Pacientes enfrentam descaso e falta de remédios em Embu e Itapecerica da Serra

Uma moradora do bairro Chácara Itororó, em Embu Guaçu, na Grande São Paulo, teve o exame trocado na UBS (Unidade Básica de Saúde) Paulo Maneta e foi diagnosticada erroneamente com sífilis. A paciente, que preferiu não se identificar, relatou que procurou a unidade de saúde para realizar o pré-natal no primeiro trimestre da gravidez, no início de maio de 2024.

“Fui à UBS levar os exames para enfermeira checar. Fiquei na porta da cozinha onde ela estava, e ainda escutei piadinhas dela, dizendo que não ia me atender e que eu não aceitava que estava contaminada”, relata.

Ela também afirma ter sofrido ameaças por mensagem de texto após questionar o resultado do exame.

Situações como essa não fazem parte apenas da realidade de Embu Guaçu, mas também de municípios vizinhos como Embu das Artes e Itapecerica da Serra, na região metropolitana.

Nos últimos cinco meses, denúncias de atraso de consultas e salários atrasados dos profissionais de saúde se tornaram constantes nas três cidades.

Mulher recebeu diagnóstico errado na UBS Paulo Maneta @Rubens Rodrigues /Agência Mural

Em janeiro deste ano, uma moradora do bairro Engenho Velho, em Embu das Artes, afirma ter ido ao Pronto Socorro Central e não encontrar soro disponível para medicação.

De acordo com a embuense, na ocasião, os atendentes mantiveram os pacientes do lado de fora, pois o pronto socorro estava lotado e sem condições de administrar a medicação. “Tinha uma senhora que estava com a pressão muito baixa e ela foi embora, não conseguiram dar soro para ela, e ela saiu sem tomar a medicação”, afirma.

Diante das reclamações sobre filas de consultas e falta de medicamentos, a Câmara de Vereadores de Embu das Artes aprovou o projeto de lei 16/2025, que garante a transparência e a livre fiscalização dos atos e ações do serviço público municipal. Porém, a lei ainda não foi sancionada pelo prefeito, Hugo Prado (Republicanos).

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A situação de descaso se repete em Itapecerica da Serra. Um morador do bairro Valo Velho, que também não quis ser identificado, sofre de ansiedade e afirma que o medicamento Fluoxetina estava em falta nas unidades básicas de saúde em fevereiro. Ele precisou comprar o remédio que custa R$ 50.

O paciente também sofre com uma infecção na pele chamada foliculite seborreica e relata que tentou marcar um exame com o dermatologista da UBS Chácara Santa Maria, porém não teve previsão de agendamento.

O itapecericano recorreu ao serviço de saúde privado e chegou a desembolsar aproximadamente R$ 600 com consultas e remédios. “Tive que ir para o particular para que as coisas caminhassem”, conta.

A dificuldade em obter medicamentos também atinge idosos. A dona de casa Madalena da Silva Rodrigues, 74, moradora do bairro Cipozinho, em Embu Guaçu, sofre com insuficiência cardíaca grave e necessita do uso de medicamentos fornecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Em dezembro de 2024, os remédios Insulina e Hidroclorotiazida estavam em falta, com previsão de reposição do estoque para início de janeiro deste ano.

Pronto Socorro Central de Embu das Artes já lidou com falta de soro e superlotação @Thila Moura/Agência Mural

O jornalista Rubens Rodrigues, 31, é filho de Madalena e cobrou um posicionamento da ouvidoria pública por telefone no dia 17 de dezembro, mas não teve sucesso.

“A atendente me informou que não tinha como me ajudar, pois dependia da fornecedora. Informei que minha mãe não tinha condições de comprar o remédio e exigi falar com o responsável. Por ser fim de mandato, ela disse que não tinha mais ninguém trabalhando.”

Sem remédios

A Agência Mural tentou contato com as secretarias de Saúde de Itapecerica da Serra e Embu Guaçu, mas não obteve resposta até o momento da publicação desta matéria.

Além da falta de medicamentos, moradores também reclamam sobre a dificuldade de marcar consultas e o desabastecimento de insumos médicos nos serviços públicos de saúde. Esse é o caso do estudante de business partner Danilo Pires, 20, morador do bairro Jardim Magali, em Embu das Artes, que tentou marcar a retirada de quatro sisos entre janeiro e novembro de 2024.

Inicialmente, Danilo sentia muita dor e tentou agendar o procedimento com a UBS Central. Ele começou a ir na unidade básica de saúde no período da manhã, mas os atendentes alegavam que o caso dele não era urgente e que as vagas do dia já haviam sido preenchidas. Depois de várias tentativas frustradas, ele recorreu à UBS do Jardim Pinheirinho.

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Mesmo com a avaliação e o encaminhamento médico, Danilo teve dificuldades para marcar o procedimento por residir em outro bairro. Depois de cinco meses de espera, marcou a consulta mas foi informado de última hora que um aparelho médico havia sido quebrado. “Até iria passar no particular, mas no momento estou juntando o valor”, afirma o estudante.

Profissionais de saúde reclamam de demissões sem justificativas e falta de pagamentos @Thila Moura/Agência Mural

A Prefeitura de Embu das Artes afirmou que, no último quadrimestre, as unidades de urgência e emergência do município realizaram mais de 180 mil atendimentos, sem qualquer interrupção nos serviços prestados à população.

Diz também que o atendimento foi continuamente adequado e reforçado para atender à crescente demanda de casos suspeitos de dengue e Covid-19.

Atrasos de salários

No final de 2024, profissionais de saúde de Embu das Artes, Embu Guaçu e Itapecerica da Serra realizaram greves por atrasos de salários e verbas rescisórias.

Em Embu Guaçu, 17 médicos contratados pela empresa Medic Health entraram em greve depois de três meses de salários atrasados na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Cipó e na UMS (Unidade Mista de Saúde) do Jardim Emília.

Já em Embu das Artes, os profissionais de saúde do Irdesi (Instituto Riograndense de Desenvolvimento Social Integrado) se reuniram em frente ao Pronto Socorro Central após demissões sem justificativas e atrasos nas verbas rescisórias.

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Em Itapecerica da Serra a situação não foi diferente, profissionais contratados pelo Instituto Avante Social protestaram em frente ao Pronto Socorro Dr. Álvaro Fernandes.

Profissionais da saúde de Embu das Artes e Itapecerica da Serra, que preferiram não ser identificados, reclamam sobre condições de trabalho e de pagamento. Duas funcionárias da UBS Jd. São Marcos, em Embu das Artes, foram demitidas no dia 2 de dezembro de 2024 e até o momento não receberam o valor da rescisão. A prefeitura do município informou que os pagamentos estavam programados para ocorrer no dia 10 de março.

Uma funcionária do Pronto Socorro Dr. Álvaro Fernandes, em Itapecerica da Serra, revela que recebeu o valor da rescisão 12 dias após a data prevista. Em 11 de dezembro de 2024, a Autarquia da Saúde da cidade informou que estava em dia com os pagamentos efetuados pelo Instituto Avante Social e que tomaria as medidas cabíveis diante das notícias de possíveis atrasos.

Agência Mural

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