SaGa Frontier 2 Remastered – Review

Com o passar dos anos nessa indústria (nada) vital dos videogames, é até natural se ver voltando e repetindo certos temas à medida em que nós voltamos e analisamos jogos de uma mesma franquia, especialmente com as quais temos maior carinho e afinidade. É exatamente essa a sensação que eu tenho com a sequência dos lançamentos pela Square Enix dos (extremamente bem-vindos) remasters da série SaGa.

É ainda mais estranho pensar então que essa sequência deve começar a desacelerar agora com o lançamento de um dos poucos títulos que faltavam e um das jóias mais bem escondidas dentro do gigantesco portfólio da gigante japonesa: SaGa Frontier 2 Remastered. Embora um título marcado por alguns problemas, o até então exclusivo de PS1 sempre teve um gigantesco burburinho ao seu redor como uma das, se não a melhor narrativa que a franquia já teve.

Anunciado de surpresa (e lançado no mesmo dia) durante a Nintendo Direct do dia 27 de março, essa versão traz melhorias extremamente bem-vindas e que, finalmente, permitem ao título brilhar como sempre merecia ter brilhado. Embora seja um daqueles títulos que, há alguns anos, seria quase impossível imaginar rejogar em consoles modernos, essa nova versão permite que um título que era excelente apesar dos seus problemas alcance o patamar de ser “só” um título excelente.

SaGa Frontier 2 Remastered

SaGa Frontier 2 Remastered se inicia no ano de 1220 e conta dois lados diferentes de uma narrativa que, apesar de parecer desconexa, vai se amarrando de algumas formas muito interessantes. A primeira dessas tramas se inicia com o nascimento de Gustave XIII, o herdeiro ao trono de Finney, uma nação na qual o seu líder tem o poder de controlar a energia vital do planeta chamada de Anima. Os problemas começam quando Gustave é convocado para participar de uma cerimônia conhecida como a cerimônia do Firebrand, na qual o herdeiro precisa empunhar uma espada envolta em chamas (e sim, a alegoria do Rei Arthur é bem forte aqui).

Embora a lenda conte que só há duas opções para o resultado da cerimônia, que Gustave ou seria queimado vivo ou empunharia a espada sem problemas graças ao seu controle do Anima. No entanto, o que acontece é bem inesperado: nada. Gustave XIII é uma completa raridade, um herdeiro real sem Anima, o que faz com que a espada reaja a ele como reagiria a tocar o chão. Como punição, Gustave é exilado por seu próprio pai e o jogador passa, então, a acompanhar vários momentos da vida do jovem príncipe ao lado de sua mãe e alguns aliados.

Do outro lado, o jogador acompanha a história de uma família chamada Knights. Centrada ao redor de Wil, eles são um grupo de escavadores, aventureiros que levam a vida caçando por Quells, tesouros perdidos do passado com propriedades únicas por serem imbuídos com Anima. A família de Wil trabalha já bastante tempo coletando Quells e se encarregou de proteger um em específico conhecido apenas como The Egg, cujos poderes são um segredo até para toda a família.

SaGa Frontier 2 Remastered

Diferente de outros jogos da franquia, a história aqui é contada através de capítulos distintos focado em cada um dos dois lados (com direito a algumas missões secundárias enfiadas entre esses capítulos centrais), pulando no tempo e contando capítulos específicos que, eventualmente, vão se conectar quando toda a realidade por trás da família real e do papel dos Knights vem à tona. É uma mudança considerável da estrutura tradicional da série, focando numa narrativa mais concisa com personagens bem carismáticos mas que ainda tem suas próprias estranhezas, sendo contada de forma não-linear e mudando a depender de quais eventos você jogue.

Tanto a história de Gustave XIII quanto a da família Knights, que é contada em gerações, com filhos e netos do Wil aparecendo ao longo do tempo, são muito bem construídas e a forma como elas vão se entrelaçando cativam bastante. A de Gustave em especial é muito especial, visto o quanto, apesar de nascido em berço de ouro ele é forçado a sobreviver com base apenas na sua inteligência e no seu desejo de mudar o mundo para um lugar mais justo.

Uma das grandes novidades dessa remasterização é a inclusão de um sistema de gerações bastante similar ao visto em Romancing SaGa 2 (tanto o original quanto no remake). Isso se dá pois um dos grandes problemas do original ser o fato de que, ao pular para um evento no futuro, seu equipamento e estatísticas eram resetados. Com essa mudança, todo o progresso, habilidades, equipamentos e demais melhorias podem ser transferidos para outro membro da sua equipe, o que torna o jogo muito mais justo, evitando que você precise lidar com combates bem desafiadores com equipamentos bem ruins.

