Tarifas de Trump reduzem demanda dos portos e frete aéreo dos EUA

Operadores de portos de contêineres e gerentes de frete aéreo relatam quedas acentuadas em mercadorias transportadas da China desde o início da guerra comercial do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), com Pequim.

Grupos de logística informaram ao jornal Financial Times que as reservas de contêineres para os EUA caíram significativamente com a introdução de tarifas de 145% sobre as importações chinesas para os EUA.

O Porto de Los Angeles, principal entrada de mercadorias da China, espera que as chegadas programadas a partir de 4 de maio sejam 1/3 menores do que de 2024, enquanto as transportadoras aéreas também relataram quedas expressivas nas reservas.

Já as reservas de contêineres padrão de 20 pés da China para os EUA em abril foram 45% menores do que no ano anterior, de acordo com dados do serviço de rastreamento de contêineres Vizion.

O secretário-geral da Câmara de Comércio Internacional, John Denton, disse que a turbulência nos fluxos comerciais entre China e EUA refletia nos comerciantes “adiando decisões” enquanto esperavam para ver com que rapidez Washington e Pequim poderiam chegar a um acordo para reduzir tarifas.

Uma pesquisa com integrantes do ICC (Câmara de Comércio Internacional, em tradução para o português) realizada em mais de 60 países após o anúncio de tarifas do “dia da libertação” de Trump em 2 de abril mostrou expectativas de que o comércio seria permanentemente impactado, independentemente do resultado das negociações futuras.

“O custo de acesso ao mercado americano seria o mais alto desde a década de 1930”, disse Denton se referindo à tarifa básica para todos os países, ele disse ainda que havia “quase uma aceitação de que 10% seria a tarifa mínima para acessar o mercado americano, independentemente de outras incertezas”.

Washington e Pequim deram sinais de que estão começando a sentir os efeitos —com ambos os lados anunciando algumas isenções tarifárias sobre produtos importantes para suas respectivas economias e Trump prevendo que a tarifa de 145% “diminuiria substancialmente”. No entanto, a China afirmou na sexta-feira que não estava em negociações com os EUA.

Como os primeiros carregamentos de contêineres da China a enfrentar tarifas devem chegar aos EUA na próxima semana, os operadores de frete disseram que as cadeias de suprimentos estão mudando.

Nathan Strang, diretor de frete marítimo do grupo de logística americano Flexport, disse que as empresas estavam esperando para enviar mercadorias na expectativa de que Washington e Pequim chegassem a um acordo para reduzir as taxas.

Os importadores americanos estão buscando esgotar os estoques acumulados antes de importar novos produtos da China, disseram os executivos de logística. Eles também estão mantendo estoques em armazéns alfandegados, onde o estoque pode ser armazenado com isenção de impostos e pagamento de impostos na retirada, ou desviando-os para outros países próximos, como o Canadá.

“Eles estão segurando as mercadorias na origem e no destino”, disse Strang, alertando que, se um acordo fosse fechado para cortar tarifas, as taxas de frete aumentariam drasticamente.

A Hapag-Lloyd, uma das maiores companhias de transporte de contêineres do mundo, disse que os clientes chineses cancelaram cerca de 30% de suas reservas da China.

A TS Lines, empresa taiwanesa de transporte de contêineres, suspendeu um de seus serviços da Ásia para a costa oeste dos EUA nas últimas semanas. “Não há demanda”, disse uma pessoa do grupo.

A queda nos volumes de pedidos repercutiu nos desembarques em Los Angeles, de acordo com a Sea-Intelligence, empresa de análise de dados de transporte, que relatou um aumento nas “viagens em branco”, onde navios programados da China estavam sendo cancelados.

Quase 400 mil contêineres a menos foram reservados nas rotas da Ásia para a América do Norte durante as 4 semanas a partir de 5 de maio do que o planejado —uma queda de 25% em relação à quantidade programada para o mesmo período no início de março, antes da imposição de tarifas.

Apenas o Porto de Los Angeles espera 20 viagens em branco em maio, representando mais de 250 mil contêineres —acima dos 6 em abril.

Isso é uma grande queda em relação a esta semana, quando as chegadas aumentaram 56% em relação ao ano anterior — um sinal de que os importadores estão antecipando as entregas de outros centros de produção do sudeste asiático, como Camboja e Vietnã, que estão desfrutando de uma “pausa” de 90 dias nas tarifas.

Os preços dos contêineres refletiram a mudança na cadeia de suprimentos, de acordo com dados do centro logístico Freightos, com um aumento de 15% no preço de um contêiner de 40 pés do Vietnã, em comparação com uma queda de 27% nas principais rotas China-EUA.

“As tarifas de outros países asiáticos para os EUA podem continuar subindo antes do prazo final das tarifas em julho”, disse o chefe de pesquisa da Freightos, Judah Levine.

Os volumes de frete aéreo também caíram significativamente, de acordo com a associação industrial dos EUA, a Airforwarders Association, com as reservas de seus membros da China caindo cerca de 30%.

“Muitos membros simplesmente pararam de receber pedidos da China”, disse o diretor-executivo, Brandon Fried. “Isso também está criando um efeito chicote nos preços e nas taxas de reserva, à medida que os operadores reagem a cada notícia da Casa Branca.”

É esperado que o setor seja ainda mais afetado pela decisão dos EUA de encerrar seu programa “de minimis”, que permitia a importação de produtos com valor inferior a US$ 800 sem tarifas, uma rota importante para varejistas de comércio eletrônico como Shein e Temu. Produtos chineses devem perder a isenção a partir de 2 de maio.

Lavinia Lau, diretora comercial da Cathay Pacific de Hong Kong, cujo negócio de carga aérea contribui com cerca de um quarto de sua receita, disse que esperava uma “diminuição” da demanda entre a China e os EUA por causa das tarifas e mudanças nas regras de minimis.

A transportadora de carga de Hong Kong Easyway Air Freight disse que os negócios da China para os EUA caíram cerca de 50% após os aumentos de tarifas.

Executivos do comércio eletrônico notaram uma queda na demanda por frete. Wang Xin, chefe da Associação de Comércio Eletrônico Transfronteiriço de Shenzhen, afirmou: “Estamos observando uma redução significativa nas solicitações de cotação de preços para remessas de carga aérea”.

Embora o estoque e a reorientação da cadeia de suprimentos tenham ajudado a proteger os consumidores das quedas acentuadas nos volumes de frete, as transportadoras e os varejistas estão começando a sentir os efeitos da desaceleração nas importações.

A Knight-Swift Transportation, uma das maiores empresas de transporte rodoviário dos EUA sediada no Arizona, alertou sobre volumes menores previstos, citando a incerteza causada pela ameaça de tarifas.

O presidente-executivo da empresa, Adam Miller, disse que alguns dos maiores clientes do grupo estavam “expressando preocupação” de que o custo das tarifas resultaria em volumes menores em maio.

“Alguns nos disseram que sim, cancelaram pedidos ou pararam de fazer pedidos, principalmente da China, e que descobriremos como ajustar sua cadeia de suprimentos para evitar o custo”, disse ele.

Consultores de varejo disseram que os padrões de compra refletiam os 3 meses consecutivos de queda nos índices de confiança do consumidor.

John Shea, presidente-executivo da Momentum Commerce, que ajuda empresas de consumo a vender cerca de US$ 7 bilhões anualmente na Amazon, alertou sobre um possível “duplo golpe” de aumento de preços e queda nos gastos do consumidor.

“Estamos vendo evidências de que os consumidores estão começando a trocar produtos por produtos de menor qualidade, enquanto os preços estão subindo”, disse John.

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