Deputado do PSOL propõe alterar o nome da rodovia Castello Branco para Eunice Paiva

A proposta de mudança do nome da rodovia SP-280 está em debate na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Atualmente denominada Castello Branco, a via pode passar a se chamar Eunice Paiva, caso o projeto seja aprovado. A iniciativa parte do deputado Guilherme Cortez, líder da Federação PSOL REDE na Alesp.

Pontos Principais:

  • Projeto de lei propõe mudar o nome da rodovia SP-280, de Castello Branco para Eunice Paiva.
  • A rodovia conecta a Grande São Paulo à região central, passando por cidades como Itu e Sorocaba.
  • Castello Branco foi o primeiro presidente da ditadura militar, enquanto Eunice Paiva é símbolo de resistência aos abusos do regime.
  • A mudança de nome visa reconfigurar a memória pública, homenageando figuras que lutaram pela democracia e direitos humanos.

A rodovia SP-280, desde sua inauguração em 1968, homenageia o primeiro presidente do regime militar brasileiro, Humberto Castello Branco. No entanto, há um movimento que busca a ressignificação de espaços públicos nomeados em referência a figuras associadas à ditadura. O projeto pretende substituir essa homenagem por Eunice Paiva, advogada e defensora dos direitos humanos, esposa do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido durante o regime militar.

Um projeto na Alesp sugere mudar o nome da rodovia SP-280, de Castello Branco para Eunice Paiva, como forma de refletir sobre a importância de revisar homenagens a figuras da ditadura - Foto: Pablo Jacob/AgênciaSP
Um projeto na Alesp sugere mudar o nome da rodovia SP-280, de Castello Branco para Eunice Paiva, como forma de refletir sobre a importância de revisar homenagens a figuras da ditadura – Foto: Pablo Jacob/AgênciaSP

A discussão sobre a renomeação ocorre em meio ao reconhecimento internacional da história da família Paiva. O filme “Ainda Estou Aqui”, que aborda o impacto do desaparecimento de Rubens Paiva na vida de seus familiares, recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, tornando-se o primeiro filme brasileiro a conquistar a estatueta nessa categoria.

Detalhes do projeto de lei

O projeto de lei foi protocolado pelo deputado Guilherme Cortez e busca modificar a denominação oficial da rodovia estadual. Segundo o parlamentar, a iniciativa faz parte de um esforço para reavaliar homenagens a figuras históricas ligadas à repressão durante o regime militar.

A justificativa apresentada destaca que Eunice Paiva teve uma trajetória marcada pela luta por justiça e direitos humanos. Após o desaparecimento de seu marido, ela dedicou sua vida à defesa dos perseguidos políticos e à busca por informações sobre os desaparecidos da ditadura.

O texto argumenta que é necessário reconfigurar a memória coletiva e substituir nomes de vias, prédios públicos e monumentos que fazem referência a agentes do regime autoritário. O objetivo é valorizar personagens que contribuíram para a democracia e para a defesa dos direitos humanos.

Histórico da rodovia SP-280

A rodovia SP-280 tem 318 km de extensão e liga a Grande São Paulo à região central do estado. Ao longo de seu trajeto, passa por diversas cidades, incluindo Itu e Sorocaba. Desde sua inauguração, a via leva o nome de Castello Branco, primeiro presidente do regime militar instaurado em 1964.

O nome da rodovia reflete uma prática comum na época de sua construção, quando diversas vias, edifícios e espaços públicos receberam denominações em homenagem a figuras ligadas ao regime. Ao longo das décadas, esse modelo de nomeação tem sido questionado por setores da sociedade que defendem a revisão de homenagens a agentes da ditadura.

O projeto de lei em tramitação na Alesp insere-se nesse contexto de revisitação histórica e busca alterar a nomenclatura da SP-280 como parte de um movimento mais amplo de ressignificação dos espaços públicos.

Iniciativas semelhantes na cidade de São Paulo

Além do projeto referente à rodovia SP-280, há outras iniciativas em andamento na cidade de São Paulo com o mesmo objetivo. Na Câmara Municipal, o vereador Nabil Bonduki (PT) apresentou um projeto de lei para modificar nomes de ruas e praças que homenageiam figuras da ditadura.

Entre as mudanças propostas, a Praça Augusto Rademaker Grunewald, que leva o nome de um almirante da Marinha e ex-vice-presidente do governo Médici, passaria a se chamar Praça Eunice Paiva. Já a Avenida Presidente Castelo Branco, uma das pistas que compõem a Marginal Tietê, teria o nome alterado para Avenida Engenheiro Rubens Paiva.

Essas propostas seguem a mesma linha de revisão histórica e memória coletiva, buscando dar visibilidade a personagens que tiveram atuação significativa na luta pelos direitos humanos e pela democracia.

