Gotejamento, protetor solar de folhas, dados: como cafeicultores buscam renovar lavouras após prejuízos com incêndios


Fogo, seca e altas temperaturas desafiaram o setor cafeeiro em 2024, mas a combinação entre inovação e manejo inteligente pode ajudar produtores a virar a página. Que estratégias têm ajudado cafeicultores a reverter prejuízos na lavoura?
O último ciclo foi implacável para a cafeicultura brasileira. Incêndios devastaram áreas produtivas e, aonde o fogo não chegou, o estresse hídrico – quando a planta sofre por falta de água suficiente para realizar suas funções vitais – como crescer, florescer ou produzir frutos – foi suficiente para derrubar a produtividade, ainda mais diante das altas temperaturas do ano passado.
A queda dos chumbinhos, os grãos ainda em formação, virou símbolo de uma safra marcada por perdas expressivas. Em algumas regiões, lavouras de sequeiro – técnica agrícola que consiste em cultivar plantas sem irrigação, dependendo exclusivamente das chuvas – que tinham potencial para 90 sacas por hectare não ultrapassaram 20.
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Iniciativas que combinam manejo inteligente e tecnologia têm ajudado os produtores a buscar novas perspectivas, ainda que diante de um cenário desafiador.
“O cafezal perdeu vigor. Então, o produtor precisa trabalhar bem a adubação, corrigir o ph, fazer aplicações de matéria orgânica e manter o controle de pragas e doenças para que a planta recupere sua capacidade produtiva”, afirma Rafael Gonzaga, especialista agronômico da Netafim.
Isso porque o impacto na safra de 2025 já é irreversível. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a redução total deve ser 4,4%. A produção do arábica deve ter uma baixa de 12,4%.
Para 2026, o cenário ainda é incerto. “A planta sai debilitada do estresse e precisa de tempo para recuperar. As chuvas vieram tarde demais. Ganhamos crescimento, mas perdemos produtividade”, diz Rafael.
Irrigação por gotejamento é uma das soluções da cafeicultura para fazer frente aos desafios climáticos.
Divulgação Netafim
Gotejamento e calcário
Em meio a tantos desafios e dúvidas, uma solução tem se destacado: a irrigação por gotejamento. Segundo Gonzaga, essa é a tecnologia mais eficaz para enfrentar a crise climática nos cafezais. “Ela tem a maior eficiência no uso da água e evita desperdícios. Mas para funcionar bem, precisa vir acompanhada de um bom manejo de solo e cobertura vegetal”, explica.
Além dela, Gonzaga destaca a importância de corrigir o solo com calcário e, se necessário, com gesso agrícola, especialmente para aprofundar o sistema de raízes do cafeeiro.
“O uso de plantas de cobertura também é essencial. Elas protegem o solo da radiação solar e aumentam a capacidade de retenção de umidade, reduzindo a evaporação e ajudando a planta a resistir melhor ao calor”, detalha.
O especialista também menciona o uso de tecnologias emergentes, como produtos protetores solares para as folhas, que têm mostrado resultados promissores.
“Mas nenhuma tecnologia substitui a base: irrigação eficiente, solo corrigido e coberto, sistema radicular profundo (raiz principal que cresce para baixo, com poucas raízes que crescem para os lados e muitas raízes fininhas que se espalham ao redor) e manejo fitossanitário constante.”
A recuperação das lavouras também exige estratégia. Gonzaga explica que muitas plantações tiveram que passar por poda radical após a perda de folhas e frutos.
“O cafezal perdeu vigor. Então, o produtor precisa trabalhar bem a adubação, corrigir o ph, fazer aplicações de matéria orgânica e manter o controle de pragas e doenças para que a planta recupere sua capacidade produtiva.”
Cafezal na região de Franca (SP)
Reprodução/EPTV
Banco de dados da cafeicultura
A resposta à crise vai além da fazenda. É o caso do lançamento do Núcleo de Inteligência para o Fortalecimento da Cafeicultura (NIFC), uma parceria entre a Fundação Procafé e a C3 Consultoria e Pesquisa.
O projeto busca criar o maior banco de dados do setor cafeeiro, com o objetivo de gerar benchmarks, recomendações personalizadas e promover o uso de técnicas mais modernas nas lavouras.
“O NIFC representa uma virada de chave para o setor. (…) Com dados precisos, os cafeicultores terão ferramentas para tomar decisões mais assertivas e aumentar a produtividade de forma sustentável”, destaca João Marcelo de Aguiar, superintendente da Fundação Procafé.
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A iniciativa conta ainda com o programa “A Maior de Todas as Produtividades”, que irá avaliar o desempenho das lavouras em diferentes regiões e sistemas de produção.
“Nossa expectativa é que o NIFC eleve ainda mais o padrão da cafeicultura nacional, consolidando o Brasil como referência mundial. O setor tem muito a ganhar com a padronização das informações e com a disseminação de boas práticas”, completou Rodrigo Ticle, diretor da C3 Consultoria e Pesquisa.
O programa é dividido em categorias que possibilitam uma análise mais precisa das diferentes realidades da cafeicultura. Ao longo do processo, serão coletados e analisados dados das lavouras participantes, incentivando o compartilhamento de conhecimento e o aprimoramento das práticas no campo.
Nessas imagens aéreas de cafezal em Pedregulho (SP), é possível ver a diferença entre uma plantação com gotejamento, à esquerda, e outra sem, à direita.
Divulgação/Netafim
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