Xaropes caseiros contra gripe e resfriado: o que funciona e por quê? 


Mesmo que boa parte dos xaropes tenha venda livre nas farmácias e os produtos sejam aliados dos pais no combate a um sintoma persistente em crianças, os médicos alertam que nem sempre eles são realmente indicados. Mel e gengibre são dois ingredientes que podem ajudar contra a tosse.
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Basta um nariz escorrendo e uma tosse um pouco mais carregada que a busca por receitas caseiras que podem reduzir os sintomas se torna prioridade E, nessas horas, todas as recomendações das avós são testadas: mel, alho, hortelã, gengibre.
Mas, de fato, os xaropes caseiros funcionam? E os industrializados, são para todos os quadros de problemas respiratórios?
Antes de responder essas perguntas, os especialistas reforçam que é preciso diferenciar a gripe do resfriado.
➡️Para não esquecer:
Gripe – é causada pelo vírus influenza e causa quadros de sintomas mais intensos, como febre alta, dor no corpo, congestão nasal e tosse persistente. O melhor remédio é a prevenção, se imunizando com a vacina da gripe logo no início da temporada de outono/inverno. Para a recuperação muitas vezes são necessários dias de repouso e remédios para aliviar os sintomas.
Resfriado – pode ser causado por mais de 100 vírus respiratórios diferentes, como o rinovírus, não tão agressivos quanto a influenza. Os sintomas são mais leves e o tratamento inclui boa hidratação e antitérmico, se necessário.
Enquanto os sintomas do resfriado costumam amenizar dentro de poucos dias, no caso da gripe, a recuperação completa pode demorar mais de uma semana – e a tosse é a última a ir embora, o que muitas vezes faz com que o paciente recorra aos xaropes.
Mesmo que boa parte dos xaropes tenha venda livre nas farmácias e os produtos sejam aliados dos pais no combate a um sintoma persistente em crianças, os médicos alertam que nem sempre eles são realmente indicados.
“Os xaropes para tosse, embora sejam comumente utilizados, apresentam uma evidência de benefício na literatura científica super questionável e escassa “, afirma a médica especializada em pneumologia pediátrica, Magali Santos Lumertz.
Nesse contexto, algumas receitas caseiras podem surgir como alternativas para o alívio dos sintomas.
Abaixo, você confere quais alimentos podem ajudar contra a tosse e quais cuidados tomar com os xaropes industrializados.
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Todos os xaropes caseiros funcionam?
Primeiro, os especialistas destacam que todas as substâncias que ajudam contra a tosse não curam, e sim auxiliam no alívio dos sintomas.
Tadeu Fernandes, presidente do departamento científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explica que todo alimento que tiver uma ação demulcente vai funcionar no alívio da tosse.
🔎A ação demulcente é o efeito de um composto que acalma e protege tecidos irritados ou inflamados. Produtos com essa ação criam uma película protetora sobre a mucosa.
“Tudo aquilo que a gente usar e que tiver essa ação ‘grudenta’, vai se fixar sobre os receptores da tosse e vai amenizar um pouco o sintoma”, detalha o pediatra.
Entre as opções caseiras mais comuns usadas para o alívio da tosse, os médicos ressaltam os benefícios do mel – comprovados, inclusive, cientificamente.
➡️Um estudo publicado em 2023 na revista científica “European Journal of Pediatrics” concluiu que o mel pode ser mais eficaz do que medicamentos para tosse no alívio do sintoma em crianças. A pesquisa ainda requer análises mais aprofundadas para confirmar a eficácia do tratamento.
“O estudo mostra que uma possível indicação seria o uso do mel antes do sono de crianças com quadros de infecções respiratórias. […] Ou seja, aquela receita que era da avó, atualmente tem uma evidência científica de possível benefício”, analisa Lumertz.
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A médica, que também é membro da Comissão Científica de Pneumologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), alerta que, no caso do mel, o uso deve ser feito apenas em crianças acima de dois anos de idade, por conta do risco de botulismo.
👉Entre outros ingredientes que podem ajudar no alívio de sintomas, Fernandes destaca:
Alho – tem ação antiviral e antibacteriana, além de aumentar a imunidade. O alimento também tem propriedades expectorantes, que podem ajudar contra a tosse.
Casca de abacaxi – contém uma sustância chamada bromexina, com boa ação expectorante, isto é, que facilita a saída do muco e catarro das vias respiratórias.
Hortelã – também tem ação expectorante e calmante, importantes para o alívio da tosse.
Gengibre – ajuda a lubrificar as vias áreas, principalmente a laringe, o que pode amenizar a tosse.
Guaco – é uma planta medicinal que possui várias propriedades anti-inflamatórias e expectorantes. Pode ser utilizado no preparo de xaropes caseiros.
“É preferível tomar essas receitas caseiras do que medicamentos que erroneamente são indicados para tosse quando, na verdade, são antialérgicos e corticoides, que têm efeitos adversos”, compara o pediatra.
Ele ainda alerta que, mesmo sendo caseiros, esses remédios podem causar efeitos colaterais se utilizados em excesso.
O consumo excessivo de mel, por exemplo, pode causar diarreia. Já um xarope com a folha do guaco muito concentrado pode levar a quadros de intoxicação. Por isso, os ingredientes devem ser consumidos sem exageros.
Xaropes industrializados e os riscos
Os médicos explicam que os xaropes industrializados têm as mesmas funções que as observadas nos xaropes caseiros.
Eles destacam que os princípios ativos como a acetilcisteína e o ambroxol, muito comuns em xaropes comprados de forma livre nas farmácias, são mucolíticos e expectorantes. Ou seja, ajudam a quebrar e facilitam a expulsão do muco.
“É preciso tomar muito cuidado porque existem remédios maquiados com a palavra xarope, mas que não são”, alerta Fernandes.
Lumertz acrescenta que muitos desses remédios que são vendidos como xaropes contêm anti-histamínicos, antialérgicos e medicações derivadas de opioides, que não devem ser usados de forma indiscriminada.
“Numa criança saudável, por exemplo, não há indicação formal para o uso desse tipo de xaropes, devendo ser evitado, sobretudo, em crianças pequenas, onde os riscos de possíveis efeitos adversos podem ser mais frequentes ou até mais intensos”, recomenda a médica.
Eles ainda alertam que o uso desses xaropes pode agravar o quadro.
“Se a tosse for causada por um resfriado, não vai ter ação nenhuma o anti-alérgico, muito pelo contrário, vai ressecar o catarro, deixar o muco mais espesso”, exemplifica Fernandes.
⚠️Assim, a automedicação deve ser evitada e recomenda-se sempre a prescrição do médico.
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