Por dentro da lente: Matheus Firmino e os bastidores da fotografia de corrida no Brasil

A corrida começa muito antes do primeiro passo. Às vezes, começa num clique. E é nesse universo de suor, superação e memória visual que mergulhamos no episódio especial do ClickRun, onde Rodrigo Tucano recebe um dos nomes mais singulares da fotografia esportiva brasileira: Matheus Firmino, da Foco Radical.

Neste artigo, vamos destrinchar os bastidores dessa entrevista imperdível. Você vai conhecer não apenas a técnica e os desafios por trás da fotografia de corrida, mas também a alma, a ética e os dilemas invisíveis de quem eterniza momentos que mudam vidas.

Curioso? Teve gambá morto, capotamento de rally, vaidade de corredor e muita verdade. E tudo isso, com o vídeo completo logo abaixo.


Quem é Matheus Firmino?

Fotógrafo, sociólogo, sertanejo e filho de uma costureira e um fotógrafo, Matheus Firmino não é um nome qualquer dentro da fotografia esportiva no Brasil. Ele é uma lente viva na orla de João Pessoa, nos rallys do Nordeste, nas trilhas empoeiradas e nos eventos onde o suor dos corredores encontra o brilho da superação.

O que o torna único? Sua capacidade de ver o que muitos ignoram: o gesto espontâneo, o sorriso tímido, o cansaço honesto e até os cachorros que passam diariamente pra lhe dar bom dia na orla.

Durante a entrevista, Matheus afirma:

“O fotógrafo não interfere na corrida. Ele respeita, observa e se vira pra capturar o que há de mais humano no atleta.”

Essa visão ética da profissão é um dos pilares do seu trabalho. Ele entende que fotografar corrida não é apenas captar estética ou movimento, é congelar uma narrativa de esforço. Seja um treino de madrugada, uma trilha escorregadia ou uma maratona de rua com milhares de pessoas.

E quando a luz falha? Quando passa um ciclista bêbado na frente? Ele sorri, respira fundo e dispara do mesmo jeito, porque todo clique conta.

No Brasil, ainda existe muito desconhecimento sobre o valor da fotografia de corrida. Muita gente acredita que pode simplesmente “printar” uma imagem de uma plataforma e usar nas redes. A conversa com Matheus traz uma reflexão dura e necessária:

“Você não tá tirando de uma grande empresa, tá tirando de quem tava ajoelhado, no barro, com uma mochila pesada nas costas, pra te entregar uma lembrança que talvez vá mudar tua autoestima.”

Matheus nos lembra que por trás de cada imagem existe logística, deslocamento, horas de estudo de luz, mapas, pace médio de corredores, planejamento e um corpo exausto tentando entregar poesia visual.


Técnica, perrengue e beleza

A técnica de Matheus vai muito além do “apontar e clicar”. Ele estuda os percursos antes das provas, faz simulações com apps de sol e luz, carrega rebatedores naturais (como um prédio espelhado na orla que reflete o sol como se fosse flash), e adapta sua linguagem visual ao perfil do corredor.

Mas não é só glamour:

  • Já sentou num gambá morto (sem saber);

  • Já foi confundido com staff e terapeuta ao mesmo tempo;

  • Já teve que subir trilhas com câmera nas costas e bike furada na mão;

  • Já viu zumbi na orla pedindo pra ser fotografado depois da balada.

Isso é o dia a dia do fotógrafo de corrida real no Brasil.


Trilha x Corrida de Rua: qual entrega mais?

A fotografia de trilha, segundo Matheus, exige mais esforço físico e gera mais conexão emocional com o cenário e com o atleta. Mas as corridas de rua, especialmente em grandes eventos como maratonas urbanas, carregam um peso simbólico que também emociona:

“Tem gente que treina seis meses só pra chegar até ali, e guardar uma única foto.”

A trilha entrega paisagem. A rua entrega história. E Matheus está entre os dois mundos, sujo de barro ou entre as faixas da orla, sempre em busca do instante exato.


Vaidade, ângulos e autoestima

Outro tema poderoso abordado no episódio é o impacto da vaidade e da autoestima na hora da foto. Muitos corredores pedem por ângulos específicos, poses, fotos em certo horário do dia. Outros se frustram com a barriga saltando ou a pele mexendo no impacto da passada.

Matheus, com sua sensibilidade social, oferece algo raro:
Respeito e empatia visual.
Ele fotografa para valorizar, não para expor. Para empoderar, não para vender ego.

Mais do que um artista, Matheus é, por formação, um sociólogo. Isso fica evidente quando fala sobre fotografar pessoas em situação de rua, ou quando recusa fotos de corredores que pedem para não serem clicados. Ele sabe o impacto de uma imagem no imaginário social. E usa sua lente como extensão da sua ética.


O futuro da fotografia de corrida

Mesmo com o avanço dos celulares e a popularização dos vídeos, Matheus defende que a fotografia continua insubstituível:

“A foto para o tempo. O vídeo mostra, mas a foto congela. É ela que você imprime, guarda, compartilha. É ela que vira memória.”

E é isso que torna a profissão ainda mais necessária. Porque corredores não querem apenas correr, querem lembrar, reviver, se ver no auge, ou no perrengue que superaram.

A entrevista com Matheus Firmino é um lembrete potente de que a fotografia de corrida vai muito além da estética. É sobre humanidade. Sobre o instante entre o cansaço e a glória. Sobre o cara que não corre, mas está sempre lá, antes do sol, com a câmera a postos, pronto pra transformar suor em arte.

Se você corre, apoia ou apenas admira esse universo, assistir a esse episódio é obrigatório. E valorizar o trabalho de fotógrafos como Matheus é essencial.


Acompanhe Rodrigo Tucano no instagram: @voatucano
Acompanhe Matheus Firmino no instagram: @matheusfirminophoto
Site da Foco Radical

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