Psicanalista questiona falta de cobrança ao “identitarismo branco”

O uso do termo “identitarismo” ganhou força no debate político recente, quase sempre associado a movimentos de esquerda cuja pauta central está no combate a desigualdades de gênero ou raça, por exemplo. O “identitarismo branco“, porém, é pouco questionado, segundo disse nesta 4ª feira (14.mai.2025) Érico Andrade, psicanalista e professor de filosofia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Andrade participou da mesa “A esquerda e as questões de identidade como estratégia pública”, parte de uma série de seminários promovida pela FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP (Universidade de São Paulo). Além de chamar atenção para o “identitarismo branco“, o psicanalista cobrou quem defende a existência de uma “democracia racial“, ideia que nega o racismo no Brasil.

O identitarismo é um conceito que se refere a práticas e discursos políticos que colocam a identidade como eixo central das lutas sociais, políticas e culturais. Trata-se da lógica de atuação dos brancos ao negarem mobilizações que buscam reduzir desigualdades. “A democracia racial nunca pôs em xeque o identitarismo branco“, disse Andrade.

Ele defendeu também que pardos (45% da população) e pretos (10% da população), denominações usadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sejam classificados como pessoas negras. “Reivindicar o pardo como categoria identitária é justamente reafirmar o projeto identitário colonial“, afirmou o psicanalista.

Também participante da mesa, Priscilla Santos, psicóloga e pesquisadora da USP, destacou a importância de disputar as formas de subjetivação que sustentam as estruturas sociais. “É preciso disputar o que é a identidade, o que é o desejo, o que é a verdade, o que é a política”, disse. Para ela, a esquerda deve se engajar na disputa pelos sentidos das palavras.

Terceiro debatedor da mesa mediada pela jornalista Marsílea Gombata, o psicanalista Douglas Barros, da UFF (Universidade Federal Fluminense), abordou como a questão da identidade emerge na vida cotidiana, mesmo que não se queira abordá-la. “Eu nunca quis falar de identidade. Eu queria falar de literatura, de estética. Mas algo sempre me colocava nesse lugar”, afirmou Barros, ao relatar episódios de racismo. “Tem sempre um momento que a gente olha e fala: ‘então era isso… era racismo’.

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