EUA com tarifas serão iguais ao Brasil, diz WSJournal

O jornal WSJournal (The Wall Street Journal) publicou neste sábado (12.abr.2025) que os Estados Unidos serão iguais ao Brasil com as tarifas adotadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump (republicano). O diário de economia do país afirma que brasileiros ricos passam parte das férias fora do país fazendo compras de produtos e atrasam voos de retorno pelo excesso de bagagens nas aeronaves.

O texto escrito pela repórter Samantha Pearson tem o título “Como funcionaria os Estados Unidos protecionista? Veja o Brasil, onde as barreiras comerciais prevalecem”. Faz críticas ao modelo protecionista do Brasil, adotado desde a década de 1930 sob o governo de Getúlio Vargas (1882-1954). Defende que as tarifas elevadas no comércio internacional protegem empregos, mas aumentam os custos de consumo e tornam a indústria nacional “ineficiente”.

O jornal disse que o iPhone é produzido no Brasil, assim como os carros são fabricados na indústria local. Afirmou, porém, que uma garrafa de Veuve Clicquout Champagne custa US$ 110, um chá britânico PG Tips tem preço de US$ 53 e um xarope de boldo canadense é US$ 35. Segundo o texto, o iPhone 16 feito no Brasil custa mais de 2 vezes que o produzido na China e vendido nos EUA, segundo a reportagem.

O Brasil tem uma das tarifas de importação mais altas do mundo, com controle cambiais e outras barreiras. A reportagem publicada pelo WSJournal disse que Donald Trump tem uma visão semelhante ao sistema econômico adotado pelo Brasil.

O jornal disse que o Brasil tem uma política protecionista, que, na 2ª Guerra Mundial, manteve empregos, mas aumentou os preços para os consumidores. “Sufocou a competição e a inovação”, disse. “A estratégia pouco contribuiu para impulsionar a produção industrial brasileira. Pelo contrário, diminuiu a produtividade e resultou em alguns casos notórios de escândalos de fixação de preços”, completou.

A indústria manufatureira representava 36% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 1985. Caiu para 14% atualmente. O texto afirmou que foi o “pior exemplo de desindustrialização prematura” no mundo, segundo o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Em entrevista ao WSJournal, o ex-ministro da Fazenda do Brasil Maílson Ferreira da Nóbrega (1988-1990) disse que as ideias de Trump de como fortalecer a indústria dos EUA são similares ao que a América Latina pensava depois da 2ª Guerra Mundial. A intenção das tarifas protecionistas era fortalecer a indústria nacional e enriquecer o país, diz o ex-ministro. “Não funcionou”, declarou ao jornal.

O jornal disse que o Brasil cresceu 2% por ano nas últimas duas décadas e nunca se tornou a potência econômica esperada pelos seus líderes. A produtividade do trabalho no Brasil é ¼ (25%) dos Estados Unidos, de acordo com o Our World in Data, da Universidade de Oxford (Reino Unido).

O jornal disse que os Estados Unidos levam vantagens significativas no modelo de negócios com o Brasil, como infraestrutura melhor, menos burocracia e regime tributário mais simples. No Brasil, as disputas tributárias se “arrastam por ano” e podem “quebrar” empresas, segundo o jornal.

EUA COMO BRASIL

O jornal disse que Trump suspendeu as tarifas por 90 dias, mas ainda elevou a cobrança para 10%, além de supertaxar dos produtos chineses. A alíquota tarifária média é de 11,2%, segundo relatório do U.S. Trade Representative. Para o jornal, o vasto mercado interno brasileiro foi uma “bênção” e uma “maldição”. Citou os motivos:

  • lado positivo: possibilitou menores choques do petróleo na década de 1970 e efeitos da crise financeira de 2008 a 2009;
  • lado negativo: menor desempenho da economia por causa do protecionismo em períodos mais “prósperos”, o que encareceu produtos para os consumidores.

O chefe de pesquisa econômica do Goldman Sachs na América Latina, Alberto Ramos, disse ao jornal dos EUA que não há pressão competitiva no mercado do Brasil para inovar, reduzir custos ou encontrar formas de se manter em um ambiente competitivo.

O jornal disse que brasileiros compram produtos importados pagando “várias vezes” o preço que pagariam nos Estados Unidos. Afirmou que a diferença de custo é tão elevada que os mais ricos passam “grande parte de suas férias” fazendo compras no exterior enchendo as malas. Disse que os voos de retorno ao Brasil muitas vezes atrasam porque os funcionários das companhias aéreas “se desdobram para encontrar espaço na cabine”.

BENEFÍCIOS DO PROTECIONISMO

O diário dos EUA disse que as tarifas protecionistas do Brasil fomentaram indústrias que seriam esmagadas com a concorrência estrangeira. Citou a Vale e a Embraer, que eram “estatais protegidas por subsídios” e pelo Estado. “Agora são empresas privadas prosperadas e líderes globais em seus respectivos setores”, disse.

O WSJournal defendeu que o Brasil sustenta indústrias pouco competitivas e injeta dinheiro público na produção de automóveis e construtores navais. Diferentemente dos países asiáticos, não há metas de exportação no Brasil.

O jornal disse que o PT (Partido dos Trabalhadores), do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defende o protecionismo há décadas, apesar de ele defender no Japão que é preciso “superar o protecionismo e garantir que o livre comércio possa crescer”, segundo o diário.

Em entrevista ao jornal dos EUA, o ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia Lucas Ferraz declarou que a fala de Lula é “um pouco hipócrita”. E completou: “Eles adotaram exatamente o modelo que Trump tem em mente”.

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