Polícia abre inquérito para investigar e-mail com ameaças de morte e estupro contra deputadas estaduais de SP


A informação sobre a abertura do inquérito chegou nove dias após as parlamentares terem protocolado notícia-crime sobre o episódio. No início do mês, as parlamentares participaram de uma reunião com o presidente André do Prado (PL), com representantes da PM na Alesp e da Polícia Civil. Deputadas que participaram de reunião com André do Prado e polícia sobre ameaças
Paulo Gomes/TV Globo
A Divisão de Crimes Cibernéticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) instaurou na terça-feira (10) um inquérito para investigar o envio de um e-mail com ameaças de morte e estupro contra as deputadas da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).
A informação sobre a abertura do inquérito chegou nove dias após as parlamentares terem protocolado notícia-crime sobre o episódio.
No documento, elas pediram a “apuração de ameaças misóginas e racistas contra deputadas da Alesp” e citaram, entre os crimes, a ameaça de invasão à Alesp com uso da força armada, a ameaça de promover violência sexual, além de ameaça de feminicídio e de estupro de vulnerável.
“Nossa maior expectativa é que a polícia chegue logo ao autor ou autores desse crime, pois seguimos trabalhando, naturalmente expostas pela atividade pública que desempenhamos. Quase duas semanas depois, ainda não temos respostas”, lamentou a deputada Andréa Werner, líder do PSB na assembleia e uma das quatro parlamentares citadas nominalmente no email.
Queixa-crime
As deputadas protocolaram a queixa-crime no último dia 2 de junho, direcionada ao Decradi e ao Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) do estado.
O Noad é um núcleo da pasta de Segurança Pública do estado que monitora redes sociais e jogos online para prevenir e investigar casos como estupros virtuais, cyberbullying e automutilação.
🔎A queixa-crime é uma petição judicial na qual se afirma que alguém cometeu um crime. Ela é diferente da denúncia, porque a denúncia envolve ilícitos que afetam a sociedade, enquanto a queixa-crime trata de delitos contra a honra ou interesses privados.
Treze das 24 deputadas assinaram o documento.
Segundo o documento, o e-mail indica crime de injúria racial, intolerância religiosa, ameaça e crime de violência política de gênero.
Nesta terça-feira (3), elas participaram de uma reunião com o presidente André do Prado (PL), com representantes da PM na Alesp e da Polícia Civil. Na reunião, foi discutido a ameaça, mas também medidas de segurança.
Não foi informado se houve aumento do efetivo policial na Alesp.
A deputada Andréa Werner (PSB) afirmou que pediu um carro blindado e defende a revisão do protocolo de entrada na Alesp.
“Fui uma das pessoas citadas nominalmente no e-mail, então foi algo que me abalou muito. Nunca havia sofrido nenhuma ameaça de morte. É o meu primeiro mandato. Me preocupo com a minha família – é óbvio que a gente se preocupa, ainda mais quando tem filho. E o carro blindado não protege 100% do tempo, porque em algum momento você vai sair dele. Faço muitas palestras, muitas visitas a entidades. Estou sempre em cidades diferentes, então isso me preocupa. Não posso dizer que estou tranquila só porque foi feito um boletim e está sendo investigado. Só vou estar tranquila quando essa pessoa for identificada de fato, presa, processada”, afirma a deputada.
André do Prado afirmou que a concessão de escolta para as deputadas será avaliada caso a caso e que, em relação ao acesso à Alesp, o protocolo de segurança será aprimorado.
“Todas essas ameaças cometidas contra as nossas deputadas aqui nesta Casa são inaceitáveis. A Assembleia Legislativa não vai tolerar qualquer tipo de ameaça. É muito grave o que ocorreu. Por isso, realizamos essa reunião com as deputadas e também com deputados, para que pudéssemos fazer um amplo debate sobre a segurança das parlamentares, tanto no âmbito interno da Casa quanto externamente”, afirmou.
“Vamos até as últimas consequências para apurar essas ameaças e identificar o indivíduo que cometeu esse crime contra as nossas deputadas. Foi uma reunião muito produtiva, da qual saímos com diversos deveres e encaminhamentos solicitados pelas parlamentares – e todos serão colocados em prática. A questão da segurança de quem chega à Alesp também será repensada”, continuou.
A polícia já identificou o homem que assina o e-mail. O suspeito prestou depoimento na segunda-feira e afirma ser vítima, alegando que teve seus dados utilizados no e-mail como forma de incriminá-lo. O celular e o notebook dele foram apreendidos para perícia.
A mensagem enviada por e-mail, com teor violento e ofensivo, citava nominalmente algumas parlamentares e continha conteúdo misógino, racista e capacitista. O caso foi comunicado à Polícia Civil e à presidência da Casa.
Deputadas estaduais de SP são ameaçadas de morte e de estupro em e-mail coletivo
Em nota, o presidente da Alesp, André do Prado (PL), informou que se solidariza com as deputadas. “Nenhuma agressão pode ser tolerada. Por determinação da presidência, as Polícias Civil e Militar foram acionadas e investigam o caso.”
A Alesp informou, também em nota, que, após uma reunião com deputadas da Casa, André do Prado “reafirmou o compromisso da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo com a segurança de todos que atuam direta e indiretamente no Parlamento Paulista”. “O ataque às parlamentares é uma afronta a todo o Legislativo Paulista”, finaliza.
Em nota conjunta, as parlamentares classificaram o e-mail como uma tentativa de silenciar mulheres que ocupam espaços de poder na política brasileira. Elas também destacaram a importância de adotar políticas públicas de enfrentamento à violência política de gênero.
“Trata-se de uma nítida tentativa de silenciar mulheres, em um ataque misógino, racista e capacitista, em uma situação que, embora nos cause choque, infelizmente, é mais uma expressão de ódio e violência contra mulheres que buscam ocupar espaços de poder na política de nosso país”, destacaram.
“O e-mail é um ataque claro ao direito de mulheres exercerem seus espaços de poder na política institucional —um espaço já tão reduzido na Alesp, onde somos 24 entre 94 deputados. É também um ataque direcionado a pessoas com deficiência, a pessoas negras, a pessoas idosas – públicos já historicamente vulnerabilizados em um país como o nosso”, declarou a deputada Andréa Werner (PSB).
“Ao mesmo tempo, essa é uma situação que revela o quão urgente se faz a adoção de políticas públicas mais eficazes sobre o uso de redes sociais e aplicativos de mensagens. Não é possível que criminosos ajam impunes no ambiente digital — ou fora dele”, completou a parlamentar.
Deputadas estaduais de SP foram ameaçadas por e-mail
Reprodução/Instagram
Deputadas estaduais de SP foram ameaçadas por e-mail
Reprodução/Instagram
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