Morre Sly Stone aos 82 anos: lenda do funk e ícone da música negra americana

Sly Stone, figura central da música americana nas décadas de 1960 e 1970, morreu nesta segunda-feira (09/06/2025), aos 82 anos, após enfrentar complicações causadas por DPOC e outras doenças crônicas. O artista morreu cercado pelos filhos e pessoas próximas, encerrando uma trajetória marcada por inovação artística, influência cultural e conflitos pessoais. A confirmação do falecimento foi feita pela família, que também revelou que Stone havia finalizado recentemente o roteiro autobiográfico de sua vida.

Pontos Principais:

  • Sly Stone morreu aos 82 anos após complicações de saúde respiratória.
  • Criador da Sly & the Family Stone, revolucionou o funk e a soul psicodélica.
  • Teve uma carreira marcada por sucessos, reclusão e problemas com drogas.
  • Documentário de 2025 e autobiografia de 2024 ajudaram a resgatar seu legado.
  • Família confirmou que ele finalizou o roteiro de sua cinebiografia antes de morrer.

Stone, nascido Sylvester Stewart no Texas em 1943, começou a cantar ainda criança, ao lado dos irmãos no grupo Stewart Four. Durante a juventude, tornou-se figura ativa na cena musical da Califórnia, atuando como DJ e produtor antes de fundar a banda Sly & the Family Stone. A partir de 1967, o grupo passou a ser um dos protagonistas da música pop americana, quebrando barreiras raciais e estilísticas. Misturando rock psicodélico, funk, gospel e soul, a banda criou sucessos como Dance to the Music, Everyday People, Family Affair e Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin).

Sua influência permanece viva nas novas gerações de músicos. Da soul ao hip hop, o som de Sly Stone segue ressoando como parte essencial da história da música.
Sua influência permanece viva nas novas gerações de músicos. Da soul ao hip hop, o som de Sly Stone segue ressoando como parte essencial da história da música.

Em paralelo à construção de sua reputação artística, Sly Stone enfrentava dificuldades pessoais e profissionais. Ainda que seu trabalho fosse celebrado pelo caráter inovador, a relação instável com colegas, somada ao uso de drogas e a cancelamentos frequentes de shows, fez com que a carreira desandasse a partir da década de 1970. Mesmo assim, sua obra se manteve como referência para gerações futuras de músicos em gêneros como o hip hop, o R&B e o funk contemporâneo.

O legado construído com a Family Stone

A banda Sly & the Family Stone foi criada na fusão de dois projetos: Sly and the Stoners, liderado por Sly, e Freddie and the Stone Souls, comandado por seu irmão. O resultado foi um grupo multirracial e com homens e mulheres em sua formação, algo raro na época. Entre os membros mais notórios estavam Freddie Stone, Rose Stone, Larry Graham, Cynthia Robinson, Greg Errico e Jerry Martini. O primeiro sucesso veio com Dance to the Music, de 1968, que apresentou ao mundo uma sonoridade ousada, com solos distribuídos entre todos os instrumentos.

O ápice criativo do grupo ocorreu entre 1968 e 1971, período em que lançaram obras que se tornaram símbolos de um momento de efervescência cultural nos Estados Unidos. O álbum There’s a Riot Goin’ On, lançado em 1971, retrata com crueza as frustrações do pós-Woodstock, misturando arranjos eletrônicos, drum machines e um lirismo sombrio. Ainda assim, o som mantinha apelo popular, e o disco figurou entre os mais respeitados da época.

O show no festival de Woodstock, em 1969, foi outro ponto alto da banda. A apresentação de I Want to Take You Higher durante a madrugada virou símbolo da proposta musical de Sly Stone: unificar públicos distintos por meio de uma música que celebrava a diversidade e refletia os conflitos sociais do período. As performances ao vivo, quando aconteciam, eram intensas e provocavam grande resposta do público, mas a frequência irregular e o comportamento imprevisível acabaram gerando desgaste interno.

