20% + 34% + 50%: entenda a taxação de 104% dos EUA sobre as importações da China

A partir de 0h (de Washington D.C.) desta quarta-feira, 9, começa a valer a taxação de 104% nos Estados Unidos sobre as importações da China. A confirmação foi feita na tarde desta terça-feira, 8, pela porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt.

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A tarifa é mais uma resposta de Trump à decisão da China de retaliar a tarifa adicional anunciada na semana passada, não apenas para a China, como para outros países, e que está prevista para entrar em vigor para todos a partir do primeiro horário desta quarta.

Após a confirmação da nova taxação, as ações dos EUA recuaram com a notícia. Os mercados globais haviam registrado ganhos anteriormente, na esperança de que Trump pudesse estar disposto a negociar a redução da série de barreiras comerciais específicas para países e produtos que ele está erguendo em torno do maior mercado consumidor do mundo.

No Brasil, o dólar intensificou a alta e chegou a ser cotado a R$ 6. No Ibovespa a reação também foi negativa e acelerou a queda do índice para quase 1,5%.

As tarifas adicionais, não são apenas direcionadas à China, valem também para outros países, conforme anunciado por Trump na semana passada. Mas elas são especialmente altas para a China, já que Trump aumentou as tarifas sobre suas importações para 104% em resposta às contra-tarifas que Pequim anunciou na semana passada. A China se recusou a ceder ao que chamou de “chantagem” e prometeu “lutar até o fim”.

Por que 104%?

Em 2 de abril, Trump estabeleceu 10% de tarifa básica adicional a alguns países, entre eles o Brasil, e outros vizinhos da América Latina, como Argentina e Colômbia. Essa tarifa entrou em vigor no último sábado, 5 de abril. Já outros países foram taxados com diferentes percentuais, conforme a relação comercial avaliada pela Casa Branca, que alegou ter definido o valor baseado em déficits dessa relação, sem apresentar as contas. Essas novas tarifas, entre 10% e 50%, foram planejadas para começar a valer em 9 de abril.

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Para a China foi definida uma tarifa adicional de 34%. Contudo, o país já havia sido sobretaxado em 10% em 1º de fevereiro. O país asiático respondeu com mais tarifas para produtos americanos, como 15% sobre carvão e GNL, 10% sobre petróleo, máquinas agrícolas, veículos grandes e picapes, além de ter restringido as exportações de 25 itens de terras-raras.

A guerra tarifária escalou e em 3 de fevereiro os EUA ampliaram a taxação para 20%. A China voltou a contra-atacar – no campo comercial – e anunciou tarifas de até 15% sobre produtos agrícolas como carne, frango, soja, trigo, milho, e laticínios. Ainda estabeleceu mais 10% de tarifas sobre carne suína, pescados, frutas e vegetais.

E então, quando no dia do tarifaço Trump anunciou mais 34% de tarifa, a China voltou a responder com mais tarifas. Trump ameaçou com mais 50% de taxas se o país não recuasse em suas novas tarifas, o que não ocorreu e, assim, a Casa Branca confirmou a nova tarifa total de 104% a partir de amanhã.

Negociações

O governo americano diz que o presidente Trump está agindo para iniciar rapidamente negociações com outros parceiros comerciais visados pelo plano tarifário.

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A Casa Branca diz que agendou conversas com a Coreia do Sul e o Japão, dois aliados próximos e grandes parceiros comerciais, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, deve fazer uma visita na próxima semana.

No entanto, a Casa Branca deixou claro que as tarifas específicas de cada país, de até 50%, seguem planejadas para entrar em vigor às 00h01 (01h01 pelo horário de Brasília).

As autoridades do governo Trump disseram que não dariam prioridade às negociações com a segunda maior potência econômica do mundo.

“Neste momento, recebemos a instrução de priorizar nossos aliados e parceiros comerciais, como o Japão, a Coreia e outros”, disse o assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, na Fox News.

A Casa Branca disse que Trump instruiu sua equipe comercial a criar acordos “sob medida” para os quase 70 países que entraram em contato para conversações.

O principal negociador comercial de Trump, Jamieson Greer, disse ao Congresso que sua equipe está tentando trabalhar rapidamente, mas não tem um prazo específico.

“O presidente deixou claro, mais uma vez, que não está fazendo isenções ou exceções no curto prazo”, disse Greer aos parlamentares.

A China está se preparando para uma guerra de atrito, e produtores estão fazendo alertar sobre lucros e procurando planejar novas fábricas no exterior. Citando o aumento dos riscos externos, o Citi reduziu sua previsão de crescimento do PIB da China em 2025 de 4,7% para 4,2%.

Algumas empresas estão alertando que aumentarão os preços.

A fabricante de chips Micron disse a clientes que adotará uma sobretaxa relacionada às tarifas a partir de quarta-feira, enquanto os varejistas de roupas dos EUA disseram que estão atrasando os pedidos e adiando as contratações.

Os tênis de corrida fabricados no Vietnã, que hoje são vendidos no varejo por US$ 155, custarão US$ 220 quando a tarifa de 46% imposta por Trump a esse país entrar em vigor, de acordo com um grupo do setor.

Os consumidores estão estocando enquanto podem. “Estou comprando o dobro de qualquer coisa – feijão, enlatados, farinha, o que for”, disse Thomas Jennings, 53 anos, enquanto empurrava um carrinho de compras pelos corredores de um Walmart de Nova Jersey.

Enquanto as duas maiores economias do mundo trocam golpes, o Ministério das Relações Exteriores da China classificou de “ignorantes e rudes” os comentários feitos pelo vice-presidente JD Vance em uma recente entrevista à Fox News.

Ao defender as tarifas de Trump, Vance criticou o modelo econômico dos EUA por prejudicar seus próprios trabalhadores: “Pedimos dinheiro emprestado aos camponeses chineses para comprar as coisas que esses camponeses chineses fabricam.”

O Vietnã solicitou um adiamento de 45 dias, enquanto a Indonésia anunciou concessões para as importações dos EUA, incluindo a redução de impostos sobre produtos eletrônicos e aço.

Os mercados de ações encontraram uma base mais firme na terça-feira, depois de alguns dias angustiantes para os investidores, o que levou alguns líderes empresariais, incluindo aqueles próximos a Trump, a pedir ao presidente que reverta o curso.

As ações europeias se recuperaram das mínimas de 14 meses após quatro sessões consecutivas de fortes vendas, enquanto os preços globais do petróleo se estabilizaram depois de cair para as mínimas de quatro anos.

Os principais índices de Wall Street haviam registrado ganhos no início do dia, mas caíram depois que a Casa Branca disse que as tarifas sobre a China entrariam em vigor.

Europa busca contramedidas

A Comissão Europeia, por sua vez, está pensando em contratarifas de 25% sobre uma série de produtos norte-americanos, incluindo soja, nozes e salsichas, embora outros itens em potencial, como o uísque bourbon, tenham sido deixados de fora da lista, segundo um documento visto pela Reuters. As autoridades disseram que estão prontas para negociar.

O bloco de 27 membros está lutando com tarifas sobre automóveis e metais já em vigor, e enfrenta uma tarifa de 20% sobre outros produtos na quarta-feira. Trump também ameaçou impor tarifas sobre as bebidas alcoólicas da UE.

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