Indiana Jones and the Great Circle – Review



Após um lançamento bastante elogiado no PC e nos consoles Xbox Series, Indiana Jones e o Grande Círculo (Indiana Jones and the Great Circle) finalmente chegou ao PlayStation 5. Sempre fui um grande fã da série — especialmente da trilogia clássica de filmes — e, por isso, confesso que esperei ansiosamente para ver de perto o trabalho da MachineGames. Agora que finalizei a campanha, posso dizer com segurança: o jogo não só superou todas as minhas expectativas, como também se destaca como um dos melhores conteúdos que a franquia recebeu desde seu auge nos anos 80.

De forma geral, é como se a desenvolvedora tivesse montado uma lista de tarefas para garantir que o jogo fosse o mais fiel possível ao material original, e depois checado item por item até alcançar algo próximo da perfeição. Desde o modelo de Indiana, claramente inspirado no visual de Harrison Ford na época em que o jogo se passa, até os cenários variados ao redor do mundo, personagens carismáticos e referências aos filmes, tudo demonstra o compromisso do estúdio sueco com a essência da franquia.

Indiana Jones e o Grande Círculo

A história se desenrola durante o ano de 1937, entre os eventos de Os Caçadores da Arca Perdida e A Última Cruzada, colocando o lendário arqueólogo em uma nova aventura em busca por um dos segredos mais antigos da humanidade. Um mistério que pode levar a um poder ancestral, capaz de causar sérias consequências caso caia na mão de líderes dos exércitos mais implacáveis daquela época.

Ao longo de uma campanha que pode durar cerca de vinte horas para concluir a história principal, e um pouco mais, caso queira embarcar em todas as atividades secundárias, o jogador explorará tumbas e templos, viajará para localidades como o Vaticano, o antigo Egito e as Florestas da Tailândia, e até ficará no meio do fogo cruzado em uma guerra.

Para enfrentar as adversidades ao longo da jornada, o herói contará com o apoio de rostos já conhecidos, como Marcus Brody, e novos aliados, como a carismática e divertida Gina Lombardi. O elenco de personagens também é reforçado por vilões que incluem figuras históricas reais, além de uma dupla de antagonistas inéditos que são suficientemente presunçosos e loucos, trazendo uma boa dose de tensão à narrativa.

Indiana Jones e o Grande Círculo

Também vale apontar a qualidade dos efeitos sonoros, que desempenham um papel fundamental na imersão. Cada ambiente é cuidadosamente construído por camadas de sons que reforçam a atmosfera de exploração e perigo. Da mesma forma, a trilha sonora conta com temas que resgatam trechos das composições clássicas da franquia, entregando uma experiência sonora que combina com o clima de aventura e mistério característico de Indiana Jones.

E, claro, não poderiam faltar as tradicionais pitadas de comédia. Mesmo em momentos mais tensos, o jogo sabe brincar com o carisma de seus personagens, adicionando alívios cômicos na medida certa, como, por exemplo, nas pataquadas durante os conflitos de ação ou até ao satirizar a ofidiofobia do protagonista. Esse equilíbrio contribui para que a experiência final capture o clima típico de uma clássica produção cinematográfica dos anos 80.

Indiana Jones e o Grande Círculo

Outro ponto positivo é a dublagem — tanto na versão original, que conta com nomes de peso como Troy Baker e Alessandra Mastronardi, quanto na versão em português brasileiro, que além de oferecer um ótimo trabalho, também apresenta uma boa sincronia labial. No entanto, algumas cenas podem causar certa estranheza, especialmente quando os personagens alternam rapidamente entre diferentes idiomas. Isso acontece porque as falas em alemão, italiano e outras línguas foram mantidas em seus áudios originais, o que acaba quebrando um pouco a imersão para quem opta pela dublagem em português.

O que também pode causar certa frustração nesse quesito é a limitação nas opções de idioma. Não é possível selecionar a dublagem original com legendas em português brasileiro. Quem optar por jogar com o áudio original precisa alterar o idioma do console, e mesmo assim, terá que encarar as legendas em inglês, algo que acaba comprometendo a experiência de muitos jogadores que preferem o áudio original, mas dependem da legenda em português para acompanhar todos os detalhes da história.

