Lira é um “negociador duro”, mas cede diante de dados, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 2ª feira (12.mai.2025) em entrevista ao portal UOL que o deputado Arthur Lira (PP-AL), relator do projeto que isenta salários de até R$ 5.000 do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física), é um “negociador duro”, mas cede com dados inquestionáveis.

Lira foi o presidente da Câmara durante os 2 primeiros anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Haddad negociou pautas econômicas com o congressista no período.

Eu não vou dizer, porque ninguém vai acreditar, que as negociações foram fáceis com ele. Mas aconteceram. Ele é uma pessoa que senta, é dura na negociação, mas conversa. Diante de dados inquestionáveis, ele cede”, disse. “É um negociador duro, que pensa diferente, mas que quando é exposto a um conjunto de dados, sente e negocia. E, quando faz um acordo, cumpre”, completou.

Lira afirmou na 3ª feira  da semana anterior (6.mai.2025) que apresentará o relatório do texto à comissão especial em 27 de junho, mas que há “descompasso” e “assimetria” no texto divulgado pelo governo federal.

Para financiar a isenção do imposto de quem recebe até R$ 5.000, a equipe econômica propôs taxar a renda dos mais ricos e cobrar impostos de dividendos enviados ao exterior.

Uma pessoa que tem mais de 100 mil de renda por mês hoje está isenta de imposto. Não faz o menor sentido”, disse Haddad. “O presidente Lula está no seu 3º mandato. É a 1ª vez que um governo dito progressista apresenta uma proposta para fazer o mínimo de justiça e tem gente reclamando. Essa proposta tinha que ser aprovada em 15 dias, na minha opinião, de tão justa que ela é”, completou.

TAXAÇÃO DO PIX

Haddad declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “chegou a defender e desistiu” de taxar o Pix. O ex-ministro da Economia Paulo Guedes defendia a criação de um microimposto sobre transações digitais com alíquota de 2%. Negava que seria uma nova CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), mas um imposto digital sobre transações.

O Bolsonaro desistiu de isentar o trabalhador que ganha R$ 5.000, que era uma promessa que ele tinha feito, e passou a querer cobrar sobre o Pix o CPMF. Ficou 2 ou 3 anos com o Marcos Cintra, como secretário da Receita [Federal], e o Guedes defendendo a volta da CPMF com outro nome”, disse Haddad. Cintra deixou o cargo no 1º ano do governo Bolsonaro.

No governo Bolsonaro, Guedes defendeu que a arrecadação do tributo fosse destinada para cobrir os custos da desoneração da folha de pagamento das empresas, o que poderia impulsionar novas contratações.

Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal, deixou o cargo depois de apoiar a taxação de movimentações financeiras. Bolsonaro publicou em rede social: “Tentativa de recriar CPMF derruba chefe da Receita. Paulo Guedes exonerou, a pedido, o chefe da Receita Federal por divergências no projeto da reforma tributária. A recriação da CPMF ou aumento da carga tributária estão fora da reforma tributária por determinação do presidente”, disse em 11 de setembro de 2019.

O Congresso e o governo Bolsonaro não avançaram para a aprovação da reforma tributária. Segundo Haddad, a conquista será o maior legado da gestão atual do governo Lula na área econômica.

REFORMA TRIBUTÁRIA

Haddad disse que a reforma tributária sobre o consumo, já sancionada, terá “consequências proveitosas” para o Brasil. “É uma reforma esperada há mais de 40 anos no Brasil, e finalmente realizada. Eu quero crer que vai ser meu principal legado no Ministério da Fazenda essa reforma, embora vá ter efeitos diferidos no tempo”, disse.

Haddad declarou que o sistema tributário será um dos melhores do mundo. Afirmou que permitirá a digitalização da economia brasileira, o que classificou como algo transformador para o país.

Segundo ele, investidores de diversas áreas, como data centers, energia ou automobilística, serão beneficiados com a desoneração dos investimentos e exportação.

Vai acabar o papel, a nota fiscal. Tudo vai ser eletrônico, inclusive o pagamento de tributos. Vão ser endereçados para municípios, Estados e União automaticamente”, disse Haddad. “Eu estou pensando numa reforma tributária que, efetivamente, transforme o Brasil em plataforma de produção de bens e serviços, inclusive para exportação”, acrescentou.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.