Tadalafila na musculação? Entenda os riscos do uso sem prescrição

A busca incessante por um corpo escultural, promovido por padrões estéticos reforçados em redes sociais e academias tem levado muitos homens a tomarem caminhos perigosos em nome da aparência. Entre os recursos mais surpreendentes e arriscados está o uso de medicamentos originalmente indicados para tratar disfunção erétil como forma de impulsionar o desempenho físico e acelerar o ganho de massa muscular.Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos) revelam que, em 2023, dois dos medicamentos mais vendidos no país foram a sildenafila – popularmente conhecida como Viagra – e a tadalafila, comercializada como Cialis. Ambas as substâncias estão entre os genéricos mais consumidos, ainda que não sejam indicadas para uso com fins estéticos ou de melhora atlética.CONTEÚDO RELACIONADOConfira quatro bebidas que podem afetar o coraçãoVeja os sintomas menos comuns da deficiência de vitamina B12Cientistas descobrem fator de risco para aumento da urticária crônicaApesar de pertencerem à mesma classe de fármacos – os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5) – e apresentarem efeitos similares no organismo, como a vasodilatação e o relaxamento da musculatura peniana, essas substâncias vêm sendo utilizadas de forma inadequada em academias e ambientes de musculação. A motivação: a crença equivocada de que podem auxiliar no aumento de massa muscular.Quer saber mais notícias de saúde? Acesse o canal do DOL no WhatsApp.FALTA DE COMPROVAÇÃO CIENTÍFICAO urologista Ricardo Vita, doutor pela Faculdade de Medicina da USP e integrante da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), é enfático ao condenar essa prática. “Hoje a tadalafila tem sido usada por fisiculturistas e pessoas que querem melhorar o desempenho muscular, mas não existe evidência científica séria que suporte essa melhora do desempenho físico com uso da tadalafila, por mais que ela tenha um efeito vasodilatador”, alerta.Segundo ele, a popularização desses medicamentos fora do ambiente médico tem sido impulsionada por campanhas publicitárias enganosas e fórmulas milagrosas divulgadas na internet, muitas vezes sem qualquer regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “É preciso atentar-se especialmente para os anúncios de fórmulas para melhorar a performance sexual na internet, pois em geral esses medicamentos não são controlados pela Anvisa, portanto é impossível saber quais substâncias eles contêm”, reforça o médico.RISCO DE COMPLICAÇÕES SÉRIASInicialmente desenvolvidos para tratar a disfunção erétil – um problema que limitava as opções terapêuticas até os anos 2000 -, os inibidores de PDE5 atuam facilitando a circulação sanguínea no pênis, promovendo ereções mais firmes e duradouras. “Esses medicamentos estão indicados para homens que têm disfunção erétil, que não conseguem obter uma ereção satisfatória para penetração ou que não consigam manter a ereção durante todo o intercurso sexual”, explica Vita.O uso sem prescrição, no entanto, pode trazer sérias complicações. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão dor de cabeça, rubor facial, congestão nasal e dores musculares. Há ainda relatos de perda súbita de visão e audição. E os riscos aumentam para quem tem condições pré-existentes, como problemas cardíacos, hepáticos ou renais.”A contraindicação mais absoluta são os homens que usam nitratos, que são substâncias que podem baixar muito a pressão e que, usadas em conjunto com essas drogas, podem causar um risco de hipotensão grave”, esclarece o especialista. Ele ainda acrescenta que pacientes com quadros clínicos mais delicados devem passar por uma avaliação médica rigorosa antes de considerar qualquer uso.Um dos riscos mais graves é o priapismo — uma ereção prolongada e dolorosa que, se não tratada rapidamente, pode levar à isquemia peniana e até à necrose do tecido. A ilusão de que a vasodilatação provocada por esses fármacos possa se traduzir em ganhos atléticos pode, na verdade, colocar a saúde do usuário em risco.
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