Setor automotivo reage ao tarifaço de Trump contra China e México; tensão pode chegar às montadoras do Brasil

O mercado automotivo sul-americano atravessa uma fase de reconfiguração, impulsionada por decisões de política comercial vindas dos Estados Unidos. A imposição de tarifas adicionais sobre veículos importados, adotada recentemente pelo governo Trump, causou impacto direto nas exportações do México para os EUA. O Brasil, por sua vez, pode se tornar um destino alternativo para esse excedente, devido ao acordo de livre comércio em vigor com o país vizinho.

Pontos Principais:

  • Tarifas dos EUA devem redirecionar veículos mexicanos ao Brasil.
  • Investimentos podem sair do Brasil e Argentina para o México.
  • Importações da China cresceram 25,1% no trimestre.
  • Exportações do Brasil subiram 40,6% com destaque para a Argentina.
  • Setor criou 8,1 mil empregos diretos em um ano, segundo a Anfavea.
  • Montagem local de veículos chineses pode reduzir valor agregado.

Essa nova dinâmica tem gerado inquietação entre fabricantes instalados na América do Sul. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) destaca que o aumento nas tarifas norte-americanas reduz a atratividade de investimentos em países como Brasil e Argentina, redirecionando recursos para plantas já estabelecidas no México, que passam a operar com maior capacidade ociosa.

Importações da China crescem e preocupam a Anfavea, que vê risco à geração de empregos e à cadeia produtiva, especialmente com o avanço de montagens CKD e SKD no país.
Importações da China crescem e preocupam a Anfavea, que vê risco à geração de empregos e à cadeia produtiva, especialmente com o avanço de montagens CKD e SKD no país.

A reconfiguração das rotas comerciais e dos fluxos de exportação, associada a fatores como demanda interna, capacidade fabril e políticas fiscais, está moldando o cenário de maneira rápida e incerta. A movimentação de veículos entre países, tanto na importação quanto na exportação, revela tendências que impactam diretamente emprego, produção e decisões estratégicas no setor.

Impacto das tarifas americanas na indústria regional

O governo dos Estados Unidos anunciou a aplicação de tarifas sobre veículos importados de diversos países, afetando em especial o México. O país latino-americano, que produziu cerca de 3,2 milhões de unidades para o mercado norte-americano em 2024, agora se vê diante da necessidade de redistribuir esse volume para mercados alternativos.

  • Casa Branca oficializa cobrança de tarifas de 104% sobre a China; Veja como isso pode influenciar o mercado automotivo
  • Elon Musk dispara: “Mais burro que um tijolo”, revelando atrito direto com assessor de Trump em nova troca de farpas públicas nas redes sociais
  • O que eu tenho a ver com isso? Como as novas tarifas de Trump podem afetar você e o mercado de automóveis no Brasil e no mundo

Com o Brasil entre os parceiros comerciais do México por meio de acordos de livre comércio, há uma expectativa de aumento das exportações mexicanas ao território brasileiro. Segundo a Anfavea, isso pode resultar em uma concorrência direta com a produção local, redirecionando investimentos que antes seriam feitos em território brasileiro.

O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, aponta que a tendência é que empresas com operações nos EUA, México e Brasil priorizem o uso da capacidade instalada no México, o que afetaria diretamente os planos de ampliação ou construção de fábricas em outras nações sul-americanas.

Consequências para o Brasil e a América Latina

A possibilidade de uma migração de investimentos representa uma ameaça para a consolidação da indústria automotiva no Brasil. De acordo com a Anfavea, a medida pode desestimular novos aportes e limitar a expansão da cadeia produtiva, especialmente em um momento em que o setor vinha registrando recuperação gradual.

Além disso, o cenário global de incerteza econômica e comercial pressiona as montadoras a otimizar seus custos e redirecionar recursos com base em viabilidade e retorno. Nesse sentido, fábricas brasileiras podem perder espaço para instalações mexicanas, que buscarão novas alternativas de mercado diante da queda nas exportações aos EUA.

A própria demanda mundial por veículos pode sofrer retração com o impacto das tarifas. Os efeitos projetados pela Anfavea incluem elevação dos preços nos Estados Unidos, com variações estimadas entre US$ 3 mil e US$ 12 mil, além do risco de desaceleração na transição para veículos elétricos e híbridos.

Desdobramentos nas importações chinesas e seus reflexos

Outro ponto de atenção destacado pela Anfavea diz respeito ao crescimento das importações de veículos chineses. No primeiro trimestre de 2025, a China respondeu por 28% das importações brasileiras, atrás apenas da Argentina, com 47%. O México aparece em seguida, com 7%, seguido por Alemanha, Uruguai e Tailândia.

Esse aumento no volume de veículos oriundos da China levanta preocupações relacionadas ao impacto sobre a geração de empregos no Brasil. Segundo a entidade, foram criados 8,1 mil novos postos diretos em um ano, elevando o número de empregados de 101,4 mil em março de 2024 para 109,5 mil no mesmo mês de 2025.

Entretanto, o avanço de práticas como a montagem local em esquema CKD (completely knocked down) e SKD (semi-knocked down) por parte de fabricantes chineses pode reduzir significativamente os benefícios industriais desses investimentos, ao gerar pouco valor agregado na cadeia nacional.

Dados atualizados da produção e exportação

Apesar dos desafios, o setor automotivo brasileiro registrou crescimento de 8,3% na produção no primeiro trimestre de 2025, com 582,9 mil unidades fabricadas, frente a 538 mil no mesmo período do ano anterior. Ainda assim, março apresentou retração de 12,6% em relação a fevereiro, com produção de 190 mil veículos.

A queda no mês foi atribuída à adequação dos estoques, que estavam em níveis superiores ao ideal. Além disso, a desaceleração nas exportações contribuiu para o recuo temporário da produção. Em março, foram exportadas 38,9 mil unidades, contra 48 mil em fevereiro, representando uma retração de 19%.

No acumulado do trimestre, porém, as exportações avançaram 40,6%, somando 115,6 mil unidades. O principal fator desse crescimento foi a recuperação do mercado argentino, que registrou aumento de 120% nos emplacamentos de veículos brasileiros, acompanhado de alta na demanda de países como Colômbia e Chile.

O papel da Argentina e tendências futuras

A Argentina desempenha papel central na dinâmica de exportação brasileira. Com capacidade para absorver cerca de 500 mil unidades por ano, o país vizinho é o principal destino dos veículos produzidos no Brasil. O aumento da demanda em solo argentino ajuda a mitigar os efeitos negativos das oscilações nos mercados globais.

Combinado ao crescimento das exportações para outros países da América do Sul, esse movimento pode contribuir para sustentar os níveis de produção nacional, ao menos no curto prazo. No entanto, a longo prazo, a tendência é que o Brasil enfrente maior competição tanto de produtos mexicanos quanto chineses.

Frente a esse cenário, a Anfavea alerta para a necessidade de políticas públicas que protejam a indústria nacional, estimulem a produção local e evitem a perda de protagonismo da cadeia automotiva brasileira no continente.

Fonte: G1, Bbc, Cbn e CNN.

O post Setor automotivo reage ao tarifaço de Trump contra China e México; tensão pode chegar às montadoras do Brasil apareceu primeiro em Carro.Blog.Br.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.