Machado de Assis obrigatório na Unicamp: entenda resgate de clássicos da literatura em lista para vestibular


Para Comvest, nova lista reforça “compromisso com a formação do público leitor”, além de ampliar repertório, inclusive o musical, dos candidatos. Com obras obrigatórias, Unicamp busca formar um público leitor: “o aluno que lê literatura pensa melhor”.
Pedro Amatuzzi/g1
A lista de leituras indicadas para candidatos ao vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apresenta, pela primeira vez, repetição de obras que já caíram em provas anteriores. Entre elas, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, autor sempre cobrado nas provas.
O romance viralizou nas redes sociais depois que a escritora e podcaster americana Courtney Henning Novak leu o livro em um desafio e relatou sua nova “obsessão” por Machado de Assis na internet.
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Para Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), nova lista reforça “compromisso com a formação do público leitor”, além de ampliar repertório, inclusive o musical, dos candidatos.
José Alves de Freitas Neto, diretor da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest), explica que a prova do vestibular da Unicamp trata da leitura sobre as obras indicadas como exigência obrigatória, e não de escolas literárias.
“Nesse sentido, tudo que nós pretendemos é formar um público leitor. Temos a expectativa de que esse público leitor se desenvolva porque acreditamos que o aluno que lê literatura pensa melhor”, avalia.
Resgate de obra de Machado de Assis
Publicado em 1881, o romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é, segundo a banca, um divisor de águas na obra de Machado de Assis e na própria literatura brasileira do século XIX.
Além disso, José Alves avalia o retorno da obra ao Vestibular como “compromisso com a qualidade literária”.
“Sempre tem Machado de Assis no nosso vestibular. E eu considero que algumas obras têm um nível de exigência muito alto, que talvez ela seja para especialista e não para o estudante de ensino médio. Eu me refiro, por exemplo, tivemos alguns anos atrás crônicas de jornais chamadas ‘Bons Dias’. Elas são excelentes, mas ficava muito difícil imaginar um estudante do século XXI lendo crônicas de jornal no século XIX, no Rio de Janeiro, às vésperas da proclamação da República e da abolição da escravidão. Tem uma importância histórica esses documentos, mas eles não são a melhor qualidade do texto de Machado de Assis. Então, nesse sentido, o nosso compromisso é a qualidade literária”, explica o diretor.
Para o professor de redação e literatura do Colégio Oficina do Estudante, André Barbosa, a “importância canônica [de Machado de Assis] passa a conviver com obras de gêneros e autores bem distintos, vários deles atualíssimos (Ailton Krenac e Chimamanda Ngozi Adichie são exemplos deste último grupo)”.
Outra obra que retorna à lista é “O Quinze” de Raquel Asso. “Nós consideramos que são autores muito importantes e o vestibular tem que ter o compromisso com a formação do público leitor. O fato de cair essa obra há 10 anos, 15 anos… é um outro momento de fazer perguntas sobre elas”, afirma.
Ampliação do repertório musical
A partir do próximo ano, canções do compositor e poeta brasileiro Paulo César Pinheiro também farão parte do Vestibular da Unicamp. Entre as composições escolhidas, estão “Canto das três raças” e “Viagem”.
“O importante é o lirismo, tanto que [as músicas] são classificadas na área de poesia. O lirismo que tem nessas músicas, músicas gravadas por cantores muito importantes, como Dori Caymmi, Sueli Costa, Edu Lobo. Tudo isso são composições e canções que fizeram muito sucesso e é importante que os candidatos também conheçam para ampliar o seu repertório musical”, afirma José Alves.
Para o professor Barbosa, a presença de músicas de Paulo César Pinheiro nas provas para ingressar na Universidade não surpreende no que diz respeito ao gênero.
“Antes dele, o sambista Cartola figura com uma série de grandes canções escolhidas, as quais, por sua vez, ocupam o espaço que também já foi do disco ‘Sobrevivendo no Inferno’, dos Racionais MC’s”, relembra.
Clássicos e literatura estrangeira
Para os próximos anos, a Unicamp também indica como obrigatória a leitura de um conto do colombiano Gabriel García Márquez – Prêmio Nobel de Literatura em 1982.
“Um moderno clássico internacional – o colombiano Gabriel García Márquez integra a lista, mas não com uma de suas obras mais famosas: a opção recai sobre ‘Os funerais da mamãe grande’, livro relativamente pouco divulgado no Brasil”, comenta o professor Barbosa.
O motivo da escolha dessa obra menos conhecida é que a leitura pode ser de mais fácil acesso, segundo José Alves. “Nós temos que ter uma adequação para que o candidato tome o gosto e não ojeriza pela leitura. Por isso a escolha de um conto do Gabriel García Márquez, que tem todas as características principais que estão na sua obra máxima, que são ‘Cem Anos de Solidão'”, comenta.
Além de valorizar a literatura latino-americana, a lista também tem representação da literatura africana com o livro “Chá do príncipe”, de Olinda Beja, natural de São Tomé e Príncipe.
“Apresentar autores clássicos que fazem parte do repertório da literatura e também sempre trazer inovações, apresentar novos autores, ter a perspectiva de você produzir no público que presta vestibular o gosto pela leitura. Esse é o nosso principal intuito”, relata.
Com a lista, o professor Barbosa avalia que fica clara a necessidade de se interpretar os livros e canções fazendo relações entre elas e com a história e a política.
“Espera-se que o candidato saiba ler cada obra como produto de um contexto histórico e político – e também como possível ponte de intertextualidade, ou seja, de diálogo com outras obras. É essencial (ou, no mínimo, recomendável) a leitura integral dos livros e a audição das canções”, afirma o professor.
Nova lista não impacta Vestibular 2026
A Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) anunciou nesta terça-feira (25) as novas listas de leituras indicadas para estudantes para os próximos três anos, a partir do Vestibular 2027.
A cada ano são indicadas nove obras para leitura, sendo sempre três novas em relação ao anterior. O objetivo da divulgação com antecedência é permitir o planejamento às escolas e que os vestibulandos tenham um tempo maior para se preparar para as provas.
As listas não impactam o Vestibular 2026, cujo calendário foi divulgado nesta segunda-feira (24) e que exigirá dos candidatos as mesmas obras de 2025. A relação completa pode ser consultada no site da Comvest.
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