Lula precisa intensificar comunicação com evangélicos, diz Eliziane

A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), 48 anos, afirmou, em entrevista ao Poder360, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve intensificar a interlocução com os evangélicos.

Aliada do petista e evangélica, Eliziane disse ter aconselhado Lula a conversar mais com o grupo e disse acreditar que o presidente tem entendido o recado.

“Precisa conversar mais [com os evangélicos]. Falei para o presidente Lula, que me disse: ‘Eliziane, jamais vou usar a igreja como instrumento de barganha’. Falei: ‘presidente, não é isso. O senhor tem que chegar, sentar, reunir e falar de forma clara e transparente’. Ele passou a entender”, disse a senadora em 25 de março de 2025.

Segundo pesquisa PoderData, realizada de 15 a 17 de março, 7 em cada 10 evangélicos desaprovam o governo.

Eliziane Gama disse que “não há um outro nome posto” para substituir Lula nas eleições de 2026 e que o petista está consolidado para se reeleger.

Também falou que a direita está “perdida”, sem “uma definição específica de quem seria o candidato” apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Criticou ainda a permanência do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos e sua intenção de concorrer ao Senado em 2026: “Não se pode pensar: ‘Vou embora e depois volto e vou tentar ganhar uma eleição’. Não é bem assim”, declarou.

Eliziane Gama defendeu a votação do projeto para limitar os supersalários de funcionários públicos e da proposta de Flávio Dino que acaba com a aposentadoria compulsória para juízes que cometem falta grave, a qual relatará.

“Você comete uma fraude, um erro, algo que não deveria, e o que ganha? Um prêmio, uma aposentadoria. Isso não tem que ocorrer”, disse.

Assista à entrevista completa (27min05): 

Leia a trechos da entrevista com Eliziane Gama:

Poder360 – Já definiu se tentará a reeleição ao Senado em 2026?

Eliziane Gama – Vou para a reeleição. Devo ficar mais 1 mandato como senadora para trabalhar pelo meu Estado. Está muito claro pra mim. 

A lista de cotados para o Senado pelo Maranhão inclui nomes como o do governador Carlos Brandão (PSB), o do senador Weverton Rocha (PDT) e o da senhora, além do ministro dos Esportes, André Fufuca (PP). São duas vagas. Alguém vai ceder ou todos vão para a disputa?

Até podem todos ir para a disputa. Essa é a grande beleza do processo democrático. É absolutamente legítimo.

Mas estou muito otimista de que possamos, até a eleição do ano que vem, unificar nosso campo político e sair com uma chapa competitiva. Ter Carlos Brandão como candidato a senador. Espero ser a candidata a senadora ao lado do Brandão. E o vice-governador do Maranhão, Felipe Camarão [PT], como candidato a governador.

É uma chapa que, pelo curso normal, poderá prevalecer para 2026. 

Já conversou com Lula para um eventual apoio a seu nome? 

Estive com ele várias vezes sobre isso. Tenho recebido dele muita convicção do apoiamento ao nosso projeto. Faço parte da base de sustentação do presidente Lula, sou vice-líder do Governo no Congresso Nacional, então, tenho uma relação muito harmoniosa com ele. 

O presidente Lula não está discutindo o processo eleitoral, mas não tenho dúvida que ele nos apoiará na eleição de 2026.

As pesquisas mostram uma baixa popularidade de Lula com as mulheres e com os evangélicos. A senhora é mulher e evangélica. A que atribui a insatisfação dentro desses 2 grupos?

O processo de avaliação de popularidade tem suas instabilidades ao longo de 4 anos. Tem hora que você tem uma baixa popularidade, tem hora que você está com uma alta popularidade. 

Não basta hoje ser apenas um bom gestor, tem que mostrar que é um bom gestor. O presidente Lula, o governo, agora começou a reposicionar sua comunicação.

Vamos melhorar de forma significativa esses indicadores e acredito que a reeleição do presidente Lula será natural. 

O presidente Lula tem feito gestos importantes para as mulheres no Brasil. Foi o governo que mais teve ministras mulheres. Fez uma indicação da área militar de uma mulher, está hoje com uma mulher como a principal articuladora do governo federal, a ministra Gleisi Hoffmann [PT]

Da mesma forma em relação à questão evangélica. Houve muita fake news, de que ele fecharia igreja, de que imporia a qualquer custo o casamento homossexual.

