Em interrogatório sem novidades, Bolsonaro adota estratégia da defesa e frustra apoiadores ‘malucos’

Bolsonaro admite ter buscado alternativas ao resultado eleitoral
Encerrados os interrogatórios dos oito réus do “núcleo crucial” da trama golpista, ministros do Supremo Tribunal Federal avaliam que tudo ocorreu “sem novidades” e dentro do roteiro esperado – tanto pelos réus quanto pela acusação.
Nesta terça-feira (10), Bolsonaro abraçou totalmente a estratégia da defesa de cordialidade e humildade.
Com isso, frustrou seus apoiadores, que esperavam um embate transmitido ao vivo entre o ex-presidente e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Em vez disso, foram tachados por Bolsonaro como “malucos”.
Ministros do STF afirmaram ao blog que não esperavam novas informações sobre a trama golpista nessa fase do julgamento. Treinados por seus advogados, os réus negaram até onde foi possível.
Alguns foram além – como o general Braga Netto, que negou até o que escreveu. Disse que nunca deu ordens para atacar o general Freire Gomes e o brigadeiro Batista Jr (à época, comandantes do Exército e da Aeronáutica) por não terem aderido à trama golpista.
A ação da Procuradoria-Geral da República (PGR) traz as mensagens de texto em que Braga Netto dá esses comandos.
‘Jamais ordenei ataques a nenhum dos chefes militares’, diz Braga Netto a Moraes
Os magistrados avaliam que, apesar das negativas, o fato de os réus terem admitido a análise de uma minuta de documento – os tais “considerandos” citados nas respostas – acaba confirmando a denúncia da PGR.
De fato, pelo que foi dito, Bolsonaro analisou uma alternativa golpista para tentar evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O próprio ex-presidente admitiu que essa alternativa foi discutida – segundo ele, depois de o Tribunal Superior Eleitoral ter negado recurso do PL pedindo a anulação do segundo turno da eleição presidencial.
Estilo de Bolsonaro surpreendeu
Se não houve novidade da parte dos conteúdos, por outro lado surpreendeu, de certa forma, o estilo adotado pelo ex-presidente Bolsonaro. Nada de arroubos, ataques, desafios a Alexandre de Moraes – tudo aquilo que, com certeza, agradaria seus apoiadores.
Só que o ex-presidente seguiu à risca a orientação dos seus advogados. Bolsonaro se esforçou para ser cordato, humilde, fez questão de pedir desculpas a Alexandre de Moraes.
Ao ser confrontado com acusações que fez contra os ministros do STF – como a de que teriam recebido de US$ 30 milhões a US$ 50 milhões para tomar medidas que beneficiaram Lula e o prejudicariam –, atribuiu as falas à “retórica” e a um “desabafo”.
Bolsonaro, para irritação de seus apoiadores, buscou até se mostrar amigável com “Xandão”. Em tom de brincadeira, perguntou ao ministro se ele aceitaria ser seu vice numa candidatura à Presidência em 2026, eleição para a qual está inelegível.
“Declino”, respondeu Alexandre de Moraes, arrancando risos de todos na sala da Primeira Turma, onde foram realizados os depoimentos.
O ex-presidente foi além, ao chamar de “malucos” aqueles que defendiam intervenção militar, os mesmos que ele incentivava a manter suas manifestações enquanto estava na Presidência da República.
Bolsonaro chama de ‘malucos’ apoiadores que pediram intervenção militar
Clima tranquilo beneficia julgamento
O clima em geral foi tranquilo. E não podia ser de outra forma. Se houvesse um embate entre Alexandre de Moraes com os réus, estaria criado o cenário perfeito para que os apoiadores de Bolsonaro explorassem isso nas redes sociais.
Além disso, haveria o risco de os réus pedirem a anulação da ação, alegando que não tiveram seus direitos de defesa respeitados.
Mais que isso, como lembraram ministros: esse sempre foi o comportamento de Bolsonaro. Costuma desafiar quando se sente poderoso, mas recua quando está acuado.
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