Papa Francisco visitou 65 países durante seu pontificado

Em 12 anos de papado, Francisco realizou de 4 a 6 viagens apostólicas por ano. Essas visitas a outros países refletiram o seu compromisso com o diálogo inter-religioso e a promoção da paz. Ao todo, foram 48 tours que passaram por mais de 60 países, além do território da Cisjordânia. 

A viagem inaugural do papado de Francisco foi em 2013, quando o líder religioso visitou o Rio de Janeiro para a 28ª Jornada Mundial da Juventude.

Os anos de Francisco no Vaticano foram marcados por “primeiras vezes”. Em 2017, ele fez a 1ª viagem de um papa a Mianmar. Também foi o 1º pontífice a visitar os Emirados Árabes Unidos, a Macedônia do Norte e o Iraque. Ainda, Bahrein, o Sudão do Sul, a Mongólia e o Timor-Leste.

Papa liberal nos costumes

O cardeal Jorge Mario Bergoglio, 88 anos, iniciou seu pontificado em 2013 como o 1º papa latino-americano. Foi também 1º jesuíta a exercer a função. Os jesuítas são os padres da Companhia de Jesus, a ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Santo Inácio de Loyola.

Ao ser designado papa em 13 de março de 2013, Bergoglio escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis — um santo da Igreja Católica que nunca havia sido homenageado dessa forma. São Francisco de Assis (nasceu em 1181 ou 1182 e morreu em 1226) é conhecido entre os católicos por ter devoção pelos animais e conexão com a natureza.  

Em 13 de março de 2025, Francisco completou 12 anos de pontificado. Ele liderou a Igreja Católica por mais de uma década com uma estratégia para tornar a instituição mais aberta aos fiéis, independentemente de serem ou não seguidores de todos os cânones do catolicismo. Consolidou-se entre os católicos como o “papa do povo”.

Bergoglio manteve as doutrinas católicas tradicionais, mas com novas interpretações. Seus posicionamentos em geral acolhedores e seus discursos enfatizando a misericórdia, inclusão e justiça social marcaram sua imagem como um líder mais transparente e liberal nos costumes do que seus antecessores.

A seguir, alguns marcos do pontificado do papa Francisco:

  • Igreja Católica mais liberal – aproximou seu pontificado de temas como pobreza, desigualdade social e os direitos humanos. Por exemplo, incentivou a criação de paróquias mais ativas nas comunidades carentes, promovendo o envolvimento direto dos fiéis na assistência aos mais necessitados;
  • periferias – defendeu a atuação de uma igreja missionária, descentralizada, para tentar alcançar as periferias da sociedade. Em 2015, por exemplo, declarou que a igreja “não tem as portas fechadas para ninguém” e que os divorciados “não estão excomungados” e “não podem ser tratados como tal”;
  • inclusão de não católicos – afirmou mais de uma vez que o Evangelho é para todos, destacando que a Igreja não deve ser exclusivista. Após 6 de meses de papado, por exemplo, Francisco adotou um tom inclusivo em relação a ateus e agnósticos em uma carta escrita ao jornal italiano La Repubblica. Em resposta à pergunta de Eugenio Scalfari, fundador do jornal e um agnóstico, sobre se Deus perdoaria os não crentes, ele afirmou que “Deus perdoa aqueles que obedecem à própria consciência” e que “a misericórdia de Deus não tem limites”;
  • gays – declarou que a homossexualidade não é crime. Disse que é permitido abençoar gays, mas não as uniões entre as pessoas do mesmo sexo, segundo a doutrina da Igreja;
  • mulheres – incentivou maior participação dos leigos e deu mais voz às mulheres. Francisco fez história ao nomear a 1ª mulher para chefiar um departamento de relevância dentro da estrutura do Vaticano;
  • meio ambiente – em 2015 lançou a 1ª Carta Encíclica papal dedicada ao meio ambiente e à abordagem da crise climática global;
  • paz – em discursos, destacou a importância de se negociar o fim das guerras: “Uma paz negociada é sempre melhor do que uma guerra infinita. Por favor, parem. Negociem;
  • abusos sexuais – condenou os abusos na Igreja, reforçou que são intoleráveis e que é necessário continuar trabalhando para assegurar sua punição e prevenção. Francisco criou, em 2014, a Comissão para a Tutela de Menores, órgão consultivo do Vaticano que tem a missão de propor e promover iniciativas para proteger crianças e adolescentes de abusos sexuais dentro da Igreja; 
  • imigrantes – em meio a um dos maiores debates na Europa sobre a entrada de pessoas ilegalmente no continente, defendeu que as pessoas deveriam ser acolhidas e tratadas humanamente.

