Crise entre Índia e Paquistão escala após atentado na Caxemira

Nova Délhi revoga vistos de paquistaneses e rompe tratado de compartilhamento da água do rio Indo. Paquistão fecha espaço aéreo e acusa país vizinho de promover “ato de guerra”.As tensões entre a Índia e o Paquistão aumentaram nesta quinta-feira (24/04), dois dias após homens armados atirarem contra turistas na Caxemira indiana. A nova crise diplomática volta a colocar as duas potências nucleares à beira de um conflito pelo controle da região de maioria muçulmana.

O estopim da disputa aconteceu na terça-feira, quando o atentado reivindicado por um grupo rebeldematou 26 pessoas, o pior ataque contra civis na Índia desde os tiroteios de 2008 em Mumbai.

Segundo testemunhas, os agressores perguntavam a turistas sua religião. Se a vítima não soubesse recitar versos do islamismo, era baleada. O atentado fugiu à regra de outros embates na região, pois mirou civis, e não forças de segurança.

O governo do primeiro-ministro Narendra Modi afirma que o ataque foi perpetrado por três homens, incluindo dois paquistaneses, e acusa diretamente o país vizinho de “promover terrorismo transfronteiriço”. O Ministério das Relações Exteriores indiano ordenou que todos os cidadãos paquistaneses deixem a Índia até 29 de abril. A decisão não apenas suspende o processamento dos novos vistos, mas também cancela as autorizações já concedidas.

“Na esteira do ataque terrorista em Pahalgam, o governo da Índia decidiu suspender os serviços de visto para cidadãos paquistaneses com efeito imediato”, anunciou a pasta nesta quinta-feira. “Todos os cidadãos paquistaneses que estão atualmente na Índia devem deixar o país.” A suspensão é a mais recente medida tomada por Nova Délhi na nova deterioração das relações exteriores entre os dois países.

Na quarta-feira, a Índia já havia suspendido um tratado de 1960 que permite o compartilhamento da água do rio Indo com o Paquistão, e decidiu fechar sua única passagem fronteiriça terrestre com a nação vizinha. A medida afeta fortemente a economia paquistanesa, que depende do comércio transfronteiriço, e pode provocar escassez de água no país.

Paquistão fecha espaço aéreo

Horas após Modi prometer encontrar e punir os extremistas que assassinaram os turistas na Caxemira indiana, o Paquistão retaliou nesta quinta-feira as sanções fechando seu espaço aéreo para companhias aéreas indianas. O governo suspendeu as relações comerciais com a Índia, inclusive por meio de países terceiros, e interrompeu a emissão de vistos especiais para cidadãos indianos.

O ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Ishaq Dar, desafiou a Índia a fornecer qualquer indício que ligue seu país ao ataque de terça-feira: “A Índia tem repetidamente apelado para o jogo da culpa. Se houver provas do envolvimento do Paquistão no incidente de Pahalgam, pedimos que as compartilhem conosco e com a comunidade internacional.”

O governo paquistanês também suspendeu acordos bilaterais com o país vizinho, incluindo o Acordo de Simla de 1972, até que Nova Délhi desista de “fomentar o terrorismo dentro do Paquistão”, disse o gabinete do primeiro-ministro do Paquistão em comunicado. Simla estabelece princípios que devem reger as relações bilaterais, incluindo o respeito a uma linha de cessar-fogo na Caxemira.

Para Paquistão, fim de Tratado sobre água é “ato de guerra”

Islamabad disse ainda que “rejeita veementemente” a suspensão do Tratado das Águas do Indo de 1960, e que qualquer tentativa de impedir ou desviar a água será considerada um “ato de guerra e será respondida com força total.”

O tratado, mediado pelo Banco Mundial, divide o rio Indo e seus afluentes entre os vizinhos e regulamenta o compartilhamento da água. Até o momento, ele resistiu até mesmo às guerras travadas entre os dois países.

O Paquistão depende dessa água para manter sistemas de irrigação e de produção de energia hidrelétrica. A suspensão do tratado permitiria que a Índia impedisse a chegada do fluxo fluvial ao Paquistão.

De acordo com a agência de notícias Reuters, a suspensão do tratado não deve ter um efeito imediato, já que a Índia não tem capacidade de armazenamento suficiente para reter o rio. A chancelaria indiana afirmou que não retomará a cooperação até que o país vizinho “renuncie de forma irrevogável ao seu apoio ao terrorismo transfronteiriço”.

Segundo Maria Sultan, analista de defesa residente em Islamabad, a suspensão do tratado sobre a água por parte da Índia equivale a uma “séria intimidação”: “A água é uma linha vermelha, e a violação do Tratado das Águas do Indo ou qualquer esforço para reduzir o abastecimento de água do Paquistão será considerado um ato de guerra.”

Para o ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Muhammad Asif, a Índia está “travando uma guerra de baixa intensidade contra nós e, se aumentar a escala, estaremos prontos. Para proteger nossa terra não sofreremos nenhuma pressão internacional.”

Caxemira em disputa

Índia e Paquistão já protagonizaram três guerras em sua história, duas delas pela Caxemira – território que ambos reivindicam em sua totalidade, mas controlam apenas parcialmente. Os dois possuem armas nucleares.

A Caxemira também é disputada por grupos rebeldes que querem a independência da região de maioria muçulmana. Militantes da Frente de Resistência (TRF), uma célula radical ligada ao Lashkar-e-Taiba, assumiram responsabilidade pelo ataque.

A Índia sempre acusou o Paquistão de financiar grupos insurgentes na Caxemira, mas Islamabad afirma que apenas oferece apoio diplomático às demandas por autodeterminação. Milhares foram mortos na região desde o início da revolta, em 1989. O conflito voltou a se intensificar após a Índia revogar a autonomia da região.

gq/av (Reuters, AFP, DW)

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