Traficantes de outros estados que usavam favelas do Rio para se esconder passam a comandar o crime em comunidades da cidade


Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio revelou a nova dinâmica do crime organizado. Traficantes de outros estados que usavam favelas do Rio para se esconder passam a comandar o crime em comunidades da cidade
Reprodução/TV Globo
Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio revelou uma dinâmica nova do crime organizado. Até então, as autoridades de segurança achavam que traficantes de outros estados usavam as favelas do Rio de Janeiro como esconderijo, mas não é bem assim.
A porta era blindada. Não foi fácil, mas a polícia conseguiu entrar. O apartamento em Guarulhos, na Grande São Paulo, era só uma das pontas de uma investigação que começou na Muzema, Zona Oeste do Rio de Janeiro. O trabalho dos policiais e promotores mostra o quanto a facção Comando Vermelho já se ramificou pelo Brasil afora.
A operação desta terça-feira (13) buscou criminosos de seis estados e quatro regiões. Segundo a polícia, as armas dos traficantes do Rio são fornecidas até por uma loja da Avenida Faria Lima, em São Paulo, o principal centro financeiro do país. Na denúncia, a figura central dessa imensa rede é Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, conhecido como Da Roça ou Zeus, que está foragido.
É o primeiro caso conhecido de um traficante de outro estado que recebeu uma área para comandar na cidade do Rio, o berço da facção. Da Roça veio de Rondônia e, de acordo com o inquérito, expulsou milicianos e se tornou o “dono” da comunidade da Muzema – tráfico, roubo, cobrança de taxas e serviços dos moradores. As acusações contra Da Roça envolvem grandes quantias, como os mais de R$ 5 milhões de uma planilha ou um pedido no celular, como se fosse uma conversa banal:
“Na minha conta está faltando R$ 1.672.930”.
Armamento pesado era comprado no PIX, feito diretamente do traficante para Eduardo Bazzana, presidente de um clube de tiro e dono de uma loja de armas em Americana, no interior de São Paulo. Ele foi um dos dez presos nesta terça-feira (13).
No Rio, a polícia encontrou um verdadeiro arsenal em um outro endereço. E foi preciso procurar bastante porque a casa era grande. Na mansão da Zona Oeste com piscina e campo de futebol mora Jonnathan Schmidt Yanowich, que foi preso acusado de lavar dinheiro do tráfico. Ele tem registro de colecionador, o chamado CAC.
Também foi preso César Sinigalha Alves. Ele fazia manutenção das armas do bando e mandava vídeos sem a menor cerimônia. Eram até dez fuzis de uma vez só. Como se fosse um trabalho honesto e como se fossem clientes normais, o armeiro passava o maior sermão:
“Isso aqui é muito mato que está tendo. Mato, sereno, poeira. Essas peças aqui não são tratadas, rapaz. Olha que dó. A gente tem um fuzil lindo desses e sendo comido pelo tempo”.
Ele ainda reclamava quando não pagavam a taxa de teste do equipamento:
“Não testei porque falaram que era tão somente limpeza! Sem teste”.
Mas quando pagavam, ele testava.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa dos presos na operação.
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