Nada disso ocorreu. Lula tem um olhar muito importante para todos os grupos religiosos no Brasil.

Essa comunicação para o segmento evangélico é uma crítica que faço. Como falar com o segmento evangélico? Porque vai para uma linguagem, para um tipo de conversação.

É uma situação que precisa ocorrer em relação ao governo e que começou a ocorrer. Sou evangélica, nasci na igreja, sou filha de pastor, e vejo como o presidente Lula me trata.

Ele não instrumentaliza a fé, não usa a igreja como um instrumento para ganhar voto. Não tenta transformar os líderes evangélicos em cabos eleitorais. Se alguém tentou usurpar e danificar, trazer problemas para a imagem da igreja no Brasil, o presidente Lula não faz isso. 

Esse processo começa a se reverter e na eleição do ano que vem, acredito que estará de forma muito equilibrada e esse problema de falta de comunicação estará sanado. 

Acha que Lula precisa intensificar a comunicação com os evangélicos? 

Não há dúvida nenhuma, precisa intensificar, conversar mais. Uma vez, conversando com Lula, ele me disse: ‘Eliziane, jamais vou usar a igreja como instrumento de barganha, jamais vou chamar um pastor para passar a imagem de que estou usando a igreja em benefício próprio’. 

Eu falei: ‘Presidente, não é isso. O senhor não pode, não deve fazer isso. Mas o senhor tem que chegar, sentar, reunir e falar de forma clara e transparente’. E ele passou a entender.

Essa conversa, essa aproximação, desmistifica uma série de mentiras, de fake news, que foram proliferadas de forma criminosa. Eu mesma sofri, dentro do espaço evangélico, de pessoas que dizem: ‘Eliziane vota no Lula, está fora da igreja, não comunga mais com os princípios evangélicos’. Não existe nisso, sempre estive nesse campo.

Temos um Estado laico. A relação entre igreja e Estado tem que acontecer de forma harmoniosa.

Dados apontam que somos 35% da população brasileira. E alguns chegam a dizer que até 2040 nós poderemos chegar à metade da população brasileira.

Esse tipo de sentimento está na cabeça do presidente Lula e está sendo desmistificado. O que estamos vivenciando hoje na igreja evangélica é bem diferente do que vivenciamos há 2 anos, no início do governo Lula. 

Caso o Lula escolha não concorrer à reeleição, quem seria um bom nome para substituí-lo? E vai apoiar automaticamente o nome escolhido por ele?

Lula faz um grande governo. Hoje, tenho plena convicção que vai para a reeleição e que ganhará a eleição. É prematuro fazer a citação de qualquer outro nome se estamos com um cenário praticamente definido. E o cenário definido que temos hoje é o presidente Lula concorrendo à reeleição em 2026. 

Não temos outro nome posto para dizer: ‘Este nome vai derrotar Lula ou poderá substituir Lula’. O presidente Lula está bem consolidado.

Jair Bolsonaro mantém a afirmação de que será candidato em 2026, mesmo inelegível. Como avalia a estratégia? 

Está no papel dele. Está inelegível por 8 anos, estabelecido pela Justiça Eleitoral. Está no papel dele de criar combustível e de alimentar um espaço que tenta segurar a todo custo, que diminuiu muito, muito. Basta ver as manifestações feitas.

A manifestação mais recente, referente a um projeto de anistia no Congresso Nacional, não deu 10% ou 5% do que chegou a movimentar quando era presidente da República. Caiu de forma significativa.

Ele está inelegível, não é candidato. O campo da direita acabou se dividindo muito. Aparecem vários nomes que vão e voltam. Então, há muita instabilidade, uma direita meio perdida, sem uma definição específica de quem seria o candidato apoiado pelo ex-presidente Bolsonaro. 

É claro que o ex-presidente Bolsonaro é uma figura nacional. Ainda tem uma força importante na sociedade. Mas não se compara com o elemento que vai disputar o processo eleitoral em relação ao presidente Lula.

Pode até ser que surja um outro nome da direita daqui a 1 ano e meio. Neste momento, não acredito. 

Seu partido, o PSD, tem a maior bancada do Senado, com 14 senadores. O PL de Bolsonaro também tem 14. A direita tem dito que fará uma ofensiva para conseguir maioria no Senado e avançar sobre cadeiras do centro, incluindo, o PSD. Como avalia essa intenção? 

