Descoberta arqueológica na Irlanda expõe práticas secretas da pré-história

Quando dois trabalhadores rurais escavavam um pântano de turfa no condado de Offaly, na Irlanda, em meados da década de 1820, não imaginavam que dariam início a um dos capítulos mais importantes da arqueologia europeia. O que retiraram do solo encharcado foi um acervo com mais de 200 peças de bronze, depositadas ao longo de séculos no que um dia foi um lago raso. Hoje conhecido como Tesouro de Dowris, o conjunto está dividido entre o Museu Nacional da Irlanda e o Museu Britânico.

Pontos Principais:

  • O Tesouro de Dowris foi encontrado na década de 1820 em um antigo lago no condado de Offaly, Irlanda.
  • Composto por mais de 200 peças, inclui armas, utensílios e instrumentos cerimoniais.
  • Os objetos foram depositados ao longo do tempo como parte de rituais religiosos.
  • A descoberta definiu a fase final da Idade do Bronze na Irlanda como Fase Dowris.
  • Os itens revelam domínio técnico em fundição de bronze e práticas culturais distintas.

As peças variam entre armas, utensílios domésticos e instrumentos musicais, todos datados de aproximadamente 900 a 600 a.C. A descoberta ajudou a definir a fase final da Idade do Bronze irlandesa, nomeada como Fase Dowris. Estudos posteriores indicaram que os objetos não foram reunidos em um único evento, mas sim depositados de forma contínua, possivelmente como parte de práticas espirituais ou religiosas associadas à água.

O Tesouro de Dowris, encontrado por acaso por trabalhadores no século XIX, mudou o entendimento sobre a Idade do Bronze na Irlanda. (Créditos: reprodução inteligência Artificial).
O Tesouro de Dowris, encontrado por acaso por trabalhadores no século XIX, mudou o entendimento sobre a Idade do Bronze na Irlanda. (Créditos: reprodução inteligência Artificial).

O local da descoberta era, originalmente, um lago que, ao longo dos séculos, foi sendo assoreado até virar um pântano. Essa transformação ambiental ajudou a preservar os objetos. Entre os mais intrigantes estão os crotais: pequenos cilindros de bronze com pedra ou argila em seu interior, usados como chocalhos em rituais sonoros. A tipologia sugere uma conexão com cultos à fertilidade ou práticas simbólicas ligadas a animais, especialmente o touro.

A variedade e quantidade de peças impressionam. Foram registradas 44 pontas de lança, 43 machados com soquete, 48 crotais, 26 trombetas de bronze, cinco espadas e caldeirões rebitados, entre outros itens. Cada artefato carrega traços do alto grau de conhecimento metalúrgico da época, revelando um domínio técnico que incluía fundição, moldagem e acabamento com rebites.

As armas e instrumentos cerimoniais indicam que o local tinha valor simbólico. A deposição de objetos valiosos sugere rituais de oferenda, talvez em busca de proteção, fertilidade ou consagração de feitos militares. A presença de trombetas e chocalhos reforça a hipótese de que o som fazia parte central das cerimônias, que envolviam elementos sonoros, visuais e materiais.

A análise arqueológica também aponta para a relativa autonomia da cultura material irlandesa frente ao continente europeu. Enquanto a cultura Hallstatt ganhava espaço na Europa central, a Irlanda seguia com práticas próprias, sem absorver imediatamente as influências externas. Essa distância cultural contribuiu para o desenvolvimento de tradições únicas no uso e significado dos metais.

O Tesouro de Dowris ajudou a consolidar a ideia de que a Idade do Bronze não foi apenas uma fase de transição tecnológica, mas um período marcado por identidade cultural, sofisticação técnica e estrutura social complexa. A forma como os objetos foram dispostos e sua variedade revelam uma sociedade capaz de organizar cerimônias duradouras, com significado além do utilitário.

Além da função cerimonial, os objetos indicam especialização no ofício. Os caldeirões e baldes revelam técnicas de rebitagem que exigiam ferramentas específicas. Já as armas e instrumentos musicais exigiam moldes, controle de temperatura e conhecimento sobre a liga de metais. Essa expertise sugere não apenas prática cotidiana, mas também ensino e transmissão de saberes.

Hoje, o acervo permanece dividido entre Dublin e Londres. Apesar da separação, as peças seguem sendo estudadas com métodos avançados, contribuindo para novas leituras sobre sua origem e uso. A interpretação contemporânea do Tesouro de Dowris vai além da arqueologia descritiva: trata-se de um reflexo da espiritualidade, tecnologia e organização social da Irlanda pré-histórica.

O conjunto continua a atrair o interesse de estudiosos e visitantes, não apenas por sua quantidade e variedade, mas pelo que representa: uma janela concreta para os hábitos, crenças e técnicas de uma civilização antiga que soube moldar o bronze em símbolos duradouros de sua existência.

Com informações de Veja, Canaltech, Wikipedia e Olhardigital.

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