USP testa fertilizante de vidro com Embrapa e vê eficiência 70% maior em plantações no interior de SP

Um fertilizante inusitado, feito de vidro e desenvolvido por cientistas da Universidade de São Paulo (USP), tem demonstrado resultados animadores em plantações no interior paulista. Os testes em campo realizados em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostraram que, após cinco colheitas consecutivas, o produto teve desempenho agronômico 70% superior ao NPK convencional, fertilizante mais utilizado no mundo. A iniciativa, que envolve pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) e da Escola de Engenharia (EESC-USP), pode representar uma virada sustentável para o agronegócio nacional.

Pontos Principais:

  • Fertilizante de vidro foi desenvolvido por pesquisadores da USP em São Carlos com apoio da Embrapa.
  • Produto mostrou desempenho 70% superior ao NPK em testes com capim, alface e cebola.
  • Fórmula permite liberação lenta de nutrientes e reduz o risco de impacto ambiental.
  • Vidro dissolúvel foi inspirado em falhas de resistência química observadas em aplicações ópticas.
  • Produto pode estar no mercado em até dois anos e promete revolucionar o agronegócio sustentável.

Desde 2018, o químico Danilo Manzani estuda a fragilidade de certos vidros diante da umidade, uma limitação para aplicações ópticas, mas que acabou inspirando uma solução agrícola. Com apoio de Eduardo Bellini Ferreira, engenheiro de materiais da EESC, o defeito virou virtude: a solubilidade progressiva do vidro, quando adaptada à agricultura, tornou-se uma aliada para liberação lenta de nutrientes essenciais no solo. A ideia é permitir que esses compostos sejam absorvidos gradualmente pelas plantas, sem serem arrastados pela água das chuvas ou da irrigação.

Criado por cientistas brasileiros, o fertilizante de vidro possibilita a liberação gradual de nutrientes, diminuindo perdas e minimizando os impactos ambientais. (Foto: Danilo Manzani/Divulgação)
Criado por cientistas brasileiros, o fertilizante de vidro possibilita a liberação gradual de nutrientes, diminuindo perdas e minimizando os impactos ambientais. (Foto: Danilo Manzani/Divulgação)

O fertilizante é composto por uma formulação vítrea que reúne macro e micronutrientes fundamentais, como potássio, fósforo, silício, cálcio, magnésio e boro. A ausência de nitrogênio e enxofre, que não resistem à temperatura de 1.100 °C necessária à produção, está sendo contornada por meio de estudos com encapsulamento em biopolímeros. O material, processado em partículas de aproximadamente 1 mm, pode ser aplicado como os fertilizantes convencionais, mas com a vantagem de reduzir perdas e impactos ambientais.

Durante os testes, a equipe observou que apenas 20% a 30% do NPK tradicional é absorvido pelas plantas. O restante acaba sendo lixiviado, contaminando lençóis freáticos e gerando desperdício. O fertilizante de vidro, por sua vez, evita essa dispersão e mantém a oferta de nutrientes constante, sem comprometer a saúde do solo ou da água. Isso significa menos reaplicações, menos resíduos e maior aproveitamento de insumos — fatores que se traduzem em sustentabilidade econômica e ecológica.

As experiências em campo começaram com cultivos de capim em São Carlos, e os bons resultados estimularam novos testes com hortaliças como cebola e alface. A segurança do produto foi avaliada por meio de testes ecotoxicológicos conduzidos pela bióloga molecular Dânia Christofoletti Mazzeo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Não foram observados efeitos tóxicos nem mutagênicos, garantindo que a nova tecnologia não altera as características das plantas nem representa riscos ao ambiente ou ao consumidor.

O processo de fabricação do fertilizante é similar ao dos vidros tradicionais utilizados em embalagens e utensílios, o que facilita sua escalabilidade industrial. Apesar de o custo inicial ser mais elevado, os pesquisadores avaliam que a economia gerada pela menor frequência de reaplicação e a eficiência da absorção compensam o investimento. Além disso, a possibilidade de personalizar a composição para culturas específicas é um dos focos atuais do laboratório.

Segundo Manzani, a ideia é ajustar a taxa de dissolução conforme a necessidade de cada plantio, garantindo que os nutrientes sejam liberados no tempo exato da demanda de cada planta. Esse nível de precisão coloca o produto no centro das discussões sobre agricultura de precisão, especialmente diante da busca crescente por práticas que combinem produtividade e preservação ambiental. O grupo também estuda formas de adaptar o fertilizante para outras condições de solo e clima.

O fertilizante foi oficialmente apresentado à comunidade científica em fevereiro de 2025, com a publicação do artigo Design and Performance of a Multicomponent Glass Fertilizer for Nutrient Delivery in Precision Agriculture na revista ACS Agricultural Science & Technology. A expectativa é de que, com os ajustes necessários, o produto esteja disponível comercialmente em até dois anos. O lançamento poderá colocar o Brasil em posição de destaque na exportação de tecnologias limpas para o setor agrícola.

Entre as vantagens práticas, o fertilizante pode ser aplicado em seções específicas das lavouras, direcionando nutrientes conforme a carência de cada área. Isso reduz o uso excessivo e evita sobrecargas químicas. Produtores rurais como Sérgio Aparecido Marino, de São Carlos, já demonstram entusiasmo com a possibilidade: “Tudo que vem para modernizar, para acrescentar para gente, vai ser muito bem-vindo”, afirmou em entrevista à EPTV.

O futuro do fertilizante de vidro parece promissor, não apenas pela inovação técnica, mas também por abrir caminhos para uma agricultura mais estratégica, equilibrada e alinhada com os desafios climáticos do século XXI. Enquanto as pesquisas avançam nos laboratórios da USP, cresce a expectativa de um campo mais fértil, menos poluído e mais inteligente.

Com informações de G1, usp e Exame.

O post USP testa fertilizante de vidro com Embrapa e vê eficiência 70% maior em plantações no interior de SP apareceu primeiro em Carro.Blog.Br.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.