Trump virou o risco? Volatilidade dos EUA preocupa

O que antes era visto como porto seguro para investidores globais, agora carrega a mesma volatilidade de ativos de países em desenvolvimento. Essa é a leitura de Sérgio Machado, gestor da MAG Investimentos, ao comentar os movimentos recentes do mercado diante da nova política comercial dos Estados Unidos. Segundo ele, o dólar e os Treasuries — tradicionalmente tratados como instrumentos de segurança — estão apresentando comportamentos típicos de ativos emergentes, como oscilações abruptas, incertezas e reações excessivas a ruídos políticos.

Quando a gente vê dólar e Treasuries com esse tipo de volatilidade, a gente começa a se perguntar se os investidores não deveriam rever a forma como tratam o risco soberano dos Estados Unidos. E, honestamente, acho que essa revisão já começou”, afirmou Machado durante entrevista ao programa BM&C News.

O efeito Trump: zona de segurança virou centro da turbulência

Para Machado, o que está em jogo é a própria credibilidade dos Estados Unidos como eixo de estabilidade no sistema financeiro internacional. “O Trump conseguiu o milagre de desestruturar o tripé da segurança financeira global”, ironizou o gestor, ao se referir ao comportamento errático do presidente norte-americano. “Quando o próprio governo dos EUA se torna a origem da turbulência, ele mina os pilares que sustentam a confiança mundial nesses ativos.”

Um exemplo claro dessa transformação foi observado no comportamento dos títulos do Tesouro de 10 anos. Após um movimento de “flight to quality”, que levou a taxa a cair para 3,80%, o mercado rapidamente devolveu o movimento, fazendo o rendimento subir novamente para 4,60%. Para Machado, essa oscilação “não faz sentido em uma economia central” e lembra muito mais os movimentos típicos de países instáveis.

Trump coloca EUA em turbulência: para onde vai o capital global?

A dúvida que fica, segundo o gestor da MAG, é: se os Treasuries e o dólar estão sob questionamento, onde os investidores irão buscar refúgio? “Substituir esses ativos não é simples. Há um aumento no posicionamento de bancos centrais em ouro, e o metal está em tendência de alta, mas isso ainda é marginal. Não há como recanalizar todo esse volume de capital que está ancorado no dólar e nos Treasuries”, explicou.

Machado lembra que China, Japão e Europa ainda são os maiores detentores desses títulos. “Juntos, Japão e Europa respondem por mais de US$ 2,2 trilhões. Se houver uma venda em massa, o impacto seria sistêmico. Mas para onde esse dinheiro iria? Ainda não há uma resposta viável”, completou.

O risco deixou de ser só externo

Além dos fundamentos econômicos e do desequilíbrio geopolítico, o próprio comportamento de Trump se tornou um novo fator de risco. Para Sérgio Machado, o mercado demorou a perceber o impacto político direto do presidente na volatilidade dos mercados.

Todos achavam que o Trump era excêntrico, mas ainda pragmático. Agora, vemos que ele age como um presidente de República de Banana: ataca hoje, recua amanhã, volta a atacar no dia seguinte. Isso está assustando o mercado e, mais grave, abalando a imagem dos Estados Unidos como potência confiável”, criticou o gestor.

Exagero ou nova realidade?

Sobre se o mercado estaria exagerando nas reações recentes, Machado pondera que, apesar dos movimentos bruscos, há fundamento por trás da apreensão global. “O que mudou em três dias para uma casa de análise alterar sua projeção de 35% para 75% de risco? Nada. Mas a sucessão de más notícias, incertezas e o estilo volátil de Trump jogam tudo para frente e contaminam as expectativas”, afirmou.

Para o especialista, o mercado ainda busca entender se está diante de uma crise passageira ou de uma mudança estrutural na percepção de risco dos EUA. “Se for estrutural, o impacto será profundo. E o investidor precisará se posicionar com novas premissas”, concluiu.

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