Lula fará balanço de reuniões para decidir sobre tarifas, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 2ª feira (12.mai.2025) que, depois da volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Brasil, o governo fará um “balanço” das conversas com autoridades globais para decidir as medidas sobre tarifas comerciais dos Estados Unidos.

Lula sancionou a Lei da Reciprocidade, que autoriza o Brasil a adotar a reciprocidade tarifária e ambiental no comércio com outros países. Segundo Haddad, “até o bolsonarismo” votou pela aprovação do projeto. Ele concedeu entrevista ao portal UOL nesta 2ª feira (12.mai.2025).

Haddad foi na última semana aos Estados Unidos. Haddad teve reunião com Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA. Lula está na China para reuniões bilaterais.

Não é a 1ª [reunião] que o Brasil tem com os Estados Unidos, porque o vice-presidente [Geraldo] Alckmin está envolvido nessas negociações. Agora, com o presidente voltando, nós vamos poder fazer um balanço dessas interlocuções todas e vamos poder tomar decisões”, disse Haddad.

Segundo o ministro, Bessent reconheceu a “estranheza” do Brasil ser taxado, sendo que, diferentemente da China, tem deficit comercial com os Estados Unidos, ou seja, importa mais do que exporta.

De acordo com ele, o Brasil está fazendo uma política certa, porque não está escolhendo bloco econômico. “O Brasil sabe que, para se desenvolver, precisa de bons acordos comerciais com a Ásia, bons acordos comerciais com a Europa e um bom acordo também com os Estados Unidos”, defendeu.

Haddad defendeu também que os EUA precisam olhar com mais “generosidade” para os países da América do Sul.

A América do Sul é deficitária nas suas relações comerciais com os Estados Unidos. Como é que você taxa uma região que é deficitária? Do ponto de vista econômico, não faz o menor sentido isso. Ele, de fato, reconheceu quando eu disse isso”, declarou Haddad.

Para ele, os Estados Unidos deveriam olhar para o continente americano de uma forma mais “estratégica” e “de longo prazo”. Defendeu que o país norte-americano tem muito a ganhar com o maior equilíbrio regional e desenvolvimento industrial.

O continente, se tiver vulnerabilidades, como tem hoje, e eu não estou falando do Brasil […], quanto mais um país é vulnerável, mais ele se torna presa fácil de interesses comerciais do mundo inteiro. Do meu ponto de vista, os EUA deveriam olhar com mais generosidade para a América Latina e América do Sul”, declarou.

EUA & CHINA

Haddad disse que o presidente não vai escolher entre os EUA e a China. Declarou que o chefe do Estado é visto como um “genuíno democrata” por ter lutado contra a Ditadura e nunca ter contestado o resultado eleitoral.

O ministro declarou que Lula tem acesso às autoridades do mundo inteiro. “Talvez seja um dos poucos governantes que tenham portas abertas em qualquer quadrante do mundo”, disse. Outra qualidade do presidente, segundo Haddad, é acreditar no multilateralismo.

Ele pensa que o Brasil, sobretudo pela sua dimensão […], nem pode pensar em outra política que não seja multilateral”, disse. Lula está na China. Na última semana, Haddad foi aos Estados Unidos.

A China e os Estados Unidos concordaram em reduzir as tarifas sobre os produtos importados entre os 2 países por um período inicial de 90 dias. O acordo foi firmado nesta 2ª feira (12.mai.2025), depois de negociações realizadas em Genebra, na Suíça, durante o fim de semana.

Na prática, de acordo com a declaração conjunta divulgada, a partir de 14 de maio, os norte-americanos reduzirão temporariamente as suas tarifas sobre os produtos chineses, que estavam em 145%, para 30%, enquanto a China reduzirá suas taxas sobre os produtos importados dos EUA, então taxados em 125%, para 10%.

Eu penso que eles estão tentando encontrar um caminho de reequilibrar algumas variáveis macroeconômicas muito importantes. O deficit externo americano é muito elevado. O deficit interno é elevado. A taxa de juros está alta há muito tempo. Isso tudo vai complicando um pouco a vida dos americanos”, disse o ministro.

Haddad declarou que os Estados Unidos se promoveram muito com a globalização, o que é possível verificar com o crescimento da renda per capita norte-americana. Defendeu que a China, porém, se beneficiou “muito mais”. E completou: “E isso gera incômodo para um país que, até outro dia, enfrentou a União Soviética e o Japão e venceu, por assim dizer, um e outro. E agora está com um desafio maior, porque a China é uma potência militar e econômica”.

O ministro disse que o país asiático tem ocupado a fronteira dos avanços tecnológicos e tem uma população de 1,4 bilhão de habitantes.

TECNOLOGIA

Haddad disse que o Brasil importa 60% dos serviços de data centers. Para ele, o percentual “não faz sentido”, porque o país tem energia limpa e barata. O ministro defende que é um tema de segurança nacional, porque há dados bancários que são encaminhados a outros países, como os Estados Unidos.

Segundo o ministro, o Brasil não deveria processar dados dos pagadores de impostos ou de pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde). Haddad declarou que data centers precisam estar em território nacional e, alguns deles, terão que ser protegidos pelos dados processados.

O ministro afirmou que Lula marcará uma data para lançar a política nacional para implementação e atração de data centers no Brasil quando voltar de viagem internacional. O Poder360 já mostrou que a nova regra deve atrair R$ 2 trilhões em 10 anos.

“O Brasil tem um cabeamento superior aos seus vizinhos, de melhor qualidade. O país tem tudo para processar aqui os seus dados, inclusive por razões de segurança”, afirmou Haddad. “Isso está sendo pensado, inclusive, em termos de compras governamentais, de como é que o governo vai contratar o processamento de dados. Isso precisa ser discutido com a sociedade para proteger os dados dos cidadãos”, completou.

Haddad disse que a política nacional permitirá, também, a redução do deficit externo do Brasil com a conta de serviços. O Brasil envia recursos a outros países para utilizar serviços de data centers.

REFORMA TRIBUTÁRIA

Haddad disse que a reforma tributária terá “consequências proveitosas” para o Brasil. “É uma reforma esperada há mais de 40 anos no Brasi, e finalmente realizada. Eu quero crer que vai ser meu principal legado no Ministério da Fazenda essa reforma, embora vá ter efeitos diferidos no tempo”, disse.

Haddad declarou que o sistema tributário será um dos melhores do mundo. Afirmou que permitirá a digitalização da economia brasileira, o que classificou como algo transformador para o país.

Segundo ele, investidores de diversas áreas, como data centers, energia ou automobilístico, serão beneficiados com a desoneração dos investimentos e exportação.

Vai acabar o papel, a nota fiscal. Tudo vai ser eletrônico, inclusive o pagamento de tributos. Vão ser endereçados para municípios, Estados e União automaticamente”, disse Haddad. “Eu estou pensando numa reforma tributária que, efetivamente, transforme o Brasil em plataforma de produção de bens e serviços, inclusive para exportação”, acrescentou.

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