Repercussão e próximos passos

A proposta de mudança do nome da SP-280 ainda passará por debate na Alesp e deverá enfrentar resistência de setores que defendem a manutenção das homenagens históricas. O trâmite inclui análise em comissões temáticas antes da votação em plenário.

A discussão ocorre em um momento em que o Brasil revisita sua memória sobre o regime militar, com iniciativas que questionam homenagens a figuras associadas à repressão. Movimentos de direitos humanos e entidades da sociedade civil têm apoiado as mudanças propostas.

Caso aprovado, o projeto levará à substituição do nome da rodovia nos documentos oficiais e nas sinalizações ao longo da via. A mudança poderá ser acompanhada de campanhas educativas para informar a população sobre a nova nomenclatura e seu significado.

Quem foi Castelo Branco?

Posse de Castelo Branco como Presidente da República, 1964.
Posse de Castelo Branco como Presidente da República, 1964.

Humberto de Alencar Castello Branco foi um militar e político brasileiro que ocupou a Presidência da República entre 1964 e 1967, sendo o primeiro governante do regime militar instaurado após o golpe de 31 de março de 1964. General de carreira do Exército Brasileiro, participou da Segunda Guerra Mundial como integrante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e, anos depois, tornou-se chefe do Estado-Maior do Exército, posição de destaque na estrutura militar do país.

Castello Branco assumiu a presidência em 15 de abril de 1964, após a deposição do então presidente João Goulart. Durante seu governo, foram implementadas medidas que consolidaram o regime militar, como a edição do Ato Institucional nº 2, que extinguiu partidos políticos tradicionais e abriu caminho para o bipartidarismo no Brasil. Além disso, seu governo aprovou o Ato Institucional nº 3, que estabeleceu eleições indiretas para governadores e prefeitos de capitais, aumentando o controle militar sobre as instituições políticas.

Na economia, sua gestão promoveu reformas estruturais, como a criação do Banco Central do Brasil e do Conselho Monetário Nacional, além da implementação do Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG), que buscava o controle da inflação e o crescimento econômico por meio de medidas de ajuste fiscal e reformas trabalhistas. Castello Branco também fortaleceu as relações do Brasil com os Estados Unidos, alinhando-se à política externa norte-americana no contexto da Guerra Fria.

Castello Branco deixou a presidência em 15 de março de 1967, sendo sucedido pelo general Artur da Costa e Silva. Poucos meses depois, em 18 de julho de 1967, faleceu em um acidente aéreo no Ceará, quando o avião em que viajava colidiu com outra aeronave. Seu governo é lembrado como o período inicial da ditadura militar, que durou até 1985, marcado pela adoção de medidas institucionais que restringiram a democracia e aumentaram a influência dos militares na política brasileira.

Quem foi Eunice Paiva?

Eunice Paiva com o atestado de óbido do marido - Foto: Reprodução/ Agencia Gov
Eunice Paiva com o atestado de óbido do marido – Foto: Reprodução/ Agencia Gov

Eunice Paiva foi uma advogada e ativista brasileira reconhecida por sua atuação na defesa dos direitos humanos, especialmente durante e após o regime militar no Brasil. Seu envolvimento com a causa se intensificou após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, ex-deputado federal cassado pelo golpe militar de 1964 e sequestrado por agentes da repressão em 1971. Diante da ausência de informações sobre seu paradeiro e da falta de respostas do governo, Eunice iniciou uma luta incansável pela verdade e pela memória dos desaparecidos políticos.

Após a morte de Rubens Paiva, Eunice precisou enfrentar dificuldades financeiras e pessoais, criando os filhos sozinha em um período de forte repressão política. Mesmo sob vigilância dos órgãos de segurança, continuou sua atuação jurídica, prestando apoio a famílias de presos e desaparecidos políticos. Sua atuação na defesa dos direitos humanos ganhou destaque ao longo das décadas seguintes, consolidando-se como uma referência na luta pela democracia e pela justiça.

Nos anos 1980, Eunice se dedicou à causa dos povos indígenas, atuando na defesa de seus direitos territoriais e culturais. Durante a Assembleia Constituinte de 1987-1988, participou ativamente dos debates que resultaram na inclusão de garantias constitucionais para os povos indígenas, como o reconhecimento de suas terras tradicionais. Seu compromisso com os direitos humanos se estendeu também para outras áreas, contribuindo para a construção de um país mais democrático e inclusivo.

Eunice Paiva faleceu em 2018, deixando um legado de luta e resistência. Sua trajetória é lembrada por sua coragem em enfrentar a repressão e por seu papel fundamental na busca por justiça para as vítimas da ditadura. Além disso, sua atuação na defesa dos direitos indígenas ajudou a consolidar avanços jurídicos que ainda hoje impactam a legislação brasileira.

Fonte: Wikipedia, CNN e Cartacapital.

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