Em termos de apresentação visual, Indiana Jones e o Grande Círculo se destaca com uma direção de arte de alto nível. Mesmo na versão base do PS5, os gráficos impressionam, com efeitos de iluminação e sombra bem aplicados e uma atenção notável aos detalhes na construção dos ambientes. O resultado são cenários que contribuem diretamente para a imersão e reforçam a atmosfera de aventura clássica da franquia.

Indiana Jones e o Grande Círculo

Embora não ofereça opções entre modos de qualidade e performance, o desempenho técnico de Indiana Jones e o Grande Círculo é bastante sólido. Durante toda a campanha, foram raríssimos os momentos em que houve oscilações perceptíveis na taxa de quadros por segundo. Tirando alguns casos pontuais de pop-in durante transições de cenário, especialmente no decorrer do penúltimo capítulo, também não enfrentei nenhum problema que comprometesse a experiência de forma significativa.

Na jogabilidade, o que se encontra é uma boa distribuição entre exploração, resolução de quebra-cabeças e cenas de ação. A perspectiva em primeira pessoa, que inicialmente me causou certa desconfiança, acabou funcionando bem dentro da proposta do jogo. Em momentos específicos, o título alterna para a visão em terceira pessoa, como em uma forma intencional de facilitar a locomoção e também destacar o personagem para preservar o vínculo visual que o público tem com Indiana Jones, reforçando sua presença mesmo fora das cutscenes.

A estrutura do jogo é dividida como em capítulos, com cada um sendo representado por uma viagem a uma região diferente do mundo. Em cada passagem, uma missão principal conduz o jogador a novas descobertas sobre o mistério do Grande Círculo, explorando templos, catacumbas e ruínas. Os quebra-cabeças são presença constante ao longo da campanha e, embora sejam criativos e bem integrados ao ambiente, geralmente não apresentam um nível de dificuldade muito elevado, mantendo o ritmo da aventura acessível e fluido.

Indiana Jones e o Grande Círculo

Outro aspecto importante da exploração é a mecânica de escalada, que ganha destaque graças ao inseparável chicote de Indy. Ele pode ser usado para alcançar pontos específicos, escalar paredes, atravessar buracos ou amortecer quedas durante a fuga jornada. Além disso, o chicote é seu melhor aliado para escapar das tradicionais armadilhas e também pode ser usado no combate, tanto para desarmar inimigos quanto para eliminá-los de forma furtiva.

Esse é um detalhe importante da jogabilidade, já que a proposta principal não é sair atirando, mas sim eliminar os inimigos sem ser visto — ou, em muitos casos, simplesmente evitá-los por completo. Talvez essa abordagem possa desagradar aqueles que esperavam de Indiana Jones e o Grande Círculo um típico jogo de tiro em primeira pessoa, mas ela está bem inserida dentro das características da série. Embora o game ofereça variações de armas de fogo, elas não são o foco do combate e servem mais como ferramentas de apoio do que como protagonistas da ação.

O recurso mais eficaz para enfrentar os inimigos é o combate corpo a corpo que, aliás, é bastante competente. Para isso, o Dr. Jones pode recorrer a uma grande variedade de objetos encontrados pelo cenário para improvisar como armas: desde ferramentas de escavação e bastões tomados de inimigos, instrumentos musicais, até itens domésticos, como vassouras e frigideiras. A sensação de nocautear um soldado inimigo com uma dessas “armas” é muito satisfatória.

Indiana Jones e o Grande Círculo

Cada arma improvisada possui uma durabilidade limitada, podendo ser usada por um número específico de golpes antes de se quebrar, algo que exige atenção e certo gerenciamento durante os combates. Ainda assim, caso fique sem nada à mão, Indy não está indefeso: seus punhos continuam sendo uma opção eficaz para lidar com os inimigos no mano a mano, prestando atenção à barra de estamina e realizando bloqueios no momento exato para contra-atacar o oponente.

Vale destacar, no entanto, que apesar de o combate ser satisfatório, ele funciona mais como um recurso para quando a furtividade falhar e você for notado pelos inimigos. Enfrentar vários soldados ao mesmo tempo pode ser complicado, especialmente porque as mecânicas de cura e recuperação de energia durante o combate são pouco funcionais.

