Varejo brasileiro pode ter invasão de produtos chineses

Com a escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China, a indústria brasileira se vê diante de um risco crescente: a possível entrada em massa de produtos chineses no mercado local. As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos, que somam até 145% sobre produtos da China, estão redirecionando o fluxo de exportações do país asiático, acendendo o sinal de alerta em setores estratégicos da economia nacional.

As preocupações atingem especialmente as cadeias têxtil, calçadista e de eletroeletrônicos, que podem enfrentar um aumento expressivo nas importações de produtos chineses. “É uma ameaça real”, afirmou Acilio Marinello, fundador da Essentia Consulting, em entrevista à BM&C News. Segundo o especialista, com o cancelamento de pedidos por grandes empresas internacionais como a Amazon, existe o risco concreto de que o excesso de estoque chinês seja direcionado ao mercado brasileiro.

Entidades de classe, como a Abit, Abicalçados e a ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), alertam para a possibilidade de práticas desleais, como subsídios e dumping, que poderiam pressionar a produção local e comprometer a competitividade das empresas nacionais. Marinello reforça que a adoção imediata de medidas restritivas, como sobretaxas preventivas, não seria recomendável neste momento. “Não recomendo que sejam tomadas ações preventivas antes que de fato ocorra algum movimento mais forte de exportação desses produtos aqui para o nosso mercado”, destacou.

No entanto, ele ressalta que, caso práticas abusivas sejam identificadas, como ocorreu com o aço, será necessário agir. “Uma vez identificado que há de fato práticas abusivas que podem comprometer a relação entre os dois mercados, aí sim essas entidades devem prosseguir com as negociações e definir algum tipo de sobretaxa”, afirmou Marinello.

Além das medidas de defesa comercial, o especialista vê como estratégico acelerar o acordo entre Mercosul e União Europeia. “É uma saída estratégica para ampliar a oferta dos nossos produtos ao exterior, o que também elevaria a competitividade da nossa indústria”, explicou.

Outro fator que pode ajudar a equilibrar a concorrência é a chamada “taxa das blusinhas” — cobrança de impostos sobre compras internacionais de pequeno valor. Com o aumento do ICMS em alguns estados, a medida tem encarecido os produtos importados, o que, na avaliação de Marinello, contribui para tornar os itens nacionais mais competitivos.

Na ponta do consumo, o impacto das tarifas gera efeitos mistos. “Sempre que aplicamos qualquer tipo de taxa ou tributação, é claro que reduz o poder de compra do consumidor”, observou. No entanto, Marinello aponta que esse movimento estimula a indústria local a investir em inovação e qualidade, beneficiando o consumidor no longo prazo. “Mesmo que esteja pagando um pouco mais caro, ele vai adquirir um produto com maior qualidade, maior durabilidade e, assim, o seu investimento acaba trazendo mais benefícios a longo prazo”, concluiu.

Diversificação de mercados reduz riscos

Na avaliação do especialista, além de fortalecer acordos comerciais já em andamento, é crucial que as entidades brasileiras busquem a abertura de novos mercados para diluir riscos. “Ampliar a presença fora desses blocos também contribui para reduzir a exposição da nossa indústria”, disse Marinello.

Ele destaca que, em um cenário global de volatilidade, depender de poucos destinos de exportação pode ampliar a vulnerabilidade do setor produtivo nacional. “Essa estratégia de diversificação é fundamental para garantir sustentabilidade e resiliência da indústria brasileira frente às movimentações externas”, completou.

Com o aumento da concorrência internacional e a pressão sobre os preços, a aposta na diferenciação por qualidade e inovação deve ser o caminho para o fortalecimento da indústria nacional. Marinello finaliza: “O consumidor está cada vez mais atento, e se perceber que o produto brasileiro oferece mais qualidade, mesmo pagando um pouco mais, ele fará essa escolha.”

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