Cardeal condenado por corrupção diz que vai ao conclave

Apesar do peso das tradições e das regras centenárias que envolvem a sucessão papal, a Igreja Católica volta a enfrentar uma crise institucional às vésperas do conclave que definirá o novo pontífice. Em meio a tensões internas e disputas por influência, um personagem polêmico retorna ao centro do palco e reacende o debate sobre transparência e autoridade no coração do Vaticano.O cardeal italiano Angelo Becciu, condenado por corrupção em 2023 pelo próprio tribunal da Santa Sé, viajou na noite da última terça-feira (22) a Roma com a firme intenção de participar do conclave, processo que definirá o próximo papa após a morte de Francisco. Sua presença, no entanto, desafia diretamente a lista divulgada pela assessoria de imprensa do Vaticano, que o classifica como inelegível para votar.CONTEÚDO RELACIONADOEx-arcebispo de Belém participará da escolha do novo PapaPapa Francisco reformulou funeral para refletir humildade cristãArcebispo excomungado ataca Papa Francisco: “Crimes””O papa reconheceu intactas as minhas prerrogativas cardinalícias, uma vez que não houve uma vontade explícita de me excluir do conclave nem o pedido explícito da minha renúncia por escrito. A lista publicada pela assessoria de imprensa não tem valor jurídico”, afirmou Becciu ao jornal L’Unione Sarda, rebatendo a decisão institucional que o teria afastado do processo.Quer mais notícias intenacionais? Acesse o canal do DOL no WhatsApp.ENTENDA O CASOBecciu, que atuou por anos como um dos conselheiros mais próximos do papa Francisco, caiu em desgraça após escândalos envolvendo investimentos financeiros suspeitos com recursos da Igreja. A condenação de Becciu decorre de seu envolvimento na compra de um luxuoso prédio em Londres com recursos do Óbolo de São Pedro, um fundo destinado a obras de caridade da Igreja. Na época, ele ocupava o posto de “número 2” da Secretaria de Estado do Vaticano, uma das instituições mais influentes da cúria romana. Sentenciado a cinco anos e meio de prisão em primeira instância, o cardeal responde ao processo em liberdade e recorre da decisão, negando qualquer irregularidade. Além disso, o cardeal argumenta que sua condenação não foi acompanhada de um decreto formal retirando-lhe o direito de voto.”O PAPA ESTÁ NA LUZ”Becciu também se manifestou sobre a morte de Francisco, ocorrida durante o período pascal, demonstrando emoção com o falecimento do pontífice com quem teve uma relação próxima – e, posteriormente, conturbada. “Agora o papa está na luz do ressuscitado [Jesus Cristo], tendo falecido precisamente durante os dias da Páscoa, e esta certeza conforta-me: agora Francisco vê a verdade dos fatos, sem dúvidas e sem sombras”, afirmou.EMBATE JURÍDICOA participação ou não de Becciu no conclave pode abrir um novo capítulo de embate jurídico e moral dentro da Igreja, em um momento em que a sucessão papal já traz à tona divisões entre diferentes alas do colégio cardinalício. Dessa forma, a presença do cardeal condenado no conclave poderá colocar à prova os limites da autoridade papal e o papel da imprensa oficial do Vaticano nas decisões de bastidores.COMO FUNCIONA O CONCLAVE:1. Local sagrado da eleição:A eleição do novo papa ocorre dentro da Capela Sistina, no Vaticano.2. Sigilo absoluto:O voto é secreto e depositado em uma urna. O número exato de votos recebidos pelo escolhido não é divulgado.3. Isolamento total:Durante o conclave, os cardeais não podem se comunicar com o exterior. É proibido usar celulares, enviar mensagens eletrônicas ou acessar redes sociais.4. Rito de início:O conclave começa no mínimo 15 dias após a morte ou renúncia de um papa e pode ser adiado por até 20 dias.5. Processão solene:Os cardeais seguem em cortejo da Capela Paulina até a Capela Sistina, onde as portas são então fechadas e trancadas.6. Controle do isolamento:O cardeal camerlengo garante o isolamento dentro da capela. Fora dela, essa função cabe ao prefeito da Casa Pontifícia.7. Quem pode votar e ser eleito:Todos os cardeais com menos de 80 anos podem votar. Segundo a CNBB, mesmo os que têm mais de 80 anos, embora não votem, podem ser eleitos.8. Critério de escolha:Para ser eleito papa, o escolhido precisa obter pelo menos dois terços dos votos dos cardeais presentes.9. Regras históricas:Em teoria, qualquer homem considerado idôneo pode ser eleito papa, mas há séculos a escolha recai exclusivamente sobre cardeais.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.