Protesto contra morte de ambulante senegalês termina com bombas de gás de pimenta e correria no Centro de SP


Ngange Mbaye morreu baleado durante abordagem da Polícia Militar no Brás na sexta (11). Protesto contra morte de ambulante senegalês termina com bombas de gás lacrimogênio
Uma manifestação realizada na manhã deste sábado (12), no bairro do Brás, Centro de São Paulo, terminou em tumulto após a Polícia Militar lançar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. (Veja acima.)
O ato foi organizado em repúdio à morte do ambulante senegalês Ngange Mbaye, baleado durante uma abordagem policial na Rua Joaquim Nabuco, na sexta-feira (11).
Convocado pelo Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo e por ambulantes, o ato teve início por volta das 10h. Os manifestantes seguraram cartazes com os dizeres: “socorro, polícia assassina mata trabalhador” e “a farda não da licença para matar, justiça já”.
Ambulantes protestam contra morte de senegalês no Brás
Reprodução/TV Globo
O protesto contou com grande presença policial, incluindo equipes da Tropa de Choque e da Cavalaria.
Segundo apuração da TV Globo, a tensão aumentou após uma pessoa em situação de rua arremessar uma garrafa na direção dos agentes. Em resposta, a PM utilizou bombas de efeito moral para conter a multidão.
O uso de gás lacrimogêneo causou correria entre os ambulantes, que se dispersaram pelas ruas do Brás tentando se proteger. Até o momento, não há informações sobre feridos.
Morte senegalês
Ambulante senegalês morre após ser baleado por PM durante confusão em abordagem
Na sexta, a confusão teve início quando Ngange Mbaye tentou impedir os policiais de levarem um carrinho com mercadorias. Nas imagens, é possível ver que um dos policiais o agrediu com cassetete e ele reagiu com uma barra de ferro (assista acima).
Na sequência, um policial apontou uma arma de fogo na direção do ambulante. No vídeo, é possível ouvir barulho semelhante a um disparo.
A gravação também mostra que o vendedor ainda correu dos policiais e tentou proteger a mercadoria novamente.
Um primo do vendedor informou que Ngange Mbaye estava almoçando, quando viu a PM e equipes da prefeitura recolhendo mercadorias de uma idosa. Ele entrou em confronto com os agentes, quando acabou sendo atingido por um disparo.
“Ele não trabalhou hoje, estava aqui do lado almoçando. A polícia pegou [mercadoria] de uma senhora colega dele que trabalha aqui e aí ele foi ajudar a senhora pra não perder mercadoria. Tinha confusão e o policial matou ele”, afirmou Mamadou Tiam.
De acordo com a Polícia Militar, equipes apoiavam a prefeitura na fiscalização dos ambulantes, e o senegalês agrediu um PM com uma barra de ferro. Na sequência, o vendedor foi baleado.
Ambulante senegalês morre após confusão com PM em abordagem no Brás, Centro de SP
Arquivo Pessoal
Ngange Mbaye foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para a Santa Casa, mas não resistiu aos ferimentos.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que a Polícia Militar instaurou inquérito e afastou das atividades operacionais o agente envolvido na morte do ambulante. A barra utilizada na agressão foi apreendida, assim como a arma do agente.
A ocorrência foi registrada no 8º Distrito Policial como morte decorrente de intervenção policial e tentativa de homicídio. O caso será investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Nota de repúdio
O Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante divulgou uma nota de repúdio pela morte do ambulante.
“Recebemos com profunda tristeza e indignação a notícia da morte do comerciante senegalês Ngange Mbaye, ocorrida no dia 11 de abril de 2025, no bairro do Brás, em São Paulo. Mais uma vez, um homem negro, migrante e trabalhador tem sua vida interrompida de forma violenta em um contexto de repressão e abordagem policial desmedida.
Ngange Mbaye atuava como vendedor ambulante quando foi abordado por policiais militares.
Casos como este revelam o quanto a violência institucionalizada segue fazendo vítimas, especialmente entre as populações negras, periféricas e migrantes. São vidas tratadas como descartáveis, em um ciclo cruel de exclusão e negligência.
Expressamos nossa solidariedade à família de Ngange, à comunidade senegalesa e a todas as pessoas migrantes que, diariamente, enfrentam racismo, xenofobia e precarização em suas rotinas de trabalho e sobrevivência.
É fundamental que haja uma investigação rápida, transparente e imparcial sobre o caso, com a devida responsabilização dos envolvidos e adoção de medidas concretas para que tragédias como essa não se repitam”.
Ambulante foi baleado por um policial militar durante confusão em uma abordagem na tarde desta sexta-feira (11) na rua Joaquim Nabuco, no Brás,
Arquivo Pessoal
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