Diabetes tipo 5: forma silenciosa da doença é ligada à pobreza

Nas redes sociais, o diabetes costuma ser tema de debates sobre alimentação, obesidade e hábitos de vida modernos. Quando se fala da doença, logo vêm à mente os tipos mais conhecidos: o tipo 1, autoimune e geralmente diagnosticado na infância, e o tipo 2, associado ao sedentarismo e à má alimentação. Mas e se o diabetes também estiver ligado à pobreza, à falta de acesso à comida e à desnutrição severa? A ciência acaba de reconhecer essa realidade.Na última terça-feira, 8, pesquisadores da IDF (Federação Internacional de Diabetes) oficializaram a existência do diabetes tipo 5, uma forma grave e até então pouco compreendida da doença, que afeta principalmente adolescentes e jovens em países de baixa e média renda. O reconhecimento representa um marco histórico para a medicina — e também um alerta urgente para as desigualdades que ainda marcam o mundo.Leia mais:Após ser internada, Andressa Urach revela diagnóstico de doençaLuciana Gimenez cria confusão na RedeTV! após doençaParkinson: veja os sintomas, tratamento e como prevenirO que é o diabetes tipo 5?Trata-se de uma forma de diabetes associada à desnutrição proteico-calórica, geralmente em estágios muito precoces da vida. A condição é mais comum em regiões da Ásia e da África, mas também pode ocorrer em outros locais com altos índices de insegurança alimentar. Estima-se que entre 20 e 25 milhões de pessoas convivam com a doença, mas muitas delas sem diagnóstico, o que agrava os riscos.Por muitos anos, pacientes com diabetes tipo 5 foram diagnosticados de forma errada — quase sempre como se tivessem o tipo 1, por também serem jovens e magros. O tratamento, no entanto, mostrava-se ineficaz: o uso de insulina levava à queda brusca da glicose no sangue, sem estabilizar o quadro. “Esses pacientes não pareciam ter diabetes tipo 2, que normalmente está associado à obesidade. É muito confuso”, afirma Meredith Hawkins, diretora do Instituto Global de Diabetes da Faculdade de Medicina Albert Einstein, nos EUA, e uma das maiores especialistas no tema.Quer ler mais notícias de Saúde? Acesse o nosso canal no WhatsApp!Do útero à vida adulta: como nasce o diabetes tipo 5Ainda que os mecanismos da doença não sejam totalmente compreendidos, estudos recentes apontam que o problema começa cedo — ainda na barriga da mãe. “Evidências apontam que uma desnutrição proteico-calórica em fases iniciais da vida pode impactar na formação e/ou proliferação de células pancreáticas, que produzem e liberam insulina no sangue”, explica a professora Bianca Pititto, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).Com o pâncreas prejudicado desde cedo, a produção de insulina é comprometida — e não por autoimunidade, como no tipo 1, nem por resistência à insulina, como no tipo 2. O que os cientistas descobriram é um “profundo defeito na secreção de insulina”, segundo Hawkins.Avanço científico tardio, mas promissorApesar de o diabetes tipo 5 ter sido descrito pela primeira vez há cerca de 70 anos, o termo foi ofuscado pela falta de estudos contínuos. Em 1985, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a reconhecer a condição como distinta, mas revogou o status em 1999 pela escassez de dados. O cenário mudou a partir de 2010, com a criação de centros de pesquisa voltados exclusivamente à doença.Em 2022, um estudo liderado por Hawkins reforçou que o tipo 5 é mesmo uma entidade única, com comportamento metabólico diferente dos demais. O reconhecimento recente pela IDF é mais do que simbólico — é o primeiro passo para desenvolver tratamentos eficazes e acessíveis, já que os atuais protocolos não funcionam.Sequelas graves e alto risco de morteO diabetes tipo 5 é uma condição grave e debilitante, com alta taxa de mortalidade. Parte dos pacientes diagnosticados morre em menos de um ano. “Esse reconhecimento é um passo crucial para salvar vidas. Estamos falando de uma doença que, além de agredir o corpo, escancara o abismo social e alimentar entre os países”, afirma Hawkins.Olhar para o invisívelO diabetes tipo 5 traz à tona uma questão incômoda: as desigualdades em saúde global. Enquanto os debates em torno da doença muitas vezes se concentram no excesso — de açúcar, peso, calorias —, essa nova forma reconhecida pela medicina aponta para o oposto: a falta. Falta de comida, de diagnóstico, de tratamento e de políticas públicas.
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