O processo eleitoral se faz também pela fala. As pessoas falam o que querem. Se ele quer fazer algum movimento, tem de criar um sentimento. 

Eles querem se concentrar no Senado, porque é lá que se faz avaliação de impeachment de membros do Supremo Tribunal Federal. Mas não acredito que vá acontecer.

Hoje, Lula tem um apoio significativo [no Senado]. Há uma cristalização de uns 55 votos. Eles [oposição] têm de fazer esse movimento, mas não acredito que terão resultados positivos. 

Flávio Bolsonaro já é senador. Eduardo Bolsonaro foi para os Estados Unidos e quer tentar uma vaga no Senado, tal como Michelle Bolsonaro. Se conseguirem, como ficará o clima?

O eleitor define quem deve ser melhor para o representá-lo no Congresso Nacional. Óbvio que, se escolhidos, integrarão o Congresso legitimamente. Não é algo que nos amedronta, em hipótese nenhuma, porque hoje já temos esse Senado.

Há um nível de contradição impressionante. Ao mesmo tempo em que um parlamentar defende o patriotismo, vai embora daqui, sabe-se lá por qual razão.

Diz que vai embora e depois volta para ter o voto do povo brasileiro. Ele não pode subestimar dessa forma o eleitor. Temos um nível de criticidade muito grande.

Não se pode pensar: ‘Vou embora e, depois, volto e vou tentar ganhar uma eleição’. Não é bem assim. Eles têm que ter muito cuidado. Talvez esse movimento que estejam falando não seja o resultado que esperam.

O Congresso discutirá ao longo do ano vários projetos da pauta econômica, inclusive, o que aumenta a isenção do imposto de renda para salários de até R$ 5 mil. Vão ser analisados com facilidade?

O projeto de imposto de renda chegou muito bem ao Congresso. São 10 milhões de brasileiros que serão beneficiados de forma direta.

Ninguém é contra reduzir tributação para a população de baixa renda ou de renda média. Acho que o Congresso Nacional não votará contra.

O que Lula está fazendo neste momento é justiça tributária. É equilibrar, é diminuir o fosso da desigualdade social. De forma geral, não teremos dificuldade de aprovar. 

Outro projeto que deve ser discutido é o dos supersalários. O Congresso vai conseguir reunir forças para combater os benefícios do Judiciário?

É um grande desafio. Está na hora de enfrentarmos isso. O Senado começa a enfrentar. Inclusive, fui designada relatora de um projeto de lei que é do então senador Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, que acaba com a aposentadoria compulsória para juízes que cometem falta grave.

Você retira do ordenamento jurídico esse instrumento e coloca que o magistrado que cometeu falta grave vai ser punido. Ele não pode ser beneficiado. Você comete uma fraude, um erro, e o que você ganha? Um prêmio, uma aposentadoria.

Isso não tem que ocorrer. Não pode existir na sociedade brasileira um poder intocável, um mais, outro menos. O Estado democrático de direito é uma junção de 3 poderes autônomos, harmônicos e isonômicos. São iguais.

E o magistrado, ou os membros do Ministério Público Federal, e os militares, não podem ser uma casta superior. Há bons e maus em todos os lugares. Então, você tem que retirar aquele que comete algo ruim para proteger a instituição. 

A Constituição Brasileira estabelece teto. Se eu, como parlamentar, tenho teto, todo mundo tem que ter teto. O Judiciário tem que ter teto, a área militar tem que ter teto.

Esses penduricalhos não podem ser assegurados. Porque, quando você cria uma sobreposição, você fratura esse Estado democrático de direito. Combater supersalários faz parte dessa isonomia.

Há também na CCJ um projeto para pedir um plebiscito sobre aborto. A maioria dos signatários é de direita, mas a senhora assinou. Por quê? 

Fazemos a assinatura para abrir o debate dentro do Congresso Nacional.

Agora, temos uma legislação robusta, equilibrada e que não se pode abrir espaços para qualquer tipo de alteração. A alteração desse tipo de lei não ajuda, só prejudica. Levamos anos a fio para construir o que temos hoje. O que precisamos é criar outros instrumentos de proteção à mulher, às crianças

O momento em que estamos vivenciando é de maior equilíbrio social, maior equilíbrio econômico. A pauta não deve ser essa [aborto]. A pauta é econômica, para fazer o Brasil crescer.

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