Fraude no INSS: divergência de dados pode impedir devolução de dinheiro a aposentados

Fraude no INSS, foto mostra fachada de prédio da instituição de cima para baixo, coluna onde está escrito "previdência social" na vertical

Fraude no INSS pode ter desviado mais de R$ 6 bilhões de aposentados e pensinistas – Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil/ Reprodução/ ND

Uma divergência entre as auditorias feitas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e pela CGU (Controladoria-Geral da União) pode dificultar a identificação da devolução do dinheiro às vítimas da fraude no INSS. As investigações foram realizadas com metodologias diferentes e apresentaram resultados distintos quanto ao tamanho das fraudes nos descontos de aposentados e pensionistas.

Em 23 de abril, uma operação da Polícia Federal e da CGU desmantelou um esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões, realizado por entidades conveniadas ao INSS. O valor do rombo pode ultrapassar R$ 6 bilhões.

Conforme o Estadão, os descontos ilegais apresentaram uma dimensão menor para o INSS do que os números divulgados pela CGU.

A CGU afirmou que os resultados são diferentes “em decorrência de as auditorias terem escopos diversos, inclusive alinhados entre a equipe da CGU e a equipe da Auditoria-Geral do INSS”.

Já o INSS reforçou que o governo atual tomou “ações imediatas” para coibir a fraude.

Entenda a diferença entre as auditorias feitas para apurar a fraude no INSS:

A auditoria do INSS foi feita entre janeiro de 2023 e maio de 2024, período em que a instituição analisou ao menos 1,163 milhão de pedidos de cancelamento e constatou que 90% deles não haviam sido autorizados. No entanto, o instituto não entrevistou os aposentados presencialmente, como fez a CGU.

“De acordo com informações fornecidas pelos requerentes, do total de 1.163.455 tarefas de exclusão de descontos, 73.848 referem-se a descontos autorizados, 33.317 não têm informação quanto à autorização, e 1.056.290, correspondendo a aproximadamente 90,78%, apresentaram a indicação de não autorização dos descontos associativos”, diz o INSS na auditoria divulgada em setembro de 2024.

Mas o INSS reduziu a faixa de descontos não autorizados de 90% para 54% após analisar 603 casos em que a documentação foi apresentada pelas próprias associações, referente a cada aposentado.

“Em relação aos 603 casos da amostra em que foi solicitado às entidades a documentação que deu origem aos descontos associativos, em 329 (54,5%) não houve a apresentação dos documentos necessários à comprovação da regularidade desses descontos”, disse a auditoria do órgão.

Já a CGU adotou uma abordagem diferente para apurar a fraude no INSS e entrevistou presencialmente 1.273 aposentados e pensionistas de todo o país entre abril e julho de 2024. A Controladoria concluiu que 97,6% dos beneficiários não autorizaram os descontos.

Ao analisar a documentação retida pelas associações, os resultados da CGU também mudaram, assim como os do INSS. Do total de 1.273 pessoas, as associações enviaram documentos que comprovariam a autorização de 90 delas. No entanto, a porcentagem de vítimas que não autorizaram os descontos continuou alta.

“Quando considerados apenas os 90 entrevistados para os quais foram apresentadas as fichas enviadas pelas entidades, os percentuais permanecem altos: 81,1% e 80% para as negativas de autorização e de filiação, respectivamente”, afirmou o órgão.

Com o resultado, a CGU concluiu que há probabilidade de os documentos terem sido falsificados durante a fraude no INSS.

“Este resultado, por sua vez, revela que as assinaturas podem estar sendo recolhidas sem o conhecimento do beneficiário sobre a finalidade ou, inclusive, que as documentações podem estar sendo fraudadas”, disse o órgão.

Entenda o caso da fraude no INSS:

Em coletiva, o ministro da CGU, Vinícius Carvalho, detalhou que as associações ofereciam serviços como descontos em academias e planos de saúde, sem ter estrutura para fornecê-los.

A fraude no INSS teria ocorrido entre 2019 e 2024, período em que as entidades teriam falsificado assinaturas de beneficiários do INSS.

Na terça-feira (29), o ministro da Previdência, Carlos Lupi, esteve na Câmara para falar sobre a investigação que apura a fraude no INSS. Em sua fala, ele admitiu que houve demora na apuração e a prática ocorre há anos.

“A Previdência Social tem problemas de fraude há muitos anos. Não é de hoje, há muitos anos. Coibir essa fraude é uma tarefa muito difícil, porque, como já falei, não é uma estrutura micro, como você pode assinar um papel e resolver”, afirmou.

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