Consumo de energia de data centers igualará o de 25 mi de pessoas

O consumo de energia de data centers no Brasil em 2037 será equivalente ao de 25 milhões de pessoas. A informação está presente no PDE 2034 (Plano Decenal de Expansão de Energia) da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Eis a íntegra (PDF – 15MB).

O cálculo deste jornal digital foi o seguinte:

  • Segundo Roberto Beauclair, diretor de Tecnologia do Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica da Eletrobras), um data center de grande porte, de 10 MW, tem o mesmo consumo, por hora, de uma cidade de 100 mil habitantes;
  • O MME (Ministério de Minas e Energia) estima que, em 12 anos, a soma do consumo de todos os data centers em território nacional será de 2,5 GW (Gigawatts). O valor corresponde a 2.500 MW (Megawatts);
  • Se 10 MW equivalem à energia de 100 mil pessoas, 2.500 MW correspondem ao consumo de 25 milhões. A título de comparação, o Censo Demográfico de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) contabiliza que a região metropolitana de São Paulo tem quase 21 milhões de habitantes.

Hoje, o Brasil tem 181 data centers. Até 2034, terá entre 400 e 500, de acordo com Beauclair.

Segundo levantamento da australiana Cloudscene, plataforma marketplace de compra e venda de serviços de dados, os Estados Unidos tinham 5.388 data centers em março de 2024. Isso representa 45% da capacidade mundial. “Não à toa as grandes empresas de tecnologia estão lá: Google, Microsoft e Amazon”, disse Beauclair.

O analista de pesquisa energética na EPE, Allex Yukizaki, afirmou que os países europeus aparecem em segundo lugar no ranking mundial, com participação entre 4% e 5% da capacidade global. O Brasil ocupa cerca de 1%.

Yukizaki disse que, apesar da diferença, o país não está tão distante dos outros. “A perspectiva de alguns estudos é que a expansão ocorra até mais rapidamente em países em desenvolvimento do que em países de primeiro mundo”.

Para Arnaldo Junior, consultor técnico da EPE, essa conjuntura abre uma oportunidade comercial para o Brasil. “Teremos energia para isso. O potencial é enorme.”

SOB ANÁLISE

Dados do MME (Ministério de Minas e Energia) mostram que existem hoje 42 projetos de instalação de data centers no Brasil. Estão concentrados nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará, Rio de Janeiro e Bahia, e aguardam aprovação. Em maio de 2024, eram só 12.

Em entrevista ao Poder360, o analista de pesquisa energética na EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Allex Yukizaki, afirmou que o aumento no número de pedidos reflete um momento de entusiasmo generalizado. “São quase 12 GW de carga. Mas sabemos que nem todos os projetos vão se concretizar”.

A viabilidade de um data center depende de estudos técnicos. O processo começa com um pedido de acesso ao Sistema de Transmissão, feito pelo consumidor, que será avaliado pelo MME. Em seguida, a empresa solicita acesso ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

Se aprovado, o MME publica uma portaria com a solução de menor custo global para a conexão do consumidor. Depois, o ONS emite um Parecer de Acesso com as condições técnicas exigidas.

Na etapa final, o consumidor protocola um pedido na ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) para obter autorização de acesso. Nele, coloca as permissões, cronograma das obras e o projeto básico.

A maioria dos pedidos de construção de data centers são voltados, respectivamente, para as regiões Sudeste, Sul e Nordeste. A concentração geográfica gera uma competição interna, segundo Yukizaki.

“Se um entra, inviabiliza a entrada do outro. Não podemos simplesmente colocar uma demanda gigante e onerar quem paga a conta. Nem subdimensionar a demanda e faltar energia”.

POTÊNCIA REGIONAL

Empresas de data centers levam em consideração 3 pontos principais para decidir a localização do seu empreendimento. São eles:

  • renovabilidade da fonte de energia;
  • proximidade do consumidor final;
  • distância da fonte de energia.

São Paulo e Rio de Janeiro são um polo de data centers porque estão próximos do consumidor final dos dados. Já o Nordeste se destaca pela sua disponibilidade energética e a proximidade com os cabos de conectividade dos Estados Unidos e da Europa.

Em abril, o governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Rafael Fonteles (PT), disse em entrevista ao Poder360 que seu Estado possui grandes vantagens competitivas para se consolidar no setor. Uma delas é a ZPE (Zona de Processamento de Exportação) da Parnaíba.

A área de “livre comércio” não cobra impostos de importação e exportação. Dessa forma, o maquinário necessário para a instalação de data centers está isento de alíquotas como o ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços). A única outra ZPE em operação no território nacional é o Complexo de Pecém, no Ceará.

“Sabemos que é uma agenda de longo prazo, mas temos que plantar agora para colher num futuro breve. Acreditamos que seremos um grande protagonista nessa indústria de data centers, que tem tudo para vir ao Brasil”, declarou. Fonteles se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em 9 de abril, para levar reivindicações de projetos de data centers.

O governador também disse estar preocupado com a inflação de pedidos e a subsequente disputa dentro do Brasil. “A competição não deve ser entre estados, mas entre países”, afirmou.

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