Há cinco investigações de suspeita de gripe aviária no Brasil

Embora o Brasil seja referência mundial na produção e exportação de carne de frango, o setor vive dias de incerteza. A confirmação da presença do vírus da gripe aviária (H5N1) em uma unidade comercial no país pela primeira vez acendeu um sinal de alerta em autoridades sanitárias, produtores e especialistas. Com o histórico de surtos devastadores em outros países, a palavra de ordem agora é prevenção.O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou na última segunda-feira (19) que segue monitorando três casos suspeitos de gripe aviária em território nacional. Dos seis registros que estavam sob análise, metade foi descartada após testes laboratoriais com resultado negativo.CONTEÚDO RELACIONADOMortes de gansos e patos em zoológico foram por gripe aviáriaPode comer ovos e frango após foco de gripe aviária no Brasil?Fatos importantes sobre o novo surto de gripe aviária no BrasilA confirmação do primeiro foco do vírus H5N1 em uma granja comercial brasileira, na última sexta-feira (16), elevou o nível de preocupação quanto à possível disseminação da doença. O episódio ocorreu em Montenegro (RS), onde cerca de 17 mil aves foram afetadas – parte morreu e o restante foi sacrificado como medida de contenção. No dia seguinte, autoridades também confirmaram a morte de 38 aves silvestres, entre cisnes e patos, em um zoológico localizado a aproximadamente 50 quilômetros de distância.Quer mais notícias nacionais? Acesse o canal do DOL no WhatsApp.As atenções agora se voltam para outras três áreas do país com suspeitas em análise: granjas comerciais em Ipumirim (SC) e Aguiarnópolis (TO), além de uma unidade de produção familiar de subsistência em Salitre (CE). Já as amostras colhidas em Gracho Cardoso (SE), Nova Brasilândia (MT) e Triunfo (RS) testaram negativo para o vírus.SITUAÇÃO PODE SER REVERTIDAO ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que a situação pode ser revertida em menos de um mês, desde que não haja novos casos. “O protocolo do ciclo é de 28 dias para a gripe aviária. Se em 28 dias não houver nenhum outro caso confirmado no Brasil, nós podemos, baseado em ciência, dizer que o Brasil está livre de gripe aviária em todo o território nacional”, declarou o ministro.A estratégia segue o padrão da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), que estabelece que a ausência de novos focos por 28 dias, após a erradicação do último caso confirmado e a adoção de medidas sanitárias rigorosas, permite ao país solicitar a recuperação do status de livre da doença.VIGILÂNCIA INTENSAContudo, o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Unesp, adverte que o trabalho não termina com o cumprimento desse prazo.”Na prática, a vigilância deve continuar intensa, pois o vírus ainda circula em aves silvestres e há risco de reintrodução. Ou seja, mesmo que o status internacional seja retomado, ainda será necessário manter o monitoramento contínuo, protocolos rígidos de biossegurança e ações integradas entre os setores da saúde animal, humana e ambiental – dentro da abordagem conhecida como One Health”, ressalta.POSSIBILIDADE DE NOVOS FOCOS PREOCUPAA eventual confirmação de novos focos pode dificultar ainda mais o controle da situação, segundo o virologista Fernando Spilki. “Internamente, muda a necessidade de um trabalho mais intensivo para tentar manter um esforço de proteção de uma área geográfica mais espalhada, que é sempre um problema”, alerta.Esse risco de expansão territorial preocupa também a pesquisadora Mellanie Fontes-Dutra, da Unisinos. “Será importante fazer o sequenciamento dessas amostras para entender se esse vírus já apresenta alguma mutação de interesse ou diferente do que estamos vendo em outros H5N1 que têm circulado nos EUA e em outras localidades do mundo”, explicou.RISCO DE MUTAÇÕES DO VÍRUSEla lembra que a cada novo hospedeiro infectado, aumentam as chances de mutações que favoreçam a adaptação do vírus a outros animais, incluindo mamíferos e humanos – o que eleva o potencial de transmissão cruzada entre espécies.SURTO NOS EUA SERVE DE EXEMPLOA trajetória da gripe aviária em países como os Estados Unidos serve de alerta. Desde 2022, o surto se tornou o mais grave da história americana, atingindo mais de 170 milhões de aves e causando um prejuízo superior a US$ 1,4 bilhão. A escalada dos preços dos ovos foi uma das consequências visíveis.”Ao fazer uma comparação com esses países, a gente imagina que seja difícil parar no primeiro ou segundo caso. Normalmente isso avança mais, mas depende da eficácia das medidas adotadas. O perigo é a capacidade que esse vírus tem de se disseminar. É um momento de alerta, preocupação e de tomar todos os esforços necessários para evitar a expansão”, frisou Spilki.BRASIL TOMOU AS MEDIDAS CERTASApesar dos desafios, especialistas reconhecem o esforço brasileiro em manter a gripe aviária distante das granjas comerciais por tanto tempo.”O Brasil conseguiu retardar por bastante tempo a entrada do vírus em granjas comerciais, o que mostra que as medidas de biossegurança estavam funcionando. Contudo, com o primeiro foco confirmado em uma unidade de produção comercial no Rio Grande do Sul e outros casos sob investigação, é preciso intensificar ainda mais a vigilância”, afirmou Barbosa.O Brasil, que é um dos maiores exportadores mundiais de carne de frango, aposta na eficácia da vigilância sanitária e na rápida resposta às ameaças para preservar a confiança internacional em seus produtos – e evitar que o vírus se torne um problema de maiores proporções.
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