Esses 4 livros estão no altar pessoal de Tarantino

Há quem diga que o gosto de um artista revela mais do que sua obra. Pode ser exagero — ou não. Quando se observa o que Quentin Tarantino escolhe ler, o traço comum não é tanto o gênero, mas a fratura. Não são livros que narram, são livros que sangram. Há sempre um ruído de fundo: algo mal resolvido, uma tensão que não se apaga mesmo depois do ponto final. E isso, talvez, seja o que o atrai — a incapacidade de concluir sem deixar uma mancha.

Nos quatro títulos que ocupam esse altar pessoal do cineasta, o enredo é apenas a superfície. O que vibra por baixo são as falhas humanas expostas com uma crueldade quase amorosa. Gente que não cabe na moral de ninguém. Histórias onde a violência não é espetáculo, mas sintoma. Onde a loucura, o crime, a fuga e o colapso não são desvios de percurso — são o percurso. Ninguém se salva. Mas todos se mostram.

É curioso pensar que, para alguém tão visual como Tarantino, essas narrativas essencialmente literárias exerçam tamanha influência. Talvez porque aqui também haja ritmo, corte seco, travellings verbais. Talvez porque cada página tenha cheiro de filme — não de adaptação, mas de espírito. Porque o que está em jogo não é o que acontece, mas como a linguagem aguenta o acontecido. E isso, Tarantino sabe reconhecer como poucos.

Nenhuma dessas obras é confortável. Nem busca ser. São como sapatos apertados usados por prazer ou cicatrizes que não se quer esconder. A linguagem é muitas vezes suja, o tom quase cínico, e mesmo assim — ou por isso mesmo — há beleza. Não da beleza limpa e pronta, mas da que vem depois da queda. Aquela que permanece, mesmo quando o resto já foi embora.

Se há um padrão entre essas escolhas, ele talvez esteja no desconforto que produzem. Na recusa da clareza. No prazer quase perverso de se demorar em zonas ambíguas, onde ética, afeto e brutalidade se confundem. E, sobretudo, naquilo que permanece após a leitura: um silêncio meio ácido, meio admirado, como se algo tivesse sido entendido — mas tarde demais.

Esses 4 livros estão no altar pessoal de Tarantino

Tarantino não lê como quem busca sabedoria ou consolo — lê como quem procura pólvora. E quando encontra, acende. Esses quatro livros não estão em sua cabeceira por acaso: são objetos cortantes, narrativas que desfiguram qualquer expectativa de conforto. Entre bandidos, delírios e pistas falsas, o diretor encontrou aqui não só histórias, mas atmosferas inteiras, tons narrativos que escorregam entre o trágico e o ridículo. São obras com cheiro de suor, sangue e invenção. E, acima de tudo, com a coragem de não pedir desculpas por existir.

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