Quem é o trio de mulheres no comando da Dengo após a empresa perder seu CEO

O conselho de administração da chocolateria Dengo recebeu em meados de março o aviso de que seu então CEO, Tulio Landin, deixaria a empresa em 45 dias para assumir um cargo na diretoria do Mercado Livre. Os conselheiros nomearam então três diretoras da empresa para compor o comitê de transição que desde então lidera os negócios.

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As diretoras Cintia Moreira (da áreas comercial), Luciana Lobo (de inovação e chocolatière ) e Renata Lamarco (de marketing e canais digitais) assumiram a missão de garantir que a estratégia definida pela empresa ao longo do ano passado seja seguida mesmo sem um comando central.

Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, as executivas afirmaram que a transição ocorreu de forma tranquila. “No dia que ele anunciou, já foi decidido que nós três seríamos as responsáveis”, diz Lamarco. “O Túlio falou uma frase que eu achei interessante: ‘eu vou sair, vocês não vão perceber porque está todo mundo tão na sintonia’.”

A saída no entanto ocorre em um momento tenso para o setor da Dengo, que enfrentou uma alta de mais de 170% do seu principal insumo, o cacau, ao longo de 2024. Novata no mercado, com apenas oito anos, a empresa optou por não repassar ao consumidor, e tem apostado em um plano de eficiência tecnológica para reduzir os impactos sobre sua margem de lucro.

Inovação e chocolates

Luciana Lobo foi a primeira a ingressar na empresa, “antes dela se chamar Dengo”, convidada por um dos fundadores, Guilherme Leal, conhecido por cofundar também a Natura.

Formada em administração e marketing, Luciana Lobo migrou de carreira para a confeitaria e chocolateria em 2000. Somava então mais de 15 anos de carreira com o doce quando foi convidada para a Dengo em 2016.

“O Guilherme Leal entendeu que precisava ter uma marca de chocolate para ir mais além: gerar realmente impacto social, ambiental e fazer o cacau brasileiro ficar conhecido no mundo, provar que podemos sim fazer um chocolate de qualidade”, recorda Lobo.

Dengo
Loja da Dengo (Crédito:Divulgação Dengo)

A executiva formulou assim o projeto de pagar mais para pequenos agricultores familiares se capacitarem na produção de cacau de qualidade. “Hoje tem muitos outros players fazendo fazendo coisas parecidas, de exigir qualidade, capacitar e pagar mais”, comenta.

A própria Dengo, que em sua concepção utilizada cacau do interior da Bahia, expandiu as compras para outros estados. Em 2024, cerca de 30% do fruto utilizado veio do Pará. “Os números de produtores e de locais hoje estão bem dinâmicos”, diz Lobo.

Marketing e expansão

Já Renata Lamarco e Cintia Moreira ingressaram apenas em 2024, com um mês de diferença.

Lamarco vinha de uma longa atuação no marketing de varejo, com mais de 20 anos em agências de publicidade. “Eu procurei no LinkedIn se existia uma pessoa diretora de marketing da Dengo antes de ter qualquer processo aberto. Vi que não havia, e aí busquei o Túlio, até então o nosso CEO, para tomar um café e falar sobre como a Dengo era uma das marcas que eu sonhava em trabalhar.”

Sob sua gestão, a Dengo aumentou seus investimentos em mídia, tanto digital como no mobiliário urbano, para patamares que segundo Lamarco são um “novo normal”. A empresa não divulga quais foram os valores investidos, afirmando apenas que levaram a um crescimento de 36% nas vendas de páscoa em 2025. Dados de faturamento tampouco são divulgados.

Já a contratação da diretora comercial Cintia Moreira trouxe à empresa uma bagagem de 30 anos no segmento do varejo de luxo para construir um plano de crescimento.

A empresa conta hoje com uma fábrica em Itapecerica da Serra (SP). Somados, sua indústria e escritórios empregam hoje 585 profissionais. O objetivo da Dengo é conquistar uma expansão através de franquias. Hoje, a marca conta com 40 unidades próprias e contratos para fechar 2026 com 13 unidades franqueadas.

O mercado internacional também está nos planos. Hoje, a empresa já conta com duas unidades em Paris, sob administração própria.

Crescimento e cultura

Ao longo de 2024, as três diretoras participaram da construção de um plano de expansão para a empresa que vislumbra até 2030. “Nós temos um conselho muito presente. Então, foi quase natural [a transição do CEO] porque o projeto foi construído de forma colaborativa conosco e e está em plena execução”, diz Moreira.

Os números miram longo prazo: 250 unidades em funcionamento até o fim da década. Em 2024, a Dengo esperava 100 lojas já em 2026. As executivas admitem no entanto que metas curtas são ajustáveis, enquanto o horizonte do final da década permanece.

O desafio decorre justamente do posicionamento como marca “premium”. “Você não leva em consideração apenas a expansão per si neste mercado, mas sim cuidando e zelando pelo posicionamento de marca, com atendimento de excelência, experiência memorável”, explica Moreira.

Manutenciar a cultura de impacto social da empresa é outro desafio. A Dengo afirma utilizar pouco plástico (apenas 8% das embalagens do seu portfólio). Já os chocolates e recheios utilizam ingredientes totalmente brasileiros.

Além disso, no caso da alta do cacau, a Dengo onerou-se duas vezes: uma pela alta dos preços em si e outra para manter o prêmio a mais pago pela profissionalização dos produtores. Segundo as executivas, o bônus chega a 107% sobre a renda média das famílias produtoras.

“O mundo tem muitas marcas de chocolate. Ou você é um negócio que gera impacto social e ambiental e agrega valor pro mundo ou você não precisa existir”, afirma Renata Lamarco sobre os valores da empresa.

Quem será o futuro CEO da Dengo

Embora afirmem que o trabalho da empresa segue normalmente, as executivas destacam que o conselho busca um novo CEO. “Apesar da gente ser muito colaborativo, a gente entende que até por um ganho de eficiência faça mais sentido ter uma única pessoa nessa liderança”, diz Lamarco.

Segundo a executiva, o conselho da Dengo, liderado pelo fundador Guilherme Leal, está fazendo um processo “cuidadoso” para selecionar um profissional. “Acho que será um perfil misto entre muito alinhado aos valores da empresa e ao mesmo tempo com muita eh muita experiência em crescimento, expansão”, conclui.

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