Alta no IOF pode colocar pressão sobre o dólar, concordam equipe econômica e mercado financeiro

Governo elevou o IOF sobre remessa de recurso para conta do contribuinte brasileiro no exterior, compra de moeda em espécie e cartão de crédito, além de ter abortado a estratégia de redução nos próximos anos. O governo e o mercado financeiro nem sempre concordam, mas desta vez chegaram a um entendimento: o aumento do IOF sobre operações cambiais, como compra de dólar em espécie e investimento em fundos no exterior, pode evitar uma queda maior do dólar no Brasil.
Ou, até mesmo, colocar uma pressão de alta na moeda norte-americana, que tem uma tendência histórica de subir em anos eleitorais, como é o caso de 2026.
Alta do IOF: Haddad diz que não tem problema em corrigir rota
A lógica é que, com o encarecimento da moeda estrangeira imposto pela equipe econômica nesta semana, haveria um desestímulo ao ingresso de divisas no país — encarecendo a moeda estrangeira.
Nesta sexta-feira, o dólar opera em alta, perto dos R$ 5,74, com o mercado financeiro analisando o aumento do IOF, e as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Veja mais cotações.
Pela medida anunciada pelo governo, o IOF para operações cambiais:
Passou 3,38% para 3,5% para Cartões de crédito e débito internacional, e cartão pré-pago internacional, cheques de viagem para gastos pessoais;
Subiu de 1,1% para 3,5% para remessa de recurso para conta do contribuinte brasileiro no exterior e compra de moeda em espécie;
Subiu de zero para 3,5% para empréstimo externo de curto prazo (até um ano);
Avançou de zero para 3,5% na saída dos recursos para “operações não especificadas”.
🔎Das medidas anunciadas nesta quinta (22), o governo recuou somente do aumento da taxação do IOF de zero para 3,5% para fundos de investimento no exterior.
Além de ter aumentado o IOF, o governo anunciou que a redução, antes prevista para os próximos anos, implementada por decreto do então presidente Jair Bolsonaro, não está mais programada. Sem as mudanças da equipe econômica de Lula, o IOF seria reduzido nos próximos anos para:
2026: para 2,38%
2027: para 1,38%
2028: para zero
Secretário do Tesouro fala sobre o impacto no dólar
Questionado nesta quinta-feira sobre a declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em janeiro deste ano de que o governo teria descartado, naquele momento, elevar IOF para conter saída de dólares, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, declarou que esse não foi o foco da medida anunciada nesta semana.
“Você [jornalista] citou a fala do ministro, de que não vai usar o o IOF para conter a alta do dolar. As alterações não tem qualquer papel de conter alta do dolar. Ao contrário, pode dizer que pode ter o papel de evitar uma queda maior do dólar no país”, declarou o secretário Rogério Ceron.
Mercado financeiro
De acordo com André Valério, economista sênior do Banco Inter, o aumento do IOF anunciado pela equipe econômica introduz mais “ruído” (incerteza) no mercado financeiro e “distorções”. “É quase que um choque de incerteza. Movimento é de pressão no real [alta do dólar]”, declarou.
Ele observou que a moeda norte-americana chegou a ser cotada em R$ 5,80 no mercado futuro nesta quinta-feira de noite, e depois mostrou alguma queda depois do recuo do governo sobre a taxação dos fundos de investimentos de brasileiros no exterior.
“Pode pressionar [o dólar pra cima] pelo canal de incerteza, de confusão da política econômica. Foi uma medida que pegou de surpresa, desagrada, saiu após o fechamento do mercado (…) Tem incertezas aí. Poderia impedir uma desvalorização maior, impedindo o fluxo de capitais. O efeito líquido seria de pressão sobre o real, canal de incerteza e aversão. Torna o investidor estrangeiro receoso pra investir aqui, pois pagaria mais pra retirar [recursos]. Pressiona um pouco o fluxo de entrada”, declarou André Valério, do Banco Inter.
Filippe Santa Fé, head de multimercados do ASA, observou que o real estava com uma tendência positiva no período recente, ou seja, com queda do dólar, auxiliado por fatores externos que enfraqueceram a moeda norte-americana globalmente e um diferencial de juros com o resto do mundo elevado (Selic alta, em 14,75% ao ano).
“O aumento do IOF para transações cambiais atua na direção contrária [de pressão sobre o dólar], como atestado pela depreciação do real a partir do momento que as notícias sobre o imposto começaram a circular”, acrescentou Filippe Santa Fé, do ASA.
Para o analista, apesar de o aumento do IOF incidir em um “conjunto restrito de transações cambiais (e de já ter havido um recuo na incidência do aumento de imposto para operações de fundos e investimentos de pessoa física no exterior), a decisão do governo de utilizar o IOF para fins arrecadatórios, num momento em que a situação fiscal está frágil e há baixo apetite no congresso para novos aumentos da carga tributária, eleva o risco de novos incrementos de IOF no futuro para endereçar o déficit nas contas públicas.
“Também cresce o risco de o IOF mais elevado incidir sobre um conjunto mais amplo de transações cambiais. Num quadro de deterioração fiscal mais extremo, o IOF em transações cambiais poderia ser visto também como uma maneira de encarecer o investimento brasileiro no exterior relativamente ao investimento doméstico e atenuar a fuga de investidores estrangeiros da dívida doméstica, facilitando o financiamento da dívida pública sob condições mais adversas. A maior probabilidade desses eventos é ruim para a dinâmica do real”, acrescentou ele.
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