Sempre que for necessário recuperar vida, é preciso primeiro equipar um curativo ou alimento antes de utilizá-lo, o que obriga Indy a soltar a arma que estiver segurando no momento. Essa mesma limitação aparece em outras situações, como ao subir escadas ou plataformas, tornando mais difícil carregar armas entre alguns cenários ou guardá-las para combates futuros. Essa mecânica reforça a capacidade de adaptação do jogador, mas também pode frustrar os que preferem se preparar com antecedência para os confrontos.

Indiana Jones e o Grande Círculo

No caso das armas de fogo, além das mecânicas de disparo parecerem um pouco travadas, a escassez de munição também limita seu uso estratégico. Mesmo quando você consegue coletar algumas armas durante a exploração, o dano causado por elas muitas vezes parece abaixo do esperado, especialmente quando comparado ao impacto dos ataques dos inimigos. Isso reforça a ideia de que o foco do combate está longe de ser o tiroteio.

Após algumas horas de campanha, confesso que me peguei, por diversas vezes, evitando confrontos. O principal motivo para isso é a limitação da inteligência artificial dos inimigos. Mesmo ao aumentar a dificuldade, percebi que eles continuavam com pouca percepção do ambiente, sendo incapazes de notar minha presença até em situações óbvias. Sendo assim, as lutas acabaram se tornando repetitivas e até um pouco monótonas. Apesar de o jogo brincar com isso em alguns diálogos ao fazer piada com a “burrice” dos soldados, acredito que esse seja um dos pontos que mais me decepcionaram na experiência.

Esse mesmo efeito aparece ao utilizar trajes de disfarce, que permitem a Indy circular entre os inimigos de forma muito mais discreta. Embora alguns soldados específicos ainda consigam identificá-lo mesmo com o traje, a mecânica abre espaço para uma exploração mais minuciosa dos acampamentos, facilitando a busca por pistas e por itens de maior importância para a progressão na história.

Indiana Jones e o Grande Círculo

Aliás, a exploração é, sem dúvida, um dos grandes destaques do jogo. O design dos cenários apresenta uma boa verticalidade, incentivando o jogador a vasculhar cada canto em busca de documentos, artefatos e itens de upgrade. Enquanto alguns mapas seguem um layout mais linear, outros adotam um formato semiaberto, permitindo explorar no seu próprio ritmo e realizar atividades secundárias que enriquecem ainda mais a jornada.

Muitas dessas atividades extras adicionam informações relevantes para a história. Seja encontrando relíquias, resolvendo pequenos mistérios, participando de clubes de luta locais ou até tirando fotos de pontos de interesse, essas missões despertam a curiosidade do jogador e se adequam ao senso marcante de descoberta do personagem.

Alguns dos itens obtidos durante a exploração são livros que funcionam como upgrades de habilidades e podem ser desbloqueados com pontos adquiridos ao completar tarefas ao longo do jogo. Essas melhorias impactam diretamente o desempenho de Indy, oferecendo vantagens no combate corpo a corpo, aumentando a capacidade de recuperação de vida e estamina, e expandindo o estoque de itens de cura e munição. Uma das habilidades mais divertidas faz referência ao chapéu da sorte lendário do protagonista, que pode ser recolhido do chão de tempos em tempos ao cair em combate, funcionando como em uma espécie de segunda chance.

Indiana Jones e o Grande Círculo

Também é possível adquirir alguns itens de vendedores locais que marcam pontos de interesse e colecionáveis no mapa. Essa é uma função interessante, pois cada região do mundo conta com sua própria moeda, o que valoriza ainda mais a exploração caso queira concluir todos os objetivos de uma área antes de avançar na história.

No fim, Indiana Jones e o Grande Círculo representa bem o gênero de aventura. Em um cenário em que jogos assim parecem cada vez mais raros, o título da MachineGames acerta em praticamente quase tudo que se propõe a fazer. É um ótimo jogo de aventura, se mantém completamente fiel ao material original e é capaz de agradar até mesmo os que não são profundos conhecedores da franquia. Com Indiana Jones e a Relíquia do Destino sendo tratado como o capítulo final do herói nos cinemas, é reconfortante saber que o futuro do personagem pode estar nos games — e nas mãos de um estúdio que realmente valoriza seu legado.

Indiana Jones e o Grande Círculo está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Bethesda.

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