas são indiferentes. As pessoas que são maldosas só conseguem fazer porque a maioria permanece indiferente.”
Professor Uriya Shavit, diretor do Instituto Irwin Cotler da Universidade de Tel Aviv, durante palestra nesta quinta-feira (13) na Unibes Cultural, em São Paulo
Paola Patriarca/g1
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