Resgate de 220 trabalhadores acende alerta sobre abusos na fábrica da BYD na Bahia

No gramado das obras industriais, a montadora chinesa BYD entrou em campo prometendo reforço de peso para o time do desenvolvimento baiano. A torcida esperava um golaço de investimentos, empregos e tecnologia. Mas o que apareceu mesmo foi uma bola murcha no quesito respeito ao trabalhador. Em vez de chuteiras e capacetes brilhando no sol nordestino, a realidade era de jornadas esticadas além dos acréscimos, passaportes confiscados e dormitórios mais apertados que vestiário em clássico. E o juiz — ou melhor, o Ministério Público do Trabalho — apitou forte: entrou com ação contra a BYD e suas empreiteiras por trabalho análogo à escravidão e tráfico internacional de pessoas. Tem jogo que não dá pra deixar rolar.

Pontos Principais:

  • 220 operários chineses foram resgatados em condições degradantes na Bahia.
  • Trabalho escravo, tráfico internacional de pessoas e jornada exaustiva compõem o processo.
  • Passaportes retidos e alojamentos sem estrutura básica chocaram as autoridades.
  • O MPT cobra R$ 257 milhões em danos coletivos, além de indenizações individuais.

A investigação começou com um toque sutil, uma denúncia anônima que virou contra-ataque em alta velocidade. De um lado, a China JinJiang Construction e a Tonghe Equipamentos Inteligentes, hoje com nome de Tecmonta, de outro, 220 operários chineses que trocaram o país natal pelo canteiro em Camaçari acreditando em um projeto robusto. Só que o esquema era mais travado que retranca italiana: alojamentos com mais operários que camas, banheiros insuficientes (chegando ao ponto de 31 trabalhadores dividirem um único sanitário), comida duvidosa e vigilância armada no entorno. Nem o VAR da vida real conseguiria encontrar alguma jogada justa nisso tudo.

A construção da fábrica da BYD em Camaçari, Bahia, virou manchete após resgate de 220 trabalhadores em condições degradantes, numa denúncia sem precedentes.
A construção da fábrica da BYD em Camaçari, Bahia, virou manchete após resgate de 220 trabalhadores em condições degradantes, numa denúncia sem precedentes.

Se o torcedor acha ruim o time ficar sem descanso entre rodadas, imagine esses trabalhadores: jornada intensa, sete dias por semana, com direito a pausa só pra respirar fundo — e olhe lá. Em vez de contrato de primeira divisão, o que rolou foi visto para “serviços especializados”, mas na prática, estavam no pesadíssimo batente da construção civil. Foi o drible da burocracia, com bola nos pés da ilegalidade. O MPT viu, tabelou com a Polícia Federal e o Ministério do Trabalho e entrou na área com a seriedade de quem quer virar o placar no tribunal.

Na súmula do processo, o pedido é daqueles que fazem o dirigente suar na sala de imprensa: R$ 257 milhões por danos morais coletivos. Isso sem contar o extra de 21 vezes o salário por trabalhador prejudicado e um bônus (nada desejável) de um salário por dia vivido em condições degradantes. Fora as rescisões pendentes e uma multa de R$ 50 mil por cada descumprimento, multiplicada pelo número de vítimas. Se fosse campeonato, a conta era mais salgada que batata de estádio. Mas nesse caso, não tem como deixar pra pagar no segundo tempo.

A BYD, na tentativa de se defender, anunciou que rompeu contrato com a empreiteira e que preza pela legalidade. Disse ainda que não tolera desrespeito às leis brasileiras e à dignidade humana. Mas, como em todo jogo tenso, veio também a acusação de que o caso tenta “denegrir” a imagem chinesa. Só que quando o replay mostra gente sem colchão, passaporte retido e banheiro coletivo digno de filme de guerra, a bronca é com a realidade, não com a nacionalidade. O torcedor — ou melhor, o cidadão — quer é fair play, não justificativa de vestiário.

A história escancara um problema antigo que continua marcando presença nos jogos modernos: a terceirização como camisa 10 da omissão. Quando a coisa aperta, a culpa passa de pé em pé até ninguém saber quem deveria ter marcado o adversário. Mas o MPT deixou claro que, mesmo com tabelinhas contratuais, a responsabilidade é de quem chama o jogo. E quem convida o time pra campo não pode fingir que não viu o zagueiro quebrando o atacante. Aqui, a regra é clara: dignidade humana não é opcional.

No fim das contas, o placar parcial mostra que ainda temos muito a evoluir fora das quatro linhas. A chegada de multinacionais ao Brasil precisa ser marcada não só por investimentos, mas também por respeito às leis locais e aos direitos humanos. Não adianta prometer estádio moderno se o vestiário continua insalubre. O juiz apitou, o VAR confirmou e o torcedor quer justiça. Porque nesse campeonato da vida, quem joga contra o ser humano já começa perdendo.

Fontes: Migalhas, AP News

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