Essa abordagem pastoral e mais aberta foi uma das marcas do papa Francisco para tentar tornar a Igreja mais acessível e relevante, num momento em que tem sido registrada uma queda do número de católicos em vários países, inclusive no Brasil.

Por diversos momentos, Francisco deixou o protocolo de lado em sua busca por manter um estilo de vida próximo das pessoas, o que é uma das marcas de seu pontificado.

Em 2015, por exemplo, o pontífice foi pessoalmente a uma ótica no centro de Roma para ajustar seus óculos. O estabelecimento era perto da movimentada Piazza del Popolo. Enquanto o religioso realizava exames de vista e ajustava as novas lentes, dezenas de pessoas se juntavam na porta do local.

Anos mais tarde, em 2022, Francisco fez uma visita surpresa a uma loja de discos no centro de Roma, perto do Panteão. Na época, o Vaticano disse que o papa era um antigo cliente do local e já o frequentava quando era arcebispo de Buenos Aires.

Transparência

Durante o seu pontificado, Francisco aumentou a transparência na Igreja Católica. Ele aboliu, por exemplo, em 2019, o segredo pontifício em casos de violência e abuso sexuais cometidos por religiosos, permitindo maior colaboração com autoridades civis.

As regras estabelecidas pelo pontífice obrigam os sacerdotes e os religiosos a denunciar suspeitas de abusos sexuais na Igreja, assim como qualquer encobrimento pela hierarquia. Em 2023, o religioso criou novas normas, aumentando a proteção para denunciantes.

Anos antes, em 2014, Francisco criou a Secretaria para a Economia, para supervisionar e reformar a gestão financeira do Vaticano.

O religioso também promoveu mudanças no controle dos recursos do IOR (Instituto para as Obras de Religião), conhecido como Banco do Vaticano. Em 2019, momento em que a instituição financeira da Santa Sé estava sendo acusada de corrupção e lavagem de dinheiro, Francisco editou novos estatutos que alteraram a estrutura do IOR e permitiam auditoria por pessoa física ou jurídica designada.

Morte do Papa

O papa Francisco morreu nesta 2ª feira (21.abr.2025), aos 88 anos. O pontífice foi o 2º líder mais velho a governar a Igreja Católica em 700 anos. Com a saúde debilitada, sofria de problemas respiratórios. Foi internado em 14 de fevereiro no hospital Policlínico Agostino Gemelli, em Roma, na Itália, para tratar uma bronquite, mas exames revelaram uma pneumonia bilateral. O religioso teve alta em 23 de março e estava em recuperação. Sua última aparição pública foi no domingo (20.abr), na benção de Páscoa.

Sua morte foi confirmada pelo Vaticano. O anúncio foi dado na Capela da Casa Santa Marta, no Vaticano, com as seguintes palavras: “Às 7h35 desta manhã [2h35 de Brasília], o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”.

Argentino nascido na cidade de Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, Jorge Mario Bergoglio foi diagnosticado com pneumonia bilateral no início de fevereiro de 2025. Em 2023, Francisco já havia passado 3 dias hospitalizado para tratar uma bronquite. Em março de 2024, não conseguiu ler o seu discurso durante uma cerimônia no Vaticano.

Em 17 de fevereiro, o Vaticano informou que o pontífice enfrentava um quadro clínico complexo. Resultados de exames indicaram que a bronquite havia evoluído para uma infecção polimicrobiana do trato respiratório.

Em 22 de fevereiro, o Vaticano afirmou que Francisco enfrentou uma crise prolongada de asma e precisou passar por uma transfusão de sangue e que ele “não estava fora de perigo”. Os exames realizados mostraram plaquetopenia (diminuição do número de plaquetas no sangue) associada à anemia, o que levou à necessidade da transfusão. “O Santo Padre continua vigilante e passou o dia na poltrona, embora mais debilitado do que ontem”, informou.

Na tarde do dia seguinte, 23 de fevereiro, apesar do quadro crítico, Francisco apresentou melhoras e não teve novas crises respiratórias desde a noite anterior. Ele manteve terapia com oxigênio de alto fluxo por meio de cânulas nasais. Os exames, no entanto, apontaram insuficiência renal inicial leve, que, segundo os médicos, estava sob controle.

Já em 24 de fevereiro, o Vaticano informou que o papa seguia fazendo terapia com oxigênio de alto fluxo por meio de cânulas nasais para ajudar na respiração. No mesmo dia, Francisco teve uma “leve melhora”, recebeu a Eucaristia e, à tarde, retomou suas atividades de trabalho. Fiéis realizaram uma vigília de oração pelo pontífice na Praça São Pedro, no Vaticano.