SaGa Frontier 2 Remastered

Além disso, parte das melhorias do jogo é justamente a inclusão de novos capítulos para a história. Trazendo dez novos eventos na história principal, quase todos com sessões de exploração e combate além da parte narrativa, todos ajudam a dar ainda mais fundamentação para a narrativa, tanto explorando eventos antes só citados dos protagonistas ou colocando o jogador no controle de eventos formativos na jornada de personagens secundários. Ele adiciona ainda dois capítulos de epílogo, contando mais sobre o fim da jornada de Gustave XIII.

Em relação ao gameplay, embora em vários momentos o jogo seja quase uma visual novel jogável, ele entrega três tipos diferentes de experiência. A primeira delas é a já tradicional batalha por turnos de todos os jogos da franquia (só que agora com um grupo menor de 4 membros), no qual cada personagem atua no seu turno e o sistema de evolução vem através do sistema de Glimmer, no qual quanto mais você usa uma habilidade, maior a chance de desbloquear uma nova técnica de batalha. No mais, você terá ataques físicos, vinculados a diferentes tipos de arma, e mágicos, vinculados a um dos sete tipos de Anima.

Além disso, o jogo traz um sistema de batalhas entre reinos, o qual funciona como um sistema de RPG Tático tradicional, com o jogador movendo seus personagens em um tabuleiro e atuando cada qual também no seu turno. Por fim, o jogo traz um sistema de duelos, que são batalhas 1v1 entre um membro da sua equipe e um adversário, no qual você precisará escolher uma arma ou magia específica para partir para o combate (e que te permite aprender com maior facilidade diferentes técnicas).

SaGa Frontier 2 Remastered

No mais, cabe um gigantesco elogio ao estilo visual trazido pelo jogo, entregando uma estética bem próxima de uma aquarela e que salta aos olhos graças aos belos cenários e modelos de personagem, ainda mais belos em alta definição. A trilha sonora, composta por Masashi Hamauzu, então em começo de carreira mas que segue até hoje na Square Enix contribuindo para a trilha sonora de vários Final Fantasy, é um show à parte e eleva bastante a ambientação do título.

O remaster adiciona também todas as já esperadas melhorias de qualidade de vida que estavam presentes em Saga Frontier Remastered. Isso inclui a possibilidade de acelerar a movimentação pelo mapa e do combate, autosave e a possibilidade de salvar manualmente em qualquer lugar. A inclusão daopção de sair de um evento a qualquer momento era bem necessária, já que um dos problemas do jogo original eram soft locks causados por estar mais fraco do que o necessário durante certos eventos e a adição de mais tutoriais e materiais de referência para serem consultados a qualquer momento.

É, sinceramente, um remaster incrivelmente bem-feito e alguns dos seus problemas parecem quase incorrigíveis, como a dificuldade de manuseio dos menus e a detecção de colisão ao andar pelo mapa. Mas foi feito um trabalho tão cuidadoso de adicionar pontos muito necessários e até outros menores, como um minigame originalmente exclusivo do PocketStation e novos super-chefes, que é impossível não se impressionar com a atenção dada ao título.

SaGa Frontier 2 Remastered

Dito tudo isso, fica bem claro que a experiência de jogar Saga Frontier 2 Remastered é uma extremamente bem-vinda tanto para os fãs de longa data da série ou do título em específico quanto para novatos interessados, sendo talvez o mais acessível de todos os títulos remasterizados da franquia. Muito pela sua narrativa muito mais acessível mas que ainda mantém o espírito da franquia, mas também pelo cuidado da Square Enix em torná-lo mais acessível e confortável para os jogadores, além de não ser uma jornada tão longa assim (uma campanha costuma demorar algo em torno de 30 a 40 horas).

E, embora seja um pouco difícil ser objetivo com SaGa, sendo uma série que desperta opiniões bem divididas entre fãs do gênero, é um título que merece toda a atenção do mundo. Seu gameplay funciona muito bem, mas é uma parte relativamente pequena diante do quão brilhante e bem construída é sua narrativa e o quão belo e charmoso o título é, sendo facilmente um dos lançamentos que mais merecem sua atenção nesse primeiro semestre.



Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Square Enix..

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