Com Leite no PSD, Kassab ganha uma carta e uma encrenca para 2026

Eduardo Leite se filiou na sede nacional do PSD, localizada em São PauloReprodução/Instagram

Gilberto Kassab ganhou um reforço e uma encrenca ao tirar do PSDB e trazer para o PSD o governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite.

A sigla saiu da eleição de 2022 com dois governadores eleitos: Ratinho Jr., no Paraná, e Fábio Mitidieri, em Sergipe.

Agora, com Leite, o PSD possui o comando de quatro executivos estaduais. Também eleita pelo PSDB, Raquel Lyra, de Pernambuco, já havia pulado para o barco de Kassab em fevereiro.

Sobrou, para o PSDB, apenas um governador, Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul. Por enquanto. Riedel, que formou um gabinete com amplo apoio em seu estado, é hoje assediado tanto pelo PSD quanto pelo PL, de Jair Bolsonaro.

Sim: às vésperas da fusão com o Podemos o PSDB pode ficar sem nenhum governador.

O último a sair que apague a luz.

Em 2002, mesmo com a derrota de José Serra (PSDB) para Lula (PT), a legenda estava à frente de sete estados: São Paulo, Minas, Goiás, Pará, Ceará, Paraíba e Rondônia. Não era pouca coisa.

A diáspora de governadores tucanos representa mais um prego no caixão da legenda que elegeu Fernando Henrique Cardoso presidente e disputou com o PT quatro segundos turnos seguidos.

Hoje, come poeira num entreposto mal definido entre o centrão e a direita mais radical. Essa direita raivosa tomou forma a partir da ascensão de Jair Bolsonaro (PL), um resultado direto do flerte de lideranças como Aécio Neves (PSDB) com o que havia de mais extremo no país após a derrota para Dilma Rousseff (PT) em 2014.

A legenda que queria ganhar no grito, quem diria, acabou sendo engolida por quem gritava (e agredia) mais.

Leite sabia disso ao pular de barco tucano. 

Há um ano, ele era um dos entusiastas da candidatura de José Luiz Datena para a prefeitura de São Paulo.

O plano era fazer da capital paulista o ponto 0 da reconstrução tucana. Deu no que deu.

O PSDB saiu da disputa com apenas 276 prefeitos eleitos – nenhum em capitais.

O PSD de Kassab, por sua vez, foi o partido que mais papou prefeituras: 891.

Tudo isso mantendo um pé na canoa do governo Lula, com os ministérios da Agricultura, Pesca e Minas e Energia, e outro no de Tarcísio de Freitas (Republicanos), de quem Kassab é secretário de Governo e eminência parda.

Com Leite, Kassab ganha agora uma carta para a disputa presidencial de 2026, o sonho do ex-tucano desde a eleição passada, quando foi boicotado até o limite pela própria legenda.

Kassab terá de administrar, porém, as pretensões de outras lideranças pessedistas, como Ratinho Jr., governador do Paraná que também quer disputar o Planalto no ano que vem.

Isso sem contar Tarcísio, apontado como sucessor do inelegível Jair Bolsonaro.

Kassab já deu sinais de que pretende manter Tarcísio onde está, no Palácio dos Bandeirantes, e construir uma candidatura alternativa a PT e PL. Ou ao menos ganhar poder de barganha na hora de decidir se vai apoiar uns ou outros.

Depende de onde apontam os ventos da sucessão.

Poucos duvidam da capacidade de Kassab de sentir o cheiro da oportunidade e se movimentar para seguir exatamente onde está.

Leite confiou no faro do novo chefe e pulou de barco após 24 anos de PSDB.

Para desgosto de Aécio, que lamentou a saída do colega em um momento em que a legenda se fortalece (sic) ao ensaiar a fusão com um partido menor.

Acredita quem quiser.

Não tem maior retrato da situação atual de uma legenda do que a movimentação na porta de entrada. Ou de saída.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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