Israelenses em alerta

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin NetanyahuATTILA KISBENEDEK

Um novo vídeo promocional da principal companhia aérea israelense, a El Al, aborda de forma bem-humorada o desconforto vivido atualmente pelos israelenses durante viagens ao exterior. No vídeo, o cantor Hanan Ben Ari, figura conhecida em Israel, viaja com um amigo e se vê em situações constrangedoras em diferentes contextos. Para os taxistas, evita dizer que é de Israel; em um jogo de futebol, esquece-se da regra de não torcer em hebraico; na Starbucks, fornece um nome que não revele sua identidade judaica.

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A trilha sonora reforça a mensagem afirmando que, na El Al, “podemos ser simplesmente nós mesmos, sem nos desculpar”.

Pois, veja só, essa é justamente a situação que judeus — e israelenses (tão facilmente identificáveis) — enfrentam atualmente pelo mundo: escondem sua identidade para evitar confrontos, constrangimentos ou até mesmo situações de risco real. E isso não é um exagero: basta lembrar o pogrom ocorrido em Amsterdã, em novembro de 2024 (veja aqui), ou o episódio recente em que o ex-primeiro-ministro Naftali Bennett foi agredido verbalmente por manifestantes pró-palestinos durante uma palestra na Princeton University, nos Estados Unidos (assista aqui).

O ex-primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett.Photo/JTA-Yonatan Sindel-Flash90

De forma muito semelhante (ainda que menos ostensiva, por ora) ao que ocorreu na Europa nos anos 1930, judeus agora checam com cuidado a cidade de destino e procuram “disfarçar-se” o suficiente para manter uma distância segura daqueles que os hostilizam — no passado, por causa de sua religião; hoje, alegadamente, por causa da guerra entre Israel e Gaza.

O globo diminuiu de tamanho

Uma tradição entre os jovens israelenses é fazer uma longa viagem após o serviço militar — dois anos para mulheres e três para homens. Os destinos preferidos são, geralmente, Ásia e América do Sul, por serem mais acessíveis financeiramente. Antes, era também uma oportunidade de integração com outros viajantes. Hoje, não mais: o receio quanto à reação alheia ao saber que se tratam de jovens que serviram na guerra em Gaza fala mais alto.

Para outros públicos, o globo também ficou menor desde o início do conflito. Além dos países que proíbem a entrada de israelenses — como Maldivas, Malásia e Catar —, há agora destinos onde manifestações de antissemitismo se tornaram tão evidentes que simplesmente não vale o risco. Em cidades como Londres ou Paris, turistas judeus evitam usar símbolos religiosos ou falar hebraico em público.

Portanto, o vídeo da El Al capta com precisão o sentimento atual do judeu no mundo: cautela, estranhamento e, muitas vezes, medo. Uma realidade bem distinta da vivida por cidadãos de outros países em guerra, como a Ucrânia, a Rússia ou o Congo, que, em geral, não enfrentam esse tipo de hostilidade por sua nacionalidade.

Isso não é antissionismo: é antissemitismo em sua forma mais explícita.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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