Depois, o papa não voltou a ter novas crises respiratórias e exames laboratoriais apresentaram resultados mais animadores, informou o Vaticano. No entanto, considerando a complexidade do quadro clínico do pontífice, por precaução, os médicos mantiveram o prognóstico de “estado crítico”. Em 25 de fevereiro, o papa telefonou para o pároco da Paróquia de Gaza para expressar sua proximidade paterna. Ainda por meio do comunicado, agradeceu “a todo o povo de Deus que nestes dias se reuniu para rezar por sua saúde”.

ÚLTIMAS PALAVRAS

Francisco teve alta em 23 de março e iniciou um período de recuperação no Vaticano. No domingo (20.abr.2025), fez uma aparição na varanda da Basílica de São Pedro, durante a celebração da Páscoa no Vaticano. Na cadeira de rodas e com dificuldades para falar, o sumo pontífice desejou aos “queridos irmãos e irmãs” uma “feliz Páscoa”.

Em seguida, ele passou a palavra para o mestre de cerimônias, o monsenhor Diego Giovanni Ravelli, que leu a mensagem “Urbi et Orbi” (“à cidade [de Roma] e ao mundo”) do papa. Ao final, fez a bênção diante dos milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro.

Na mensagem, o papa exortou os políticos a não cederem “à lógica do medo” e fez um apelo ao desarmamento. “A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se em uma corrida generalizada ao armamento”, afirmou.

O papa também declarou, no texto, que a esperança trazida pela Páscoa não é um sentimento alienante, mas de responsabilidade. O sumo pontífice lamentou a violência não só nos países, mas também nas famílias —“dirigida às mulheres e às crianças”— bem como o desprezo pelos fracos, marginalizados e imigrantes.

Gostaria que voltássemos a ter confiança nos outros, mesmo naqueles que não nos são próximos ou que vêm de terras distantes, com modos de vida, ideias e costumes diferentes dos que nos são familiares”, disse.

SAÚDE FRAGILIZADA

A saúde do papa vinha se deteriorando ao longo de seus anos de pontificado. Em 2021, o líder da igreja católica foi internado para realizar uma cirurgia no intestino grosso. Na ocasião, ficou hospitalizado por 11 dias.

Ele também conviveu com problemas cardíacos e sofreu de dor ciática crônica. Enfrentou ainda problemas pulmonares desde os 20 anos, quando removeu parte do órgão. 

Outra dificuldade que afetava Francisco era sua redução da mobilidade. Ele começou a ter dores no joelho depois de sofrer uma fratura no ligamento ao dar um passo em falso em janeiro de 2022. Tinha ainda um problema no espaço intervertebral entre a 4ª e a 5ª vértebras lombares que causava dores no quadril e nas costas.

Por causa das condições, Francisco passou a ter problemas para andar. Começou a usar cadeira de rodas e bengala para se locomover.

A idade avançada e a dificuldade para andar fizeram o pontífice anunciar, em 30 de julho de 2022, que havia entrado em uma fase mais lenta de sua liderança. Na época, ele também declarou que, caso sua saúde o impedisse de liderar a Igreja, poderia chegar o momento de considerar a renúncia.

Cerca de 5 meses depois, em 18 de dezembro de 2022, Francisco revelou que havia deixado uma carta de renúncia pronta caso enfrentasse problemas de saúde repentinos que o tornassem “incapacitado” para a função.

O pontífice não usou a carta. Embora tenha tido outros problemas de saúde que causaram preocupações no Vaticano, Francisco demonstrou resiliência. Chegou até a afirmar, em março de 2024, que sua renúncia era uma hipótese distante.

Leia abaixo outros problemas de saúde que o pontífice enfrentou:

  • 7.jun.2023: foi internado para uma cirurgia abdominal. O procedimento para reparar uma hérnia causada pela operação de 2021 durou 3 horas e não teve complicações;
  • 26.nov.2023: teve uma infecção pulmonar depois de uma gripe leve;
  • 24.fev.2024: Francisco cancelou compromissos por causa de uma gripe leve;
  • 22.dez.2024: apareceu usando aparelhos auditivos pela 1ª vez. O Vaticano, à época, não comentou sobre o uso dos aparelhos, nem informou sobre o possível problema de saúde que levou o papa a utilizar a prótese auditiva;
  • 16.jan.2025: sofreu uma contusão no antebraço direito depois de cair em sua residência na Casa Santa Marta. O Vaticano informou que o líder religioso não sofreu fratura, mas teve que imobilizar o braço por precaução;
  • 14.fev.2025: foi internado para tratar uma pneumonia bilateral.
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