Atendimentos de pessoas com intoxicação por abuso de remédios para dormir sobem 34,9% na Unicamp


Dados são de casos envolvendo benzodiazepínicos e não-benzodiazepínicos. CIATox alerta para risco maior quando há ingestão com álcool. Para neurologista, medicamentos como zolpidem podem causar dependência e uso recreativo em jovens. O uso racional de medicamentos é fundamental para a segurança do paciente e para a eficácia do tratamento
getty images
Os casos de intoxicações decorrentes de abuso de remédios para dormir aumentaram 34,9% no Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Universidade Estadual de Campinas (SP). Em 2023, foram 103 atendimentos do tipo realizados no Centro, número que subiu para 139 em 2024.
📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp
Os dados se referem ao abuso de medicamentos benzodiazepínicos, como o clonazepam, e hipnóticos não-benzodiazepínicos, como o zolpidem. O CIATox alerta para o alto potencial de abuso dessas medicações, que apresentam risco maior quando ingeridas com álcool. Veja abaixo.
Segundo a Dra. Tânia Marchiori, neurologista especialista em sono da Unicamp, medicamentos como o zolpidem podem causar dependência e levar ao uso recreativo em populações mais jovens. A orientação é buscar ajuda ao perceber a dependência, mesmo sem sinais de intoxicação.
Que medicamentos são esses?
De acordo com o CIATox, os medicamentos benzodiazepínicos são substâncias que atuam no Sistema Nervoso Central (SNC) e possuem atividade ansiolítica, ou seja, funcionam como sedativos, indutores do sono e relaxantes musculares.
Os não-benzodiazepínicos possuem estrutura química diferente mas têm funções semelhantes: também exercem efeitos sedativos, ansiolíticos, induzem o sono e atuam como relaxantes musculares e anticonvulsivantes.
Nos dois casos, a principal toxicidade está associada à depressão do Sistema Nervoso Central, o que consiste em deixá-lo menos ativo. O risco aumenta quando esses remédios são ingeridos junto de álcool ou outras substâncias depressoras.
Aumento de casos
Dados do CIATox apontam um aumento no número de casos de intoxicações atendidos por conta do abuso de medicamentos benzodiazepínicos e não-benzodiazepínicos, usados como remédios para dormir.
Os atendimentos do tipo no Centro subiram de 103, em 2023, para 139 em 2024, o que representa alta de 34,9%.
Em 2025, entre os meses de janeiro e março, 48 casos de intoxicações causadas pelo abuso dessas medicações já foram atendidos.
Número de casos de intoxicações causadas por abuso de remédios para dormir atendidos pelo CIATox-Campinas
Alto potencial de abuso
Em nota, o CIATox reforçou a importância de que pacientes sejam orientados quanto ao uso seguro dessas medicações. A recomendação é que os remédios sejam utilizados exclusivamente sob prescrição e supervisão médica, seguindo a dose indicada de forma rigorosa.
“O consumo concomitante com bebidas alcoólicas ou outras substâncias depressoras do SNC deve ser absolutamente evitado, uma vez que pode resultar em depressão respiratória grave, coma e até óbito”, informa o alerta.
Segundo a Dra. Tânia Marchiori, os dois tipos de remédios podem causar dependência, diferente do que já foi difundido sobre os remédios não-benzodiazepínicos.
“Havia uma propaganda de que essas medicações eram melhores, só que não tinha estudos em tão longo prazo. Hoje, já percebemos que eles têm, sim, um potencial de causar dependência, tolerância, abuso e, inclusive, o uso recreativo em populações mais jovens”, explica Marchiori.
A médica ressalta que o abuso tem se tornado um problema grave, mesmo que não haja sinais de intoxicação. A orientação da neurologista é que o paciente busque ajuda quando perceber que está aumentando a dose e/ou a quantidade do medicamento por estar precisando de uma dose maior para obter o efeito dele.
“Um dos problemas é a dependência e o abuso, quando o indivíduo passa a usar a medicação de forma contínua e em quantidades por vezes crescentes. Já estar dependente e em abuso é um problema grave que vivemos nos dias atuais”, afirma.
Possíveis causas
De acordo com Marchiori, parte do problema pode estar relacionada à “pressa” para se dormir e a busca por soluções imediatas.
“Parece que, nos dias de hoje, as pessoas não têm mais a paciência de esperar o adormecer. O adormecer natural não é um processo súbito, a menos que a gente esteja cansado e privado de sono. Muitas pessoas desenvolvem a dificuldade para dormir ou não sabem que precisam de outro tipo de tratamento, que elas precisam parar de tomar café em excesso, elas precisam parar de ir jantar 22h para dormir às 23h, que precisam tratar a ansiedade delas. Elas simplesmente querem dormir”, avalia a neurologista.
Porém, o uso dos remédios para dormir, principalmente de medicamentos não-benzodiazepínicos, não está apenas associado ao tratamento de problemas do sono, como observa Marchiori.
“Casos de dependência [de não-benzodiazepínicos] foram cada vez mais vistos, inclusive de abuso, não só para a tentativa de tratar sono, mas até mesmo para uso recreativo, inclusive em populações mais novas. Eles usam muitas vezes, durante o dia, ou para ir em festas, para consumir junto com álcool”, alerta.
VÍDEOS: Tudo sobre Campinas e Região
Veja mais notícias da região no g1 Campinas
Adicionar aos favoritos o Link permanente.