Declínio, reclusão e aparições pontuais

Após o sucesso no início dos anos 1970, a banda foi se desintegrando. Sly Stone passou a gravar grande parte dos discos sozinho, com uso intensivo de overdubs e equipamentos eletrônicos. A relação com os demais integrantes foi se deteriorando, e, em 1975, a Family Stone deixou de existir formalmente. Stone ainda lançou discos solo, como Heard Ya Missed Me, Well I’m Back (1976) e Back on the Right Track (1979), mas sem a mesma repercussão.

Durante os anos 1980, Stone foi preso diversas vezes por porte de drogas e permaneceu recluso durante longos períodos. Em 1993, foi incluído no Rock & Roll Hall of Fame, mas seu comportamento errático impediu um retorno consistente à cena musical. Em 2006, subiu ao palco brevemente em um tributo durante o Grammy, mas deixou a apresentação minutos depois, sem explicações.

Nos anos seguintes, relatos apontaram que vivia em um trailer nos arredores de Los Angeles, com ajuda de amigos. Ainda assim, seguia compondo e prometia o lançamento de novas músicas. Em 2011, lançou I’m Back! Family & Friends, com releituras de antigos sucessos e faixas inéditas, que não tiveram grande impacto comercial. Sua autobiografia, Thank You (Falettinme Be Mice Elf Agin), saiu em 2024 e serviu como base para o documentário Sly Lives!, lançado em 2025 com direção de Questlove.

Últimos anos e influência permanente

Apesar dos longos períodos longe dos holofotes, Sly Stone nunca deixou de ser lembrado como referência criativa. Sua abordagem rítmica, sua estética sonora e a mistura de gêneros ecoaram em artistas como Prince, George Clinton, Red Hot Chili Peppers, D’Angelo, Lauryn Hill e The Roots. A influência de Stone foi decisiva na transição da soul music para o funk moderno e até para o hip hop, moldando os rumos da música negra nos Estados Unidos.

Sua morte ocorre pouco mais de um ano após o lançamento de seu documentário e representa o encerramento definitivo de uma era. Stone deixa três filhos: Sylvester Jr., com Kathy Silva; Sylvyette, com Cynthia Robinson; e Novena Carmel. A família informou que o roteiro de sua cinebiografia está pronto e deverá ser transformado em filme em breve.

O legado de Sly Stone será lembrado não apenas pelas canções que marcaram época, mas também por sua luta contra os próprios fantasmas. De figura revolucionária na música a símbolo de uma geração em transformação, sua trajetória permanece como capítulo essencial da história cultural americana.

Documentário

O documentário Sly Lives! deverá ser reapresentado nos próximos dias em homenagem ao músico. A expectativa é de que canais como HBO ou plataformas como Max ou Apple TV+, que já trabalharam com projetos dirigidos por Questlove, transmitam a produção novamente em breve. O palpite de críticos e jornalistas que acompanharam de perto o lançamento da obra é que o filme servirá como porta de entrada para que novas gerações conheçam não só os sucessos da Family Stone, mas também os dilemas que marcaram a vida de seu criador.

A produção cobre as transformações do artista, os bastidores de sua criação mais famosa e os anos de isolamento. O foco do longa está no impacto de sua obra e no peso emocional que sua genialidade lhe trouxe. A recepção inicial do público e da crítica foi positiva, com destaque para os depoimentos de figuras históricas da música que conviveram com ele.

A última entrevista registrada foi com Questlove, que disse que Sly parecia estar num bom momento mental recentemente e que havia retomado planos para novos lançamentos. A notícia da morte, por isso, surpreendeu parte dos fãs mais próximos. A projeção é que, nas próximas semanas, playlists e tributos ao artista ganhem destaque em rádios, canais musicais e plataformas de streaming.

Fonte: Flickr, Rollingstone e